Nem precisa ter nascido nos anos 80: a cultura dos millennials está na moda

Uma geração que já foi ridicularizada por suas preferências em relação à cultura pop agora está assumindo o protagonismo da cena cultural

Crédito: Fast Company Brasil

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Esta é uma boa época para ser um millennial. Ou pelo menos para quem gosta de ser o novo cliente favorito do mercado cultural.

No mesmo dia em que você comprou seus ingressos para ver “Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice, Beetlejuice” – a sequência, 36 anos depois, de um clássico do final dos anos 80 – você deve ter ficado sabendo que uma série documental sobre a marca Lisa Frank está para ser lançada. Com sua estética psicodélica e colorida, ela foi uma febre nos anos 1990, estampando todo tipo de material escolar, como estojos e capas de caderno. 

Se num passado recente eles foram ridicularizados por seu interesse em torradas com abacate e por seu hábito de destruir brutalmente tudo, de diamantes a maionese, a geração dos millennials passou a ocupar posições de poder (um deles está até concorrendo à vice-presidência dos EUA.) Agora, eles parecem ser o público-alvo de praticamente tudo.

Provavelmente não é coincidência o fato de que os dois maiores filmes de 2023 – "Barbie" e "Super Mario Bros. - O Filme" – são baseados em personagens populares entre as crianças nascidas nos anos 80 e início dos anos 90.

Eles foram inclusive produzidos por algumas dessas crianças (é o caso de Greta Gerwig, de Barbie, e de Aaron Horvath, de Super Mario). Agora, Beetlejuice segue os passos de Twisters e outras “ sequências” recentes, como "Caça-Fantasmas: O Império do Gelo".

"Caça-Fantasmas: O Império do Gelo" (Crédito: Columbia Pictures)

Em breve, eles vão ganhar a companhia de um novo filme dos Transformers, um novo Sonic e uma reedição em live-action de Mestres do Universo. 

A nostalgia dos millennials nos filmes não se restringe aos títulos em si, ela também está sendo absorvida por "Deadpool e Wolverine", que usa a música “Bye Bye Bye”, do *NSYNC, tanto em seu marketing quanto no próprio filme.

"Deadpool e Wolverine" (Crédito: Marvel Studios)

A boy band se reuniu no ano passado, fazendo sua primeira música nova em 20 anos para a trilha sonora de "Trolls 3 - Todos Juntos!", série baseada em um brinquedo amado pelas crianças no final dos anos 80.

NOSTALGIA PARA TODAS AS MÍDIAS

A Netflix domina o mercado de TV nostálgica para o público millennial, com as séries "Stranger Things" e "Cobra Kai", que estão mergulhadas na tradição dos anos 80, junto com "That '90s Show".

Enquanto isso, a empresa Original X Productions está trazendo o universo de "Friends" e "The Office" para o mundo real com “experiências” ao vivo que recriam os cenários desses programas.

Friends Experience (Crédito: Original X Productions)

Mas é claro que a principal experiência ao vivo que se baseia na nostalgia da geração millennial são os festivais de música. Embora o Coachella e o Lollapalooza sempre incluam um pouco da cultura dos millenials, toda uma indústria caseira surgiu no campo dos festivais com esse mercado em mente. 

Há o Lovers and Friends, voltado para o R&B, com Ashanti, Ja Rule e Nelly Furtado; o Just Like Heaven, voltado para o indie, que apresenta tanto o Death Cab for Cutie quanto o projeto paralelo do vocalista Ben Gibbard, The Postal Service; e festival simploriamente batizado de When We Were Young (Quando Éramos Jovens), com os reis do emo, incluindo

My Chemical Romance e Dashboard Confessional. 

Nunca subestime o poder de marketing da nostalgia. É por isso que no ano passado o McDonald's lançou um McLanche Feliz para adultos e o Tamagotchi ressuscitou em plena era dos brinquedos inteligentes.

O CICLO SEM FIM

Essa fixação em olhar para trás representa algo mais do que apenas o típico ciclo de tendências, em que o velho se torna novo 20 anos depois.

O que está acontecendo é que as crianças que assistiam aos desenhos animados nas manhãs de sábado no final dos anos 80 e início dos anos 90 estão chegando aos 30 e 40 anos. Muitas delas agora têm dinheiro para gastar e seus próprios filhos para incutir suas boas lembranças da infância. 

"Stranger Things" (Crédito: Netflix)

E como eles já têm idade suficiente para serem cineastas consagrados, como Greta Gerwig e Emerald Fennell, podemos esperar mais filmes sobre a experiência dos millennials, como a representação de Lady Bird sobre o ensino médio em 2002 ou a interpretação de Saltburn sobre a faculdade em 2006. Parece que estamos a 10 passos de um filme nostálgico sobre a era do dubstep (um gênero de música eletrônica).

A geração do milênio ganhou destaque cultural como alvo de chacota dos baby boomers e depois passou alguns anos sendo ridicularizada pela geração Z por gostar demais de Harry Potter e do conceito de “ser adulto”.

No entanto, agora eles têm idade suficiente para representar uma força financeira considerável e provavelmente poderiam induzir um estúdio a fazer "Avocado Toast: o Filme", se um número suficiente de posts no TikTok pedisse. Talvez eles acabem rindo por último.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais