Não se engane: a beleza de um produto faz toda diferença para o consumidor

Poucas empresas conseguem se dar bem com produtos feiosos. Para a maioria, beleza é fundamental

Créditos: Milad Fakurian/ Shubham Dhage/ Unsplash/ Rytis Bernotas/ iStock

Liz Stinson 3 minutos de leitura

"A beleza está nos olhos de quem vê.” Apesar da sabedoria do velho ditado, há algumas verdades estatísticas sobre o que torna algo agradável de se ver. Um círculo é mais bonito do que um retângulo; azul é uma cor mais agradável que marrom.

“A pior coisa que já aconteceu à beleza foi [essa] frase estúpida”, comentou Stefan Sagmeister em sua apresentação no Innovation Festival, promovido pela Fast Company em Nova York, na semana passada.

No palco, Sagmeister compartilhou evidências convincentes, ao pedir que a plateia levantasse as mãos para indicar quais formas e cores preferiam (muitas mãos levantadas para o círculo e o azul; menos para o retângulo e o marrom). Após a votação, ele revelou gráficos que demonstravam uma correspondência quase perfeita com as preferências de sua própria pesquisa.

“Já fiz isso centenas de vezes em todo o mundo, presencialmente, como uma configuração fixa em exposições e no Instagram, sempre com os mesmos resultados”, explicou sobre sua metodologia de teste. “O círculo é visto como o mais belo, o retângulo como o menos belo.”

Sagmeister sugere que a beleza não está tanto nos olhos de quem vê, mas sim nas mãos das pessoas que moldam os objetos e interfaces com os quais nos deparamos diariamente. A beleza não é algo natural, mas uma escolha. “As coisas não se tornam bonitas por conta própria”,afirmou.

Sagmeister é um designer austríaco – cujo trabalho abrange design gráfico, cinema e tipografia – que acredita firmemente no poder transformador da beleza na vida e nos negócios.

Crédito: Stefan Sagmeister

No palco, ele foi acompanhado por um grupo de designers formado por Gabby Lord, cofundadora e diretora criativa do Super Keen Studio; Bruno Regalo, diretor de design da TBWA; e James Taylor, chefe global de design da TBWA\Media Arts Lab, que discutiram o quão valiosa é a beleza no processo de inovação.

Taylor, cujo trabalho para a TBWA/Media Arts Lab inclui a criação de marketing para a Apple, disse que seu trabalho não é convencer as pessoas de que os produtos da empresa são bonitos (já sabemos disso); mas, sim, lembrá-las de que há beleza também na funcionalidade dos aparelhos.

a beleza está nas mãos das pessoas que moldam os objetos e interfaces com os quais nos deparamos diariamente.

“Como fazemos com que os produtos da Apple pareçam menos ferramentas e mais habilitadores de experiências?”, é a questão.

No início de sua carreira, Taylor trabalhou para empresas de bens de consumo não duráveis que muitas vezes eram avessas ao risco quando se tratava da linguagem visual de seus produtos. “Eles passavam meses testando e fazendo pesquisas com consumidores, o que talvez tirasse o desejo da equação”, lembrou.

A beleza não era um valor orientador para muitas das empresas tradicionais desse setor. De fato, ela podia ser vista como um obstáculo ao progresso. Mas as coisas mudaram: 95% dos produtos falham, e a beleza (que pode servir como um atalho para uma marca atraente) se tornou um diferencial para muitos produtos de sucesso.

Crédito: Graza

Lord, cujo trabalho com marcas abrange diversos setores, destacou a Graza como exemplo. A startup de azeite, lançada em 2022 com uma garrafa de design inovador, viu suas vendas saltarem de US$ 4 milhões para uma projeção de US$ 48 milhões em 2024. “A Graza é como um círculo”, disse ela, referindo-se à beleza inegável da garrafa.

E, no entanto, a beleza nem sempre é um pré-requisito para o sucesso. Gigantes do varejo como a Amazon parecem estar isentas dos padrões aos quais as marcas startups menores estão sujeitas.

Sua interface, uma confusão desajeitada de fontes, botões e elementos enganosos de experiência do usuário, evoca mais um shopping popular do que uma loja de departamentos.

A Amazon não precisa se preocupar em tornar a experiência agradável, porque já sabe que você comprará lá de qualquer forma – talvez porque outros elementos da experiência de produto ainda sejam atraentes o suficiente para compensar o que é feio.

Para Sagmeister, há um benefício subestimado na experiência desagradável de comprar na Amazon e em seus concorrentes de grande porte. “Se essas [interfaces] fossem realmente projetadas, tenho certeza de que todos passaríamos ainda mais tempo lá. Então, talvez seja uma coisa boa que ela seja feia.”


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