Por dentro do endereço secreto que guarda os melhores trajes de Hollywood
O espaço está fechado ao público – mas um novo livro revela os tesouros dentro dele
Dentro de um labirinto de quase três mil metros quadrados, espalhado por quatro prédios conectados, existem salas repletas de tesouros históricos. Nelas, encontramos roupas vitorianas, vestidos dos anos 1920, trajes de gala de todas as épocas e até maiôs vintage.
No centro de tudo isso está um apartamento. E é ali que vive Melody Barnett, a rainha por trás do segredo mais bem guardado de Hollywood: o Palace Costume. Barnett é a dona deste acervo, que há décadas ajuda a dar vida às produções da indústria do cinema com seus figurinos autênticos. E, por isso, ela nunca para de trabalhar.
“Ela costuma acordar às quatro da manhã para trabalhar, porque mora ali mesmo”, conta a fotógrafa Mimi Haddon, cujo novo livro, “Palace Costume”, documenta essa coleção cheia de significado histórico e cultural.
É difícil medir o impacto que Barnett e seu acervo tiveram no cinema. Pense em filmes como “Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Bala”, “Flashdance - Em Ritmo de Embalo”, “De Volta para o Futuro”, “A Cor Púrpura”.
Também estão nessa lista “Os Fantasmas se Divertem”, “O Silêncio dos Inocentes”, “Malcolm X”, “Apollo 13”, “Forrest Gump”, “Boogie Nights: Prazer sem Limites”, “Titanic”, “O Aviador”, “A Vida Marinha com Steve Zissou”, “Johnny & June”, “Sangue Negro”, “Homem de Ferro”, “Trama Fantasma”, “Era Uma Vez em... Hollywood”, “Top Gun: Maverick”, “Oppenheimer”... e “Barbie”!
Haddon explica que o Palace Costume é um dos primeiros lugares que figurinistas visitam ao iniciar um projeto. “Pinterest e Instagram são ótimos para inspiração e design, mas não há nada como entrar em um lugar como o Palace Costume – poder tocar nas roupas, virá-las do avesso, ver como as costuras são feitas e perceber o cuidado com cada peça”, diz ela.
QUINHENTAS MIL PEÇAS HISTÓRICAS
Barnett vem de uma família de costureiras talentosas. A ideia do negócio começou a ganhar forma nos anos 1960, quando encontrou uma caixa cheia de vestidos vitorianos e eduardianos em um mercado de pulgas. As roupas estavam em péssimo estado, mas ela as restaurou, lavou, passou e engomou.
Depois que um amigo seu, dono de um antiquário, viu seu trabalho, sugeriu que abrissem uma loja juntos. Assim, nos anos 1970, em Los Angeles, eles inauguraram a primeira loja. As roupas vintage estavam começando a ganhar popularidade, e o negócio logo se tornou um sucesso.
Ao longo dos anos, eles abriram outras, e as peças de Barnett conquistaram celebridades como Diana Ross e Joni Mitchell – além de figurinistas de produções de TV e cinema.
Uma dessas figurinistas era Anthea Sylbert, que comprou peças para o filme “Chinatown”. Ela sugeriu que Barnett parasse de vender as roupas e passasse a alugá-las. Foi assim que nasceu o Palace Costume.
O lugar rapidamente se tornou referência para figurinos de todas as épocas e estilos, desde trajes históricos aos mais extravagantes e contemporâneos, a maioria adquirida em feiras e brechós.
Barnett comprou um prédio próximo à loja original, e, enquanto via seu negócio (e sua coleção) crescer, decidiu também adquirir um prédio vizinho. No início dos anos 2000, construiu um edifício de quatro andares no pátio ao lado. “Agora está começando a ficar apertado mais uma vez”, ela comenta. “Provavelmente terei que arranjar outro lugar em breve.”
Além de ser obcecada pela qualidade e preservação das peças, Barnett faz questão de manter o acervo do Palace organizado. Em vez de um galpão cheio de escadas e poeira, as 500 mil peças são separadas por período histórico.
Se um figurinista está trabalhando em um filme ambientado nos anos 1920, por exemplo, pode ir diretamente à seção de roupas masculinas, femininas e infantis dessa década.
Todo o acervo é controlado por um sistema interno que usa códigos de barras para catalogar as peças, com informações como período, tamanho e cor.
Apesar de ser um lugar fascinante, o Palace Costume está fechado ao público simplesmente porque não há espaço suficiente para mais ninguém além dos profissionais que trabalham lá. Por isso, o livro funciona como um portal para esse fantástico acervo.
Quanto ao futuro, Haddon menciona que as netas de Barnett, que são artistas e designers, frequentemente ajudam com o inventário e os expositores. Elas podem muito bem ser as futuras herdeiras de todo esse tesouro cinematográfico.