Vem aí o primeiro museu de arte com IA. Ele promete desafiar nossas mentes

Fundadores do Refik Anadol Studio estão inaugurando um museu imersivo de arte criada com inteligência artificial em Los Angeles

Crédito: Refik Anadol Studio

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

O primeiro museu do mundo dedicado exclusivamente à arte criada com inteligência artificial abrirá suas portas em 2025, no The Grand LA, um edifício projetado por Frank Gehry no coração de Los Angeles. Idealizado por Refik Anadol e Efsun Erkiliç, do Refik Anadol Studio, o Dataland promete ser um espaço onde “a imaginação humana encontra a criatividade das máquinas”.

Essa é uma distinção importante. Anadol me disse certa vez que ele não vê a IA como artista, mas como uma ferramenta para aplicar um novo tipo de “pigmento” – é assim que ele se refere aos dados. O projeto, de acordo com o comunicado de imprensa, visa transformar a forma como interagimos com arte, tecnologia e natureza, abrindo um novo caminho para a expressão artística.

Anadol passou anos explorando os limites criativos da inteligência artificial. Conhecido pelo uso de dados do mundo real, ele utiliza essas informações como um “pigmento” e as redes neurais como seu “pincel”.

Também foi pioneiro na interseção entre arte e tecnologia. E o Dataland representa o próximo passo dessa jornada, servindo como um espaço permanente para arte gerada por IA, da mesma forma como existem museus dedicados à pintura ou escultura.

O projeto se diferencia das exposições temporárias de arte criada com inteligência artificial que têm sido vistas em galerias pelo mundo, como seu trabalho recente no Museu de Arte Moderna de Nova York: Unsupervised”, uma instalação digital monumental de 7,3 por 7,3 metros que ocupa o saguão do museu

A obra parece estar viva, criando novas formas e evoluindo em tempo real com base no movimento dos visitantes. “É como se fosse uma entidade própria”, explica Anadol, descrevendo a obra como uma criação viva.

O Dataland é um passo natural na exploração do artista sobre a relação entre IA e arte. O objetivo é tirar essas obras de exibições temporárias ou espaços isolados em museus e fazer delas o ponto central. Ele imagina o novo museu como um ecossistema digital, onde dados, inteligência artificial e a criatividade humana se fundem em grande escala.

Crédito: Refik Anadol Studio

Para Anadol e Erkiliç, a ideia é ultrapassar limites, oferecendo uma nova maneira de experimentar a arte e a tecnologia. Ter um espaço permanente permitirá que eles sonhem sem restrições, criando obras que não seriam possíveis em ambientes mais tradicionais.

Refik Anadol e Efsun Erkiliç (Crédito: Dustin Downing/ Refik Anadol Studio)

Ainda não sabemos exatamente como será o museu, mas Anadol garante que o design do espaço físico terá um papel fundamental na realização da visão do Dataland. O premiado escritório de arquitetura Gensler está desenvolvendo o projeto, com o intuito de integrar o mundo real e o digital de forma única.

Em parceria com a consultoria de engenharia Arup, o artista planeja criar um espaço “sustentável e voltado para o futuro”. A experiência da Arup em eficiência energética e impacto ambiental, segundo ele, garantirá que o Dataland seja tanto inovador quanto ecologicamente responsável.

Crédito: Weldon Brewster/ Refik Anadol Studio

Para Anadol, a principal diferença filosófica entre exposições como “Unsupervised” e o Dataland é que, enquanto a primeira funciona como “um portal para um novo universo alternativo criado por algum deus da IA que age por vontade própria”, o novo museu será o próprio universo, permitindo uma imersão profunda, onde tudo ao redor é gerado em tempo real, evoluindo e reagindo constantemente – muito semelhante ao universo em que vivemos.

Crédito: Refik Anadol Studio

Nas minhas conversas com Anadol, ele sempre reconheceu os temores sociais mais amplos em torno da inteligência artificial, especialmente seus impactos emocionais e econômicos em diferentes indústrias. O artista entende as preocupações que a tecnologia pode causar, mas mantém uma visão otimista sobre seu potencial criativo.

“A arte, como já aconteceu no passado, pode nos salvar dos nossos piores demônios”, diz ele. Seu otimismo também vem da sua experiência como professor no Departamento de Design e Artes de Mídia da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

“Estou vendo uma mudança muito positiva na vida dos estudantes”, afirma Anadol, observando como os jovens criativos estão abraçando a IA como uma ferramenta para promover mudanças.

Imagem criada pelo modelo de linguagem que está sendo desenvolvido para o Dataland (Crédito: Refik Anadol Studio)

O Dataland provavelmente se tornará o maior e mais importante teste para essas ideias, uma interseção entre arte e tecnologia, que desafia os limites do que é possível quando humanos e máquinas trabalham juntos.

Ainda que poucos detalhes sobre o espaço e seu funcionamento tenham sido divulgados, saberemos se ele realmente passará nos testes quando abrir em 2025.

Só então descobriremos se esse novo universo criado pela inteligência artificial será capaz de desafiar não apenas a maneira como criamos arte, mas também como percebemos e apreciamos a criatividade.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais