Inteligência artificial não poupa nem a Vogue
Modelos criadas por IA chegam às páginas da revista e reacendem o debate sobre padrões de beleza e autenticidade na moda

Modelos criadas por IA já conquistaram seu espaço até mesmo nas páginas da "Vogue". Na edição impressa de agosto da revista nos EUA, um anúncio da Guess exibe uma modelo com aparência impecável vestindo peças da coleção de verão – um vestido listrado e um macacão floral.
Em letras miúdas, há uma observação discreta: a modelo foi criada por IA.
Embora a revista afirme que a inclusão da modelo sintética foi decisão publicitária e não da área editorial, a repercussão foi imediata e majoritariamente negativa. Internautas acusaram a publicação de contribuir para a desvalorização da moda e até chamaram de “a queda da Vogue”.
A controvérsia não se limita à distinção entre publicidade e conteúdo editorial. Para muitos, o simples fato de uma figura gerada por IA estar estampada nas páginas da revista já representa um retrocesso.

“Recado para publicações que fazem esse tipo de coisa: isso faz vocês parecerem baratas e cafonas, preguiçosas e apressadas, desesperadas e em decadência”, escreveu um usuário nas redes sociais.

Essa não é a primeira vez que a IA aparece nas páginas da revista. A edição de junho de 2024 da "Vogue Portugal" trouxe uma modelo artificial na capa; antes ainda, em maio de 2023, a "Vogue Itália", havia utilizado inteligência artificial para compor o cenário da capa estrelada por Bella Hadid.
Com a IA cada vez mais integrada ao cotidiano, tanto no ambiente digital quanto no físico, sua presença na indústria da moda parece inevitável. Um em cada três consumidores da geração Z já toma decisões de compra com base em recomendações de influenciadores gerados por IA, conforme levantamento da plataforma Whop. A tendência vai se estender também às modelos?
A criação da modelo do anúncio da Guess ficou a cargo da agência Seraphinne Vallora, após um contato direto via Instagram feito por Paul Marciano, cofundador da marca.
O perfil da agência, que já ultrapassa 225 mil seguidores, exibe centenas de supermodelos digitais, todas com aparência homogênea e alinhadas a padrões eurocêntricos de beleza – sem marcas, imperfeições ou traços únicos.
Em entrevista à BBC, os fundadores da Seraphinne disseram já ter tentado publicar modelos com maior diversidade, mas esses conteúdos não tiveram o mesmo alcance. A Fast Company procurou a "Vogue", a Guess e a Seraphinne Vallora para comentar o caso.
O impacto psicológico também preocupa. Como escreveu um usuário no X/ Twitter) “como se os padrões de beleza já não fossem irreais o suficiente, agora meninas terão que competir com mulheres que nem sequer existem. Parabéns aos envolvidos.”