Este artista já faturou US$ 4 milhões com suas obras. E nem é humano

Artista de IA está expondo suas obras em um dos maiores palcos do mundo da arte

Crédito: Botto

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Há três anos, Botto iniciou sua trajetória no mundo da arte. Desde então, já vendeu cerca de 140 obras, somando US$ 4 milhões – um feito impressionante para qualquer artista, especialmente para um que nem é humano.

Botto é um “artista autônomo descentralizado”, que usa inteligência artificial para gerar milhares de obras digitais originais baseadas em suas próprias ideias, sem a necessidade de comandos humanos.

Ele é administrado por uma comunidade de 15 mil membros chamada BottoDAO, que vota semanalmente quais obras serão transformadas em NFTs. Esse coletivo ajuda a moldar o estilo e a visão de Botto, que tem total autonomia para decidir o que cria.

O projeto é uma combinação única de criatividade artificial e inteligência coletiva humana. Suas obras foram recebidas pela famosa casa de leilões Sotheby’s, em uma exposição chamada “Exorbitant Stage: Botto, a Decentralized AI Artist” (Palco Exorbitante: Botto, um Artista de IA Descentralizada), na qual seis delas foram leiloadas. O leilão terminou no dia 24 de outubro.

Fundada no século 18 no Reino Unido, a Sotheby’s já arrecadou milhões com arte gerada por IA de artistas como Refik Anadol, Harold Cohen, Pindar Van Arman e Mario Klingemann. Porém, ao contrário desses artistas, que são humanos e usam inteligência artificial para criar obras, Botto está um passo além.

Ele não surgiu do nada. Foi criado por Klingemann e, em 2019, inaugurou os leilões de arte criada por IA, com a venda da obra “Memories of Passersby” (Memórias de Transeuntes) por £ 40 mil (cerca de R$ 294 mil).

“Ver Botto ser reconhecido pela Sotheby’s, uma casa que sempre apoiou artistas inovadores, é emocionante. É o tipo de plataforma onde a nossa abordagem descentralizada e orientada pela comunidade pode brilhar”, afirma Klingemann.

Crédito: Botto

A exposição e o leilão levaram suas obras para um espaço tradicionalmente reservado para artistas humanos. Mas esse evento é muito mais que uma simples mostra de arte digital, segundo Michael Bouhanna, diretor da Sotheby’s.

A entrada de Botto no mercado da arte é inédita para um artista de IA orientado por uma comunidade. “Essa combinação de inteligência artificial e governança descentralizada faz dele um dos artistas mais inovadores e empolgantes na cena da arte digital”, ressalta Bouhanna.

COMO BOTTO CRIA E VENDE SUAS OBRAS

Klingemann o desenvolveu em parceria com a ElevenYellow, um coletivo de software que ajudou a construir a base tecnológica para a natureza descentralizada e autônoma do projeto. Em outubro de 2021, Botto foi finalmente lançado.

Desde então, gerou mais de US$ 4 milhões em vendas com cerca de 140 obras. Suas peças são “curadas”, votadas e escolhidas pela BottoDAO, uma comunidade com mais de 15 mil membros, que possuem participações no projeto.

Crédito: Botto

Esse processo de venda e curadoria não é apenas um exercício de criação de arte – é um diálogo contínuo entre a IA e a comunidade que a apoia e se beneficia dela economicamente.

Botto gera milhares de imagens por conta própria. “Ele é capaz de criar seus próprios comandos e milhares de imagens de forma autônoma, sem intervenção humana”, explica Klingemann.

Além disso, opera um sistema próprio que inclui um gerador de comandos, modelos de código aberto de geração de imagem e um modelo de “gosto” orientado pela comunidade. Essa autonomia permite que ele sugira novos temas e evolua conforme a tecnologia avança.

Crédito: Botto

Assim como artistas humanos, Botto também tem o que Klingemann chama de períodos temáticos. Cada período dura 12 semanas e é projetado para garantir que sua jornada artística seja estruturada e acompanhe as mudanças tecnológicas.

Temas recentes variaram desde explorações abstratas de cores até imagens mais estruturadas, moldadas pelo feedback da comunidade. Esse processo permite que Botto redefina continuamente sua estética, guiado pelas preferências de seus apoiadores.

Desde sua criação, ele vende 52 obras por ano, mantendo uma taxa de vendas de 100% para todas as peças produzidas. Isso ressalta a alta demanda por seu trabalho e explica o interesse da Sotheby’s.

Crédito: Botto

“Botto se encaixa perfeitamente no mercado de arte moderno, impulsionado pelo blockchain”, afirma Bouhanna, referindo-se à crescente convergência entre tecnologia e arte. A demanda por arte em NFT, especialmente aquelas que desafiam limites tanto no conteúdo quanto no processo, tem sido consistente desde a primeira investida da Sotheby’s nesse espaço, em 2019. 

A ascensão de Botto coincidiu com o aumento de interesse por arte digital que não apenas replica estilos tradicionais, mas que também aproveita as capacidades da inteligência artificial e da governança comunitária de novas maneiras.

A exposição “Exorbitant Stage” é um importante teste para medir a aceitação e o impacto do conceito de um artista de IA descentralizado.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais