5 pontos para ficar de olho na 27ª conferência do clima

A COP27, que começa dia 6 de novembro, sediará negociações de alto risco sobre equidade, compromissos financeiros e metas climáticas

Crédito: Istock

Kristina Wyatt e Anissa Vasquez 5 minutos de leitura

Os extremos climáticos de 2022 e a crise geopolítica já tinham nos dado pistas de que as tensões nas negociações climáticas iriam se intensificar. Até agora, só neste ano, assistimos à China e ao Paquistão sendo devastados por inundações, à Europa enfrentando o seu verão mais quente em 500 anos e a grandes furacões sendo formados no Atlântico – todos eventos exacerbados pelas mudanças climáticas.

A frequência acelerada de eventos climáticos extremos, junto com a crise geopolítica na Ucrânia causada pela invasão russa, culminou em um cenário para negociações de alto risco para a COP27, que acontece em Sharm el-Sheikh, no Egito.

A 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP27) se reunirá para uma rodada completa de negociações. Os tópicos de discussão incluirão questões como a transição para uma nova etapa das metas estabelecidas entre os países que participam do Acordo de Paris, as Contribuição Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), as negociações de igualdade climática e as discussões sobre financiamento de adaptação climática.

Como em todos os eventos da COP, haverá muito barulho e muitos esforços, agora mais envergonhados, para abafá-lo.  Durante as negociações deste ano, vale a pena ficar de olho nos seguintes pontos: 

1. Os compromissos climáticos dos países serão testados

Sameh Shokry, presidente designado da COP27, disse que o objetivo da conferência deste ano é focar na implementação dos compromissos assumidos na COP26. De acordo com a análise da organização sem fins lucrativos Climate Action Tracker, apenas 19 dos 193 países realmente cumpriram suas promessas até junho deste ano.

O sucesso na COP27 exige o fortalecimento das NDCs para reduzir o aquecimento estimado do planeta.

Tom Evans, da E3G, um think tank (laboratório de ideias) de diplomacia climática, disse à Bloomberg: “o importante a lembrar é que o foco deste ano é a implementação. É verificar como cumprimos nossos compromissos.”

O sucesso na COP27 exige o fortalecimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para reduzir o aquecimento estimado do planeta. Ao final da COP26, o Pacto Climático de Glasgow havia solicitado que os países reforçassem as metas de 2030 até o final de 2022, a fim de alinhar suas NDCs com a meta de temperatura de 1,5 graus celsius do Acordo de Paris

2. Não espere grande comprometimento dos CEOs

No ano passado, grandes instituições financeiras e empresas como BlackRock e Microsoft enviaram seus CEOs e líderes climáticos para falar e participar das rodadas de negociações, fazendo promessas ao longo do caminho. Neste ano, porém, é melhor não esperar tanto deles – o que não é, necessariamente, uma coisa ruim.

Kirsten Snow Spalding, diretora sênior de programas da Ceres Investor Network, disse à agência de notícias Politico: “os principais CEOs assumem compromissos e sua equipe os implementa. Para mim, esse é um bom motivo para vermos um grupo diferente de pessoas chegando.”

3. Equidade climática será tema central

Em 2009, na COP15, nações ricas, incluindo EUA, Reino Unido, França, Japão e Itália, se comprometeram a enviar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para países de baixa e média renda, a fim de ajudá-los a reduzir as emissões e financiar a ação climática. Este financiamento, porém, não foi totalmente entregue.

Em seus comentários pré-COP27, António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou: “o mundo precisa de muita clareza por parte dos países desenvolvidos sobre em que pé estão no cumprimento das promessas de US$ 100 bilhões por ano para apoiar a ação climática nos países em desenvolvimento”.

o mundo precisa de muita clareza por parte dos países desenvolvidos sobre em que pé estão no cumprimento das promessas de financiamento.

Além disso, as consequências de não cumprir esses compromissos não podem ser subestimadas. Muitos preveem que a COP deste ano ficará num impasse se as promessas de financiamento forem quebradas.

Espera-se, portanto, que os países deem um parecer honesto sobre seu progresso e sobre como pretendem cumprir esses compromissos financeiros na COP deste ano. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) descobriu que, em 2022, US$ 83,3 bilhões foram fornecidos por nações ricas a países de baixa e média renda, valor US$ 16,7 bilhões abaixo da meta firmada em 2020.

4. Compromisso com perdas e danos será a chave para manter a confiança entre as nações

Os países de baixa e média renda vêm sendo desproporcionalmente afetados por desastres climáticos. O financiamento de perdas e danos de países desenvolvidos destina-se a compensar parcialmente esse prejuízo, mas até agora tem sido difícil para os países concordarem sobre como isso deve ser feito.

É importante notar que esse tipo de compensação é diferente do financiamento de adaptação, que pode reduzir a quantidade de perdas e danos, mas que não cobre todas as necessidades de financiamento de um país. O secretário-geral da ONU enfatizou que as decisões sobre perdas e danos devem ser tomadas nesta COP, porque uma “falha em agir” pode causar “mais perda de confiança e mais danos climáticos”.

5. Retrocesso por pressões geopolíticas, econômicas e políticas

Embora haja consenso sobre a necessidade de implementação na COP deste ano, também há uma sensação de que o caminho para o zero líquido está cheio de obstáculos, ameaçado pela crise geopolítica na Ucrânia, pelos ventos políticos contrários nos EUA e pela iminente recessão global.

Outra preocupação é a percepção do enfraquecimento dos compromissos do ano passado pela Glasgow Financial Alliance on Net Zero (GFANZ). Essa coalizão global é composta pelas principais instituições financeiras comprometidas em acelerar a descarbonização, garantindo que os subsetores financeiros assumam compromissos líquidos críveis, respaldados por metas robustas e planos de transição.

Nas semanas que antecederam a Semana do Clima, em setembro, dois fundos de pensão deixaram a GFANZ com pouca ou nenhuma explicação. Quando ainda se recuperava desse baque, o GFANZ levou outro golpe quando Morgan Stanley, JPMorgan e Bank of America ameaçaram deixar a aliança por riscos legais.

Se o GFANZ desmoronar, será um duro golpe na confiança e na credibilidade entre as principais partes que participam da COP27 – e justamente em um momento tão crítico, em que a confiança é essencial.


SOBRE A AUTORA

Kristina Wyatt é vice-conselheira geral e vice-presidente sênior de divulgação climática regulatória global na Persefoni. Anissa Vasqu... saiba mais