Mostra traz objetos do dia a dia que mudaram nossa forma de pensar e agir

Do Tamagotchi a cadeiras de plástico, exposição em Nova York destaca pontos de virada do design e como ele influencia nossa vida diária

Crédito: Ed Hawkins/ Warming Stripes/ MoMA NY

LSmith 3 minutos de leitura

Paola Antonelli tem um critério simples para definir um bom design. Como curadora sênior do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), ela frequentemente é questionada sobre o que torna um objeto digno de entrar para a coleção do museu. Sua resposta é direta: “feche os olhos e pergunte a si mesmo: se esse objeto não existisse, o mundo sentiria falta dele?”

Mas, claro, escolher peças para um dos museus mais prestigiados do mundo não é tão simples assim. Antonelli explica que um bom design também precisa ter forma, função e resolver algum problema.

“Isso não quer dizer que o objeto precisa ser indispensável. Veja o Tamagotchi, por exemplo. Completamente supérfluo”, diz ela. “[Mas] não seria uma pena se ele nunca tivesse existido?”

Essa é a ideia central da nova exposição do MoMA, “Pirouette: Turning Points in Design” (Pirueta: pontos de virada no design). A mostra explora como certos objetos transformaram a sociedade – seja um simples post-it, o primeiro computador da Apple ou até uma pia portátil para lavar as mãos, criada durante a pandemia de Covid-19.

Para Antonelli, o design molda o comportamento humano, e essa exposição é a prova disso, reunindo dezenas de invenções que deixaram sua marca no mundo. “Os objetos têm consequências”, afirma ela. “Esse é, de certa forma, o lema da exposição.”

A mostra traz desde clássicos do design, como a cadeira de balanço dos Eames, a cadeira monobloco de plástico e a cadeira de escritório Aeron, até placas de trânsito e eletrônicos, como o Walkman. Também reúne móveis, eletrônicos, símbolos gráficos, acessórios de moda e itens de design industrial, de produtos e de informação, abrangendo peças dos anos 1930 até os dias de hoje.

mostra no MoMA traz pontos de virada do design
Cadeira e banco desenhados por Martino Gamper ao lado de um computador Macintosh 128k e de um Walkman da Sony (Crédito: Jonathan Dorado/ MoMA)

Entre os objetos expostos estão o rascunho original do famoso logo “I Love New York”, o icônico logotipo da NASA com letras arredondadas (conhecido como “worm”), um computador pessoal Macintosh, as botas Tabi, os Crocs, a bolsa Telfar, a caneta Bic e até um infográfico sobre o desmatamento na Amazônia. O que todos esses itens têm em comum? Eles mudaram a forma como pensamos, enxergamos e interagimos com o mundo, representando verdadeiros pontos de virada do design.

“Todos representam um experimento com novos materiais, tecnologias e conceitos, oferecendo soluções inovadoras para problemas cotidianos”, explica o texto de apresentação da exposição. “Nesses objetos, os designers canalizaram sua criatividade e engenhosidade, transformando ideias em movimento – como bailarinas fazendo uma pirueta.”

Cada um desses itens – seja um pacote de M&Ms, uma cafeteira italiana, um walkman ou unhas postiças – alterou, de alguma forma, o nosso dia a dia, podendo ser considerados pontos de virada do design presente em nosso dia a dia.

Alguns designs são tão intuitivos que mal percebemos sua importância, como a sacola de papel de fundo plano. Outros são mais sutis e conceituais, como os móveis da série Candy Cube, da designer Sabine Marcelis – peças que podem não ser amplamente conhecidas, mas que influenciam outros designers e acabam, aos poucos, reverberando na sociedade.

mostra no MoMA traz pontos de virada do design
“Emoji”, de Shigetaka Kurita (1998-1999) Crédito: NTT Docomo

Falando sobre design da informação em 2020, Antonelli afirmou: “nossas ações não geram reações diretas e lineares, mas sim reverberações que se espalham em diferentes direções.”

A exposição também traz um alerta: “os objetos têm o poder de mudar a maneira como nos comportamos, tanto para o bem quanto para o mal”. Os itens escolhidos representam a criatividade humana em sua essência, oferecendo novas respostas para desafios antes sem solução.

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Crédito: Jonathan Dorado/ MoMA

Mas nem toda inovação é isenta de polêmica. Um exemplo clássico é a cadeira monobloco, criada nos anos 1950. Extremamente popular, barata e fácil de limpar, ela se tornou um produto de massa acessível em todo o mundo. Mas seu impacto ambiental e sua estética controversa geram discussões sobre seus prós e contras.

“Sempre é um bom momento para mostrar às pessoas a importância do design”, diz Antonelli. “Mas, agora, mais do que nunca, eu gostaria que as pessoas tivessem algo construtivo em que pensar. O design nos permite olhar para o mundo de forma inovadora e propositiva. É uma das mais belas expressões da criatividade humana – e, no caso dos objetos desta exposição, uma criatividade direcionada para o bem.”


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