Coca Cola se comprometeu com embalagens reutilizáveis – e mudou de ideia
A promessa nasceu do ativismo dos acionistas, mas tem sido substituída por metas mais modestas em alguns mercados
Apesar da crescente vigilância do público e dos desafios legais sobre o uso de plástico, a Coca-Cola parece estar retrocedendo na sustentabilidade de suas embalagens. A gigante dos refrigerantes prometeu reduzir o uso de plástico virgem e aumentar a proporção de suas bebidas vendidas em recipientes reutilizáveis.
No entanto, em uma postagem recente no blog da empresa, ela discretamente deixou de lado essas metas. A estratégia "evoluída" da Coca-Cola para plásticos agora parece basear-se quase totalmente na limpeza do lixo plástico existente e na reciclagem – embora suas metas de reciclagem agora sejam menores do que antes.
"Continuamos comprometidos em construir resiliência de negócios a longo prazo e em conquistar nossa licença social para operar", disse Bea Perez, vice-presidente executiva de sustentabilidade, em um comunicado.
O anúncio da Coca-Cola faz parte de uma tendência mais ampla de empresas que estão retrocedendo ou não alcançando suas metas de sustentabilidade para plásticos.
Em novembro, um relatório da Fundação Ellen MacArthur – organização sem fins lucrativos que defende uma "economia circular" na qual os recursos são conservados – mostrou que centenas de empresas, em conjunto, não conseguiram cumprir uma série de compromissos voluntários com sobre uso de plásticos até 2025.
A Coca-Cola é uma das maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo. Ela vende produtos em mais de 200 países e territórios e, no ano passado, registrou US$ 46 bilhões em receita líquida. Além do refrigerante que dá nome à companhia, fabrica também os refrigerantes Fanta e Sprite, além de cerca de 200 outras marcas de alimentos e bebidas.
A Coca-Cola também produz uma grande quantidade de embalagens plásticas: cerca de 3,5 milhões de toneladas por ano, quase inteiramente feitas de combustíveis fósseis. Pelo sexto ano consecutivo, a companhia foi indicada como a "maior poluidora plástica global", com base em limpezas de praias coordenadas pela organização sem fins lucrativos Break Free From Plastic.
No ano passado, voluntários coletaram cerca de 500 mil peças de lixo plástico, espalhadas por 40 países, e identificaram a marca Coca-Cola em cerca de 33 mil delas.
RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO
Os cientistas dizem que substituir plásticos de uso único por alternativas reutilizáveis e limitar a produção de plástico virgem são duas das melhores maneiras de reduzir as emissões e a poluição relacionadas ao plástico.
Se a reutilização compensasse a necessidade de apenas 10% do consumo de plástico de uso único, a pesquisa sugere que poderia reduzir pela metade a quantidade de resíduos que chegam ao mar.
Já limitar a produção de plástico virgem é a maneira mais direta de reduzir a poluição plástica – e mais desejável do que tentar aumentar a taxa de reciclagem, porque os plásticos reciclados podem conter um maior número e concentração de produtos químicos perigosos.
A Coca-Cola divulgou dois compromissos de redução de plásticos virgens e embalagens reutilizáveis em 2020 e 2022, respectivamente. Eles seguiram resoluções apresentadas por grupos de defesa dos acionistas, organizações que compram ações em empresas para influenciar a gestão corporativa.
Quando a Coca-Cola fez a promessa de reutilização em 2022, foi saudada como uma abordagem pioneira e inovadora para o problema dos plásticos. A empresa já tinha uma rede robusta de reutilização, em especial na América do Sul, onde investiu centenas de milhões de dólares no design de uma garrafa retornável que poderia ser usada em várias de suas marcas, e na infraestrutura necessária para coletar, limpar e recarregar essas garrafas.
O Brasil é um dos países que oferecem a alternativa da garrafa retornável. Até o ano passado, garrafas de vidro retornáveis e garrafas plásticas duráveis representavam mais da metade das vendas de bebidas da empresa em 20 mercados. Após anunciar a iniciativa, a empresa lançou programas de reutilização em mercados maiores, como a América do Norte.
METAS REDUZIDAS
Até julho, a companhia vinha divulgando suas iniciativas de reutilização nos relatórios trimestrais de resultados. Desde o final de 2023, ela já vinha mencionando, em seus comunicados, a meta de aumentar as opções de refil.
Mas, no final de novembro, tanto o compromisso de reutilização quanto com o plástico virgem desapareceram de partes do site da empresa, junto com a página inicial da iniciativa Um Mundo Sem Resíduos da Coca-Cola, lançada em 2018, e que afirmava apoiar uma “economia circular” para embalagens.
A Coca-Cola produz cerca de 3,5 milhões de toneladas de embalagens plásticas por ano.
Em seu post no blog, a empresa também anunciou metas menos ambiciosas para reciclagem. A Coca-Cola agora planeja produzir de 30% a 35% de suas embalagens plásticas a partir de materiais reciclados até 2035, em vez de 50% até 2030.
Além disso, no lugar de tornar 100% de suas embalagens recicláveis até 2025 e coletar uma garrafa ou lata para cada uma vendida, a Coca-Cola agora diz que vai “ajudar a garantir a coleta” de 70% a 75% da quantidade de garrafas e latas que produz, também até 2035.
Este artigo foi publicado originalmente no Grist, uma organização de mídia independente e sem fins lucrativos dedicada a contar histórias de soluções climáticas. Leia o artigo original.