Conheça o designer que, há 100 anos, transformou a iluminação das cidades
Poul Henningsen detestava luzes muito fortes, então criou luminárias com iluminação suave e difusa, hoje presentes em diversas cidades mundo afora
A colaboração do designer dinamarquês Poul Henningsen com a marca consagrada Louis Poulsen, sediada em Copenhague, produziu algumas das peças mais emblemáticas do modernismo do século 20. O pendente Artichoke e a luminária de mesa PH são itens tão icônicos que integram até a coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York.
Mas muitas dessas luminárias de luxo tiveram um início bem mais modesto. Seus princípios básicos remontam a um poste de luz que Henningsen criou para uma competição de 1919 realizada pela Copenhagen Energy, a empresa de serviços públicos da cidade.
Na época, Copenhague estava em processo de eletrificação e fazendo a transição das lâmpadas a gás, que eram luminárias extremamente ornamentadas em forma de dragão.
A cidade queria desenvolver uma nova estética para acompanhar as novas lâmpadas elétricas. Henningsen e Louis Poulsen, o fabricante que produzia seus projetos, acreditavam que uma iluminação bem projetada era um bem social e democrático.
“Em uma época em que muitas pessoas não tinham necessariamente eletricidade em casa, criar uma boa iluminação pública era extremamente importante”, diz TF Chan, autor do livro "Louis Poulsen: First House of Light" (Louis Poulsen: a primeira casa da luz, em tradução livre). “Essa foi a primeira interface com a tecnologia.”
Henningsen, que atuava na área de arquitetura, achava que o brilho extremo das lâmpadas elétricas exigia uma nova concepção. As luminárias disponíveis na época eram adaptações de lâmpadas destinadas a velas e outras fontes tradicionais de iluminação, o que não disfarçava a intensidade de uma lâmpada.
Sua inovação foi difundir e dispersar a luz para tornar a experiência mais confortável. Ele criou um cilindro de vidro com uma sombra esmaltada que encobria parte da lâmpada e direcionava a luz para baixo em ângulos oblíquos. O efeito era uma luz mais suave e difusa.
Seu projeto minimalista venceu o concurso da concessionária de serviços públicos e foi instalado na cidade com críticas ambíguas. Algumas pessoas não gostaram da aparência e, por fim, a Copenhagen Energy removeu algumas das abas para deixar a lâmpada mais clara. Ainda assim, os conceitos que Henningsen explorou nesse protótipo continuaram a influenciar seu trabalho como designer de iluminação.
Henningsen iniciou uma colaboração de longa duração com Poulsen em 1924, que incluiu luminárias para exposições internacionais, bancos, escolas, instalações esportivas, hospitais e muito mais. Entre os projetos de maior destaque estavam as luzes externas em forma de espiral para o Tivoli Gardens, um parque de diversões que inspirou a Disneylândia.
CRIANDO UM BRILHO MAIS SUAVE
Na década de 1960, Henningsen e Louis Poulsen voltaram a se dedicar à iluminação pública, já que naquela época as lâmpadas haviam se tornado ainda mais brilhantes.
Eles criaram um sistema projetado para iluminar o tráfego das ruas de maneira uniforme, inclinando a luz para seguir a direção dos faróis. Esse sistema foi instalado em algumas cidades da Alemanha e da Dinamarca.
Como a tecnologia de iluminação mudou para LEDs, estamos novamente enfrentando o mesmo dilema de Henningsen há um século. As luzes estão se tornando excessivamente intensas, especialmente nos espaços públicos.
Há mais poluição luminosa, os faróis mais fortes estão criando um brilho ofuscante e a temperatura da cor (geralmente branca ou azul e sempre desagradável) foi descrita como “ grotesca”.
Além disso, há o problema crescente das luzes de rua de LED com defeito que estão ficando roxas, o que pode afetar a segurança dos pedestres. Tudo isso para dizer: a obsessão pessoal do designer em tornar a iluminação pública confortável e funcional deveria ser revisitada como um ideal de cidadania.