Esta fralda descartável vem com um mecanismo que a torna biodegradável

Fungos comedores de plástico podem ser o caminho para salvar o planeta

Créditos: Nadia Amad/ Unsplash/ kool99/ Getty Images

Elizabeth Segran 3 minutos de leitura

Quando a Johnson & Johnson lançou a primeira fralda descartável, em 1948, o dia a dia de quem cuida de bebês mudou para sempre. Mas, sem saber, a empresa também deu início a um grave problema ambiental.

Fraldas são feitas, em grande parte, de plástico – que se fragmenta em microplásticos, polui rios e mares e acaba entrando na nossa cadeia alimentar. O volume é assustador: a cada minuto, mais de 300 mil fraldas são descartadas, indo parar em aterros sanitários ou incineradores e contribuindo para o aquecimento global.

Nos últimos anos, surgiram diversas tentativas de criar fraldas mais ecológicas – desde versões de pano com design mais prático até modelos com menos plástico.

Mas uma nova startup chamada Hiro pode ter apresentado a solução mais criativa até agora. Após quatro anos de pesquisa e desenvolvimento, a empresa lançou uma fralda que vem com um sachê com fungos comedores de plástico, capazes de ajudar o produto a se decompor mais rapidamente nos aterros sanitários.

A ideia nasceu da parceria entre Miki Agrawal, fundadora da Thinx (marca de calcinhas absorventes) e da Tushy (de bidês), e Tero Isokauppila, criador da marca de cafés com cogumelos Four Sigmatic.

Quando seu filho Hiro nasceu, Miki quis desenvolver uma fralda menos prejudicial ao meio ambiente. Foi aí que conheceu Isokauppila, um empreendedor finlandês que dedica sua vida a tornar os cogumelos parte do cotidiano das pessoas.

Ele já havia usado seu conhecimento sobre os benefícios dos fungos para criar a Four Sigmatic. Agora, decidiu explorar o potencial dos cogumelos na luta contra a crise do plástico.

Crédito: Hiro

Ao contrário das plantas, os fungos não fazem fotossíntese – precisam buscar energia em fontes externas. E, ao longo de bilhões de anos, evoluíram para digerir os mais diversos materiais. Cerca de 15 anos atrás, um grupo de estudantes de Yale encontrou na Amazônia o primeiro fungo capaz de consumir plástico.

Os plásticos vêm de combustíveis fósseis – um tipo de material que os fungos já conhecem há milhões de anos. “Com tanto plástico no ambiente, faz sentido que os fungos tenham passado a usá-lo como fonte de alimento, já que se assemelha a outras substâncias que eles já consomem”, explica Isokauppila

FRALDAS E FUNGOS COMEDORES DE PLÁSTICO

As fraldas Hiro têm uma composição semelhante à de outras fraldas premium e são produzidas em uma fábrica no Canadá que também trabalha para outras marcas. A diferença é que, dentro da embalagem, cada fralda vem com um pequeno sachê de fungos, que permanecem inativos até entrarem em contato com líquidos.

Na hora de trocar o bebê, basta colocar o sachê dentro da fralda suja e descartá-la normalmente. Depois de algumas semanas, os fungos “acordam” nos aterros e começam a digerir o plástico do produto.

uma vez liberados, os fungos se comportam como outros já presentes na natureza.

Enquanto uma fralda comum pode levar até 400 anos para se decompor, as fraldas Hiro, com a ação dos fungos, levam apenas uma fração desse tempo. A meta da empresa é que, até 2026, o produto possa ser compostado até mesmo no quintal de casa

A ideia, no futuro, é incorporar os fungos diretamente na fralda. Mas, em testes com pais e mães, a empresa percebeu que havia bastante receio quanto à segurança, já que o produto entra em contato direto com a pele do bebê.

Outra dúvida comum é sobre os riscos ambientais: será que, uma vez no meio ambiente, esses fungos poderiam começar a degradar plásticos que não deveriam ser destruídos, como sacos de lixo?

Crédito: Hiro

De acordo com Isokauppila, o processo é lento – leva cerca de um ano – e, uma vez liberados, os fungos se comportam como outros já presentes na natureza. “Eles já fazem parte do ecossistema”, afirma.

Isokauppila acredita que as fraldas Hiro podem ajudar a popularizar o uso de fungos comedores de plástico. Com o avanço das pesquisas, ele acredita que será possível escalar soluções para lidar com a quantidade absurda de plástico acumulado no planeta.

Seu objetivo é tornar comum o uso desses fungos para decompor os plásticos que usamos no dia a dia. E, quem sabe, com o avanço da tecnologia, possamos reverter parte dos danos causados pelo uso excessivo do plástico.

Claro, o ideal seria deixar de usar plástico completamente. Mas, enquanto isso não é possível, essa pode ser a melhor alternativa. “Se conseguimos decompor uma fralda, conseguimos decompor qualquer coisa”, conclui.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais