Startup usa IA para fazer animações tridimensionais 100 vezes mais rápido
Nova plataforma permite gerar animações 3D de alta qualidade a partir de textos, vídeos e performances ao vivo

Depois de transformar diversas indústrias e automatizar tarefas repetitivas, a inteligência artificial está pronta para revolucionar o universo da animação.
Em 2024, o diretor e roteirista Tom Paton lançou, por meio do estúdio AiMation, o longa “Where the Robots Grow” (Onde os Robôs Crescem) , totalmente animado com IA.
A produção – incluindo animação, vozes e trilha sonora – foi inteiramente gerada por inteligência artificial, com um custo de apenas US$ 8 mil por minuto. O orçamento total do filme, de 87 minutos, ficou em torno de US$ 700 mil.
Embora avaliações no site especializado em cinema IMDB tenham classificado a obra como “sem alma e sem inspiração”, ela provou que é possível produzir animações com uma fração do custo usando inteligência artificial.
E não para por aí. Desenvolvedores independentes de games agora conseguem criar personagens e mundos em questão de horas, em vez de semanas. Criadores de conteúdo no TikTok e em outras redes sociais podem animar personagens próprios sem depender de grandes estúdios. E grandes marcas têm acesso a uma nova forma de contar histórias envolventes sem ter que lidar com os prazos e custos da animação 3D.
Mas a maioria das ferramentas ainda é lenta, cara e exige conhecimento técnico. Foi pensando nisso que um grupo de desenvolvedores com experiência em empresas como OpenAI, Google, Pixar e Riot Games criou o Cartwheel, uma plataforma de animação 3D que utiliza tecnologia de inteligência artificial.
A proposta é tornar a animação de personagens 3D acessível, simples e até 100 vezes mais rápida. Com a ferramenta, o usuário pode gravar movimentos com um celular, descrever uma cena em texto ou selecionar ações do acervo da plataforma.
A IA transforma essas entradas em animações prontas para produção. O artista pode refiná-las diretamente no Cartwheel ou exportá-las para ferramentas como Unity, Unreal Engine, Maya ou Blender, sem precisar alterar nada em seu processo.
A equipe reúne veteranos das indústrias de cinema, games e design interativo.
A startup foi fundada por Andrew Carr, ex-cientista da OpenAI que trabalhou no desenvolvimento do Codex e na geração de código do ChatGPT, e por Jonathan Jarvis, ex-diretor criativo do Google Creative Lab e fundador do estúdio de animação Universal Patterns.
Após dois anos de desenvolvimento em sigilo, a plataforma começa a ganhar visibilidade. Mais de 60 mil animadores, desenvolvedores e criadores se inscreveram na lista de espera. Entre os primeiros usuários estão profissionais de empresas como DreamWorks, Duolingo e Roblox.
“Garantir que as animações geradas tenham a escala correta, movimentos naturais e consistência do início ao fim foi um dos maiores desafios”, afirma Carr.
IA DE ANIMAÇÃO 3D PENSADA PARA CRIADORES
Mesmo em um mercado cada vez mais competitivo, o Cartwheel aposta em um diferencial importante: em vez de substituir os artistas, quer ampliar o potencial criativo deles.
“Nossos modelos de movimento geram animações úteis de forma rápida, mas não fazem tudo sozinhos. Por isso, adotamos uma abordagem híbrida. O computador identifica padrões, mas quem dá alma ao trabalho é o artista”, explica Jarvis.
A equipe por trás da plataforma reúne profissionais veteranos das indústrias de cinema, games e design interativo. “Alguns nos procuraram, outros fomos atrás. Com o tempo, percebemos que todos compartilhavam o mesmo objetivo: tornar a arte de contar histórias mais rápida, simples e impactante”, disseram Carr e Jarvis em entrevista à Fast Company.
“Hoje, a cultura digital é moldada por ambientes imersivos e interativos como Fortnite, Minecraft e Roblox – todos centrados em animação. Estamos desenvolvendo ferramentas voltadas para esse futuro, e isso tem chamado a atenção de quem entende do assunto.” O feedback dos usuários também ajudou a moldar a plataforma.
A proposta é tornar a animação de personagens 3D acessível, simples e mais rápida.
"Começamos focando na geração de animações a partir de texto. Mas, durante a fase beta, percebemos que muitos preferem explorar movimentos, usar vídeos de referência ou até fazer os próprios gestos, por isso evoluímos para uma interface multimodal”, conta Carr.
Um dos grandes obstáculos do uso de inteligência artificial na animação é a escassez de dados de qualidade. A maioria dos conjuntos disponíveis é proprietária ou pouco diversa. Para contornar isso, o Cartwheel tem apostado em dados sintéticos – animações geradas por IA que simulam movimentos reais – para treinar e aprimorar seus modelos.
“As próximas gerações de empresas de IA vão precisar encontrar, organizar e melhorar esses dados. É aí que está o verdadeiro valor”, destaca Carr.