Restrições e mais responsabilidades: o design entra em uma nova fase
Nem todos os líderes do setor estão aplaudindo a mudança em curso, que valoriza mais a utilidade e a escala do que a criatividade
Em um artigo recente da Fast Company intitulado “The big design freak-out” (O grande surto do design, em tradução livre), o autor Robert Fabricant relatou uma onda de saídas de executivos e de redução de departamentos. O texto sugeria que a lua de mel das empresas com o design está esfriando.
Embora algumas delas, de fato, estejam desvalorizando o design – porque não entendem seu valor ou porque não o integraram adequadamente –, Fabricant observa que, em muitas, o papel do design simplesmente evoluiu do “modo de construção” para uma função corporativa, com métricas e um conjunto diferente de partes interessadas a agradar.
Esse é um sentimento partilhado por Andrew Anagnost, presidente e CEO da empresa de software Autodesk. Por muito tempo, a Autodesk foi mais conhecida pelo AutoCAD, a ferramenta de projeto arquitetônico. Mas seu portfólio hoje inclui ferramentas para designers de produtos, engenheiros, empresas de construção, estudantes e empresas de mídia e entretenimento.
“Costumávamos ser uma empresa de software de projeto”, diz Anagnost. “Agora somos uma empresa de 'design e produção'. Mudamos nossa ênfase: de um software que funcionava isoladamente, antes, para soluções de 'projetar e fabricar', que ajudam a entender não apenas o que você está projetando, mas também como o objeto é construído, como as pessoas o usarão e como ele se comportará ao longo de seu ciclo de vida.”
Anagnost diz que o software da Autodesk ajuda um ecossistema expandido de fabricantes a trabalharem em conjunto para serem mais eficientes e eficazes em um ambiente cada vez mais complexo e competitivo.
Clientes como engenheiros civis e estruturais, arquitetos e até designers de games, “todos têm um desafio de capacidade”, acrescenta. “Eles não têm recursos suficientes, não têm tempo suficiente e não têm materiais suficientes para construir e reconstruir tudo.”
A tecnologia, incluindo a inteligência artificial, pode ajudar. Anagnost cita o exemplo do The Phoenix, um novo projeto de moradia acessível em West Oakland, na Califórnia.
A MBH Architects usou o software Autodesk com tecnologia de IA para analisar planos de projetos anteriores e gerar projetos que atendessem aos critérios do novo projeto.
Assim, os arquitetos conseguiram usar as ferramentas para fazer ajustes para, por exemplo, minimizar o ruído da rua ou reduzir os custos. A MBH diz que foi capaz de produzir um pacote de projeto inicial em cerca de seis horas – um processo que, normalmente, leva duas semanas.
O COMPROMISSO DO PROJETO
Os arquitetos, construtores e fabricantes de materiais do projeto também usaram o software para colaborar no desenvolvimento de uma fachada pré-fabricada, o que reduz o tempo de construção. E, como os planejadores queriam que as casas fossem sustentáveis, a fachada tem um núcleo feito de micélio, um fungo semelhante a uma raiz que captura carbono.
O texto de Fabricant sobre a crise do design observa que nem todos os líderes do setor estão aplaudindo essa mudança da criatividade para a utilidade e a escala. Mas, para alguns designers e para aqueles com quem trabalham, esses novos desafios podem ser revigorantes e podem produzir melhores resultados.
“Todo design que é lançado no mundo é um compromisso entre tempo, orçamento e recursos. Tudo o que pudermos fazer para acelerar esses compromissos aumenta a probabilidade de que o projeto atinja o que as pessoas realmente esperam dele – que ele dure mais, seja mais utilizável, mais atraente e construído de forma mais sustentável”, diz Anagnost.