Por dentro da reforma de US$ 2 bi de um dos hotéis mais famosos do mundo

O novo Waldorf Astoria voltou a parecer antigo. Entenda como os arquitetos conseguiram esse feito

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

“Um quebra-cabeça tridimensional de 150 mil metros quadrados.” Foi assim que o arquiteto Frank Mahan, do renomado escritório Skidmore, Owings & Merrill, descreveu a reforma de quase US$ 2 bilhões do Waldorf Astoria durante uma visita aos bastidores do projeto.

Depois de muitos atrasos, o famoso hotel em estilo Art Déco finalmente reabriu suas portas na última semana – com um visual renovado, mas surpreendentemente familiar.

Ocupando um quarteirão inteiro na ilha de Manhattan, em Nova York, o Waldorf Astoria foi, quando inaugurado em 1931, o maior e mais alto hotel do mundo. Rapidamente, se tornou sinônimo de poder e prestígio, recebendo presidentes, membros da realeza, celebridades e grandes eventos internacionais.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

Com o passar dos anos, no entanto, o prédio passou por uma série de reformas que acabaram apagando parte de sua identidade. O saguão foi modificado, torres de resfriamento foram instaladas no telhado e, em 2017, quando o hotel fechou as portas, restava apenas uma das 5,4 mil janelas originais.

Oito anos depois, o Waldorf Astoria reabre após uma grande reforma, que transformou parte dos quartos em residências de luxo e restaurou, nos mínimos detalhes, cada centímetro do prédio.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

A reforma levou mais tempo do que o esperado porque cerca de 5,5 mil metros quadrados do prédio foram tombados como patrimônio histórico, o que faz dele o quarto maior ponto histórico interno da cidade de Nova York.

Algumas áreas foram cuidadosamente restauradas para reproduzir fielmente o projeto original de 1931; outras foram modernizadas para atender aos padrões do século 21. Em vez de simplesmente congelar o tempo ou apagar o passado, a reforma conseguiu unir passado e presente de forma harmônica.

O ENDEREÇO MAIS COBIÇADO DE NOVA YORK

A grande novidade é a ala residencial. Antes do fechamento, o hotel tinha 1,4 mil quartos. Agora, são 375 suítes administradas pela rede de hotéis Hilton e 372 unidades residenciais, projetadas pelo designer francês Jean-Louis Deniot.

Pela primeira vez, quem tiver recursos suficientes poderá comprar um apartamento no Waldorf Astoria e morar em um dos endereços mais emblemáticos do planeta.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

A ala residencial tem entrada separada, com uma porte cochère exclusiva. Os estúdios custam a partir de US$ 1,875 milhão e os apartamentos de quatro quartos começam em US$ 18,75 milhões. Até o momento, 25 unidades já foram vendidas e muitos moradores já se mudaram.

Para devolver ao hotel seu esplendor original, a equipe de arquitetura mergulhou em fotografias antigas, livros técnicos e plantas originais. Do lado de fora, restauraram as portas de bronze, refizeram a alvenaria característica e trocaram todas as janelas.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

As torres de resfriamento foram removidas, revelando uma claraboia que, originalmente, iluminava o Starlight Ballroom – salão onde estrelas como Ella Fitzgerald e Frank Sinatra se apresentaram. Hoje, esse espaço abriga uma piscina coberta de 25 metros, banhada por luz natural.

Por dentro, o projeto contou com a colaboração do designer francês Pierre-Yves Rochon para criar ambientes que evocassem tanto o passado quanto a sofisticação contemporânea. No saguão da Park Avenue, as camadas do teto foram removidas, a infraestrutura de iluminação modernizada e tudo foi reconstruído com base em um design antigo encontrado em fotos de época.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

No saguão de check-in, o famoso relógio do Waldorf Astoria – que por décadas serviu como ponto de encontro entre nova-iorquinos – foi desmontado, limpo e recebeu novas camadas de ouro e prata. Já na galeria, no andar superior, a equipe da empresa ArtCare restaurou cuidadosamente uma série de murais que retratam os 12 meses do ano e as quatro estações.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

Ainda no saguão, os arquitetos reduziram a quantidade de balcões de recepção: de uma longa fileira que, segundo Mahan, lembrava uma estação de trem, restaram apenas dois. No Grand Ballroom – onde os Beatles foram introduzidos ao Hall da Fama –, as paredes foram forradas com folhas de prata legítima e o espaço inteiro recebeu isolamento acústico.

Talvez uma das intervenções mais impressionantes tenha sido a restauração da passagem pública que atravessa o quarteirão – ligando a Park Avenue à Lexington Avenue.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

Quando foi projetado, em 1931, esse corredor foi concebido como uma experiência cinematográfica: um percurso por cinco saguões distintos, conectados por estreitamentos e aberturas que criavam uma sensação rítmica de movimento.

Até 2017, esses espaços estavam lotados de estruturas comerciais e acabamentos destoantes. Agora, o trajeto voltou a ser fluido, sofisticado e coerente com a proposta original.

reforma do hotel Waldorf Astoria, em Nova York
Crédito: Waldorf Astoria Nova York

O hotel enfrentou obstáculos como a pandemia de Covid-19, problemas na cadeia de suprimentos e até escândalo de corrupção – tudo isso antes de reabrir em um momento particularmente delicado para o turismo nos EUA.

Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, os EUA devem perder cerca de US$ 12,5 bilhões em receita com viagens este ano, sendo o único país, entre os 184 analisados, com previsão de queda no setor em 2025.

Mas, se tudo der errado (o que parece pouco provável, considerando o público que o hotel atrai), ao menos os nova-iorquinos terão de volta seu atalho favorito – agora mais luxuoso do que nunca.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais