Toque quase humano: tecnologia permite sentir o mundo digital com os dedos

Pesquisadores desenvolvem primeiro dispositivo a atingir a chamada “resolução humana”, algo próximo da forma como a ponta dos dedos reconhece o mundo

Toque quase humano
Créditos: Northwestern University (Divulgação) / Engin Akyurt, Nareeta Martin via Unsplash

Adele Peters 2 minutos de leitura

Basta colocar um pequeno dispositivo na ponta do dedo e deslizá-lo sobre uma superfície lisa, como a de uma tela sensível ao toque, para sentir diferentes texturas – como jeans ou a malha de um tecido.

Desenvolvido por pesquisadores da Northwestern University, nos Estados Unidos, este é o primeiro wearable a alcançar a chamada “resolução humana”. Na prática, isso significa que ele é capaz de reproduzir com fidelidade a maneira como nossos dedos reconhecem o mundo ao redor.

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Em tentativas anteriores de criar dispositivos hápticos semelhantes, “quando você compara com texturas reais, percebe que ainda falta alguma coisa”, explica Sylvia Tan, doutoranda da Northwestern envolvida no projeto e uma das autoras do estudo publicado na revista “Science Advances”. “Chega perto, mas não é igual. O que estamos tentando fazer é dar esse último passo.”

Crédito: Northwestern University

O dispositivo é feito de látex flexível, tão fino quanto papel, e conta com pequenos pontos que pressionam a pele de forma precisa, podendo se mover até 800 vezes por segundo. Tecnologias anteriores tinham baixa resolução – algo parecido, no tato, com uma imagem pixelada ou com um filme muito antigo, em que o movimento parece quebrado. Ao organizar esses pontos em uma densidade específica, os pesquisadores conseguiram aumentar significativamente o nível de detalhe da sensação.

Outro problema dos modelos anteriores era o tamanho. Muitos eram grandes, pesados e pouco práticos. Já essa nova versão ultrafina, que pesa menos de um grama, foi pensada para ser confortável de usar. “Um dos nossos principais objetivos era que fosse tão leve que a pessoa quase nem percebesse que está usando”, diz Tan. “E também criar algo que chamamos de ‘transparência do ponto de vista háptico’ – ou seja, mesmo com o dispositivo no dedo, você continua sentindo o mundo real e consegue realizar tarefas do dia a dia.”

No estudo, os participantes conseguiram identificar tecidos como veludo cotelê e couro com 81% de acerto. A tecnologia ainda está em fase de desenvolvimento, mas, no futuro, pode permitir que as pessoas sintam produtos enquanto fazem compras online.

Crédito: Northwestern University

Ela também pode ter aplicações mais imediatas para pessoas com deficiência visual, como possibilitar a leitura de mapas táteis ou transformar textos exibidos na tela em braille, sem a necessidade de dispositivos grandes e caros. Em aparelhos como micro-ondas, que substituíram os botões físicos por telas, o wearable poderia ajudar uma pessoa com deficiência visual a saber exatamente onde tocar.

Ele também pode melhorar a forma como humanos interagem com robôs. “Na área médica, o robô Da Vinci já oferece um retorno de força muito bom”, afirma Tan. “Mas fazer com que um cirurgião sinta exatamente o que acontece na ponta do dedo ao mudar o ângulo do movimento ainda é um desafio. E isso é fundamental para profissionais que realizam tarefas de alta precisão.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais