Dispositivo permite a deficientes visuais “assistir” uma partida de basquete
Com tecnologia háptica, torcedores agora conseguem acompanhar os jogos com as pontas dos dedos

A arena Barclays Center, em Nova York, vibra enquanto Jalen Wilson, ala do time de basquete Brooklyn Nets, recebe a bola, se posiciona e faz um arremesso de três pontos. A bola passa por cima da defesa do Knicks e cai direto na cesta.
A torcida vai à loucura e Bryan Velazquez ergue o punho no ar em comemoração. Mesmo sem enxergar, ele sabe que seu time acabou de marcar. Sentiu isso nas pontas dos dedos.
Velazquez está usando um novo tipo de dispositivo háptico que transforma os lances do jogo em vibrações. Desenvolvido pela startup OneCourt, o aparelho do tamanho de um tablet conta com um mapa de silicone em relevo com o desenho de uma quadra de basquete e o logo do time da casa no centro. Centenas de pequenos motores vibram para indicar a posição da bola na quadra em tempo real.
Pessoas cegas ou com baixa visão podem apoiar as mãos sobre o dispositivo e sentir a movimentação da bola, enquanto um fone de ouvido transmite informações sobre o placar e lances como “arremesso”, “bola fora” ou “falta”.
As principais ligas esportivas do mundo já usam sensores e câmeras de última geração para acompanhar, em tempo real, a posição dos jogadores e da bola. A tecnologia da OneCourt capta esses dados via 5G e os transforma em vibrações que percorrem a superfície do dispositivo háptico.
Essas vibrações – como se fossem “pixels táteis” – variam conforme o tipo de jogada. Quando alguém arremessa, o ponto correspondente na quadra vibra com mais intensidade. Se a bola entra, os motores embaixo da cesta vibram com força. Se o jogador erra, os motores emitem uma vibração longa, quase como um suspiro.
“Espero que mais times adotem essa ideia”, diz Velazquez, que foi convidado pela organização Visions para compartilhar sua experiência no estádio.
UM PONTO DE VIRADA PARA A INOVAÇÃO
A OneCourt é uma entre várias startups apostando nesse segmento. Outras empresas, como a irlandesa Field of Vision e a francesa Touch2See, também estão desenvolvendo soluções parecidas.
A Touch2See, por exemplo, criou um tablet com o relevo de um campo de futebol. Um cursor em movimento representa a bola e guia os dedos dos usuários, como uma espécie de tabuleiro ouija. O dispositivo háptico também vibra para indicar passes, chutes e gols.
Tanto a OneCourt quanto a Touch2See se inspiraram em um vídeo que viralizou nas redes: um torcedor guiando a mão de um amigo cego sobre uma maquete de um campo de futebol para que ele acompanhasse a partida.
O Brooklyn Nets e o Barclays Center foram os primeiros time e arena da Costa Leste dos EUA a oferecer a chamada “transmissão tátil” gratuitamente durante os jogos em casa.
“Poder proporcionar essa experiência para diferentes perfis de torcedores é algo muito importante para mim – e essa tecnologia se encaixa perfeitamente nessa missão”, diz Keia Cole, diretora de digital da BSE, empresa que administra o Brooklyn Nets, o New York Liberty e o Barclays Center.
Os dispositivos foram testados no final da temporada da NBA (a liga nacional de basquete dos EUA) e a ideia é trazê-los de volta na próxima. Por enquanto, estão disponíveis apenas em jogos da NBA, mas o plano é expandir também para as partidas do Liberty.

Segundo Antyush Bollini, COO da OneCourt, a empresa começou com tecnologias mais acessíveis, como o Hawk-Eye e pretende ampliar o alcance para todos os níveis do esporte. “É só uma questão de tempo até que essa tecnologia chegue aos campeonatos universitários, às ligas infantis e aos centros esportivos de bairro.”
E não é só no basquete. A OneCourt já testou o dispositivo háptico em jogos de tênis, beisebol e futebol americano. A Touch2See trabalha com futebol, basquete, rúgbi e esportes paralímpicos. Ambos os dispositivos possuem superfícies removíveis, o que permite alternar entre diferentes modalidades com facilidade.
Para Jerred Mace, CEO da OneCourt, qualquer esporte em que a posição dos atletas seja mais importante que o estilo – como natação ou atletismo – pode se beneficiar dessa tecnologia. “Queremos levar essa inovação a todos os estádios e esportes. Acreditamos que ela pode se tornar o novo padrão de acessibilidade.”