Projeto nos EUA aplica o modelo do WeWork para o ambiente escolar
Laboratório de Aprendizagem é uma espécie de “WeWork da educação”
Na cidade de Wichita, no Kansas, um novo tipo de escola de ensino fundamental e médio recebeu seus primeiros alunos este mês. Mas o Laboratório de Aprendizagem (Learning Lab) de mais de 13 mil metros quadrados, localizado no segundo andar da Union Station, um símbolo da cidade, não tem nada que se assemelhe a uma sala de aula convencional.
Durante a visitação pública, um grupo de alunos desenhou em quadros brancos móveis localizados em uma extremidade do longo andar bem iluminado. No movimentado espaço de criação, as crianças recortaram cartolina para fazer colagens, enquanto os alunos de diferentes séries se reuniam em uma cabine telefônica nas proximidades.
O Laboratório de Aprendizagem é, na verdade, composto por quatro microescolas, públicas e privadas, que compartilham o mesmo espaço. No ano letivo de 2024 a 2025, 60 alunos frequentarão as aulas em tempo integral (a capacidade total é de 220 alunos). Danish Kurani, o arquiteto que desenvolveu a composição espacial do projeto, o compara a uma escola de um único ambiente.
“ Debaixo de um único teto, é possível acomodar diversas propostas educacionais?” pergunta Kurani. “Nós nos colocamos no lugar de um empresário do setor de educação que está tentando lançar ou desenvolver uma escola e mostrar ao mundo uma nova maneira de fazer as coisas. Do que ele precisa? Que tipo de experiência seria melhor para a comunidade escolar?”
NOVA ARQUITETURA PARA NOVOS MODELOS DE EDUCAÇÃO
O Laboratório de Aprendizagem foi desenvolvido pela Stand Together, organização filantrópica fundada pelo bilionário Charles Koch em 2003. A organização acredita que, para que a educação melhore, é necessário que haja mais concorrência no setor.
Mas essa é uma proposta desafiadora, já que as barreiras para tentar um novo modelo de escola são enormes. Entre os muitos desafios – financiamento, desenvolvimento de um currículo e encontrar pais interessados em enviar seus filhos para uma escola não convencional –, os imóveis e equipamentos estão no topo da lista. Custa caro construir um espaço capaz de abrigar novas ideias.
Por fim, o desafio levou a uma pergunta: como seria uma versão da WeWork das escolas? O modelo dessa empresa de coworking, que oferece aluguéis fracionados em um espaço bem equipado, foi um divisor de águas para os negócios e poderia fazer o mesmo para a educação.
“Trazer esse conceito da WeWork para a educação vem da ideia de oferecer um espaço que possa hospedar e incubar diferentes modelos de escolas, ideias de escolas e oportunidades de aprendizado personalizado”, explica Lydia Hampton, diretora administrativa do Laboratório de Aprendizagem.
“Não somos contra as escolas públicas. Não somos contra as privadas. Somos a favor de todas. Mas acreditamos que todas elas podem ser melhores. Então, como podemos fazer parcerias com líderes do setor de educação e famílias para ajudá-los a descobrir o que é melhor?”
BEM-VINDO AOS “BAIRROS”
Embora a co-localização de escolas em um prédio não seja uma ideia nova, raramente o prédio é projetado para várias microescolas com educadores interessados em testar novas ideias.
O espírito do Laboratório de Aprendizagem é que tanto os alunos quanto os professores possam conhecer as diferentes técnicas que seus colegas estão desenvolvendo e talvez encontrar algo que funcione melhor para eles.
Não é muito diferente do conceito de um centro de inovação – os prédios de ensino superior projetados para proporcionar encontros informais entre pesquisadores que podem levar a uma grande descoberta.
Kurani, que colaborou com a empresa de arquitetura local Alloy no projeto, é especialista em projetar espaços educacionais experimentais, como a Code Next Academy, em Oakland; a Khan Lab School, em Mountain View; e a Riverbend School, na Índia. Para criar o Laboratório de Aprendizagem, ele se baseou em muitas das ideias presentes nesses projetos.
“Acho que, muitas vezes, quando dizemos aos professores: 'esta é a sua sala de aula', é como se estivéssemos dando a cada um deles um estúdio”, diz ele. “Eles precisam tentar descobrir como fazer tudo lá dentro: expor a matéria para as crianças, fazer com que elas pesquisem, colaborem, projetem."
Segundo o designer, a proposta do Laboratório de Aprendizagem é garantir que os professores não fiquem presos a nenhuma sala de aula. "Oferecemos uma grande diversidade de espaços diferentes e, em seguida, eles se deslocam de acordo com o que precisam naquele momento”, explica.
Para isso, Kurani dividiu o Laboratório de Aprendizagem em vários “bairros”. Cada um deles tem um espaço que “pertence” a uma microescola, bem como uma comodidade comum – como o espaço de criação, o estúdio digital ou a cozinha –, o que incentiva todo mundo a usar o prédio inteiro.
“A proposta é que o seu ‘bairro’ seja, de certa forma, incompleto”, explica Kurani. “Assim eles terão que frequentar alguns desses outros ‘bairros’.”
As quatro escolas que atualmente operam no Learning Lab são Khan Lab School Wichita, Guiding Light Academy, Wichita Independent Secular Educators (um grupo de ensino domiciliar) e Creative Minds, uma microscola que faz parte da iniciativa Escolas Públicas de Wichita, lançada para trazer de volta os alunos que deixaram o distrito.
A esperança é que, eventualmente, todos se formem em suas próprias escolas dentro do laboratório, dando lugar a uma nova leva de alunos – como acontece com empresas que crescem e acabam deixando um espaço compartilhado como o WeWork.