Mostra traz objetos do dia a dia que mudaram nossa forma de pensar e agir
Do Tamagotchi a cadeiras de plástico, exposição em Nova York destaca pontos de virada do design e como ele influencia nossa vida diária

Paola Antonelli tem um critério simples para definir um bom design. Como curadora sênior do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), ela frequentemente é questionada sobre o que torna um objeto digno de entrar para a coleção do museu. Sua resposta é direta: “feche os olhos e pergunte a si mesmo: se esse objeto não existisse, o mundo sentiria falta dele?”
Mas, claro, escolher peças para um dos museus mais prestigiados do mundo não é tão simples assim. Antonelli explica que um bom design também precisa ter forma, função e resolver algum problema.
“Isso não quer dizer que o objeto precisa ser indispensável. Veja o Tamagotchi, por exemplo. Completamente supérfluo”, diz ela. “[Mas] não seria uma pena se ele nunca tivesse existido?”

Essa é a ideia central da nova exposição do MoMA, “Pirouette: Turning Points in Design” (Pirueta: pontos de virada no design). A mostra explora como certos objetos transformaram a sociedade – seja um simples post-it, o primeiro computador da Apple ou até uma pia portátil para lavar as mãos, criada durante a pandemia de Covid-19.
Para Antonelli, o design molda o comportamento humano, e essa exposição é a prova disso, reunindo dezenas de invenções que deixaram sua marca no mundo. “Os objetos têm consequências”, afirma ela. “Esse é, de certa forma, o lema da exposição.”
A mostra traz desde clássicos do design, como a cadeira de balanço dos Eames, a cadeira monobloco de plástico e a cadeira de escritório Aeron, até placas de trânsito e eletrônicos, como o Walkman. Também reúne móveis, eletrônicos, símbolos gráficos, acessórios de moda e itens de design industrial, de produtos e de informação, abrangendo peças dos anos 1930 até os dias de hoje.

Entre os objetos expostos estão o rascunho original do famoso logo “I Love New York”, o icônico logotipo da NASA com letras arredondadas (conhecido como “worm”), um computador pessoal Macintosh, as botas Tabi, os Crocs, a bolsa Telfar, a caneta Bic e até um infográfico sobre o desmatamento na Amazônia. O que todos esses itens têm em comum? Eles mudaram a forma como pensamos, enxergamos e interagimos com o mundo, representando verdadeiros pontos de virada do design.
“Todos representam um experimento com novos materiais, tecnologias e conceitos, oferecendo soluções inovadoras para problemas cotidianos”, explica o texto de apresentação da exposição. “Nesses objetos, os designers canalizaram sua criatividade e engenhosidade, transformando ideias em movimento – como bailarinas fazendo uma pirueta.”
Cada um desses itens – seja um pacote de M&Ms, uma cafeteira italiana, um walkman ou unhas postiças – alterou, de alguma forma, o nosso dia a dia, podendo ser considerados pontos de virada do design presente em nosso dia a dia.
Alguns designs são tão intuitivos que mal percebemos sua importância, como a sacola de papel de fundo plano. Outros são mais sutis e conceituais, como os móveis da série Candy Cube, da designer Sabine Marcelis – peças que podem não ser amplamente conhecidas, mas que influenciam outros designers e acabam, aos poucos, reverberando na sociedade.

Falando sobre design da informação em 2020, Antonelli afirmou: “nossas ações não geram reações diretas e lineares, mas sim reverberações que se espalham em diferentes direções.”
A exposição também traz um alerta: “os objetos têm o poder de mudar a maneira como nos comportamos, tanto para o bem quanto para o mal”. Os itens escolhidos representam a criatividade humana em sua essência, oferecendo novas respostas para desafios antes sem solução.

Mas nem toda inovação é isenta de polêmica. Um exemplo clássico é a cadeira monobloco, criada nos anos 1950. Extremamente popular, barata e fácil de limpar, ela se tornou um produto de massa acessível em todo o mundo. Mas seu impacto ambiental e sua estética controversa geram discussões sobre seus prós e contras.
“Sempre é um bom momento para mostrar às pessoas a importância do design”, diz Antonelli. “Mas, agora, mais do que nunca, eu gostaria que as pessoas tivessem algo construtivo em que pensar. O design nos permite olhar para o mundo de forma inovadora e propositiva. É uma das mais belas expressões da criatividade humana – e, no caso dos objetos desta exposição, uma criatividade direcionada para o bem.”