Apesar do tamanho, este caminhão é projetado para ser carbono-zero
Retrofit substituiu o diesel por uma bateria e células de combustível de hidrogênio
Olhando assim, nas fotos, esse tipo de caminhão usado para mineração parece até um brinquedo de criança. Pessoalmente, porém, é absurdamente enorme – tem entre dois e três andares de altura e mais de 15 metros de comprimento, sendo capaz de transportar 300 toneladas de rochas. Se você ficasse na frente dele, sua cabeça iria, no máximo, ficar na mesma altura do centro de uma roda.
A versão funciona consumindo uma enorme quantidade de diesel. Em um ano, um único caminhão desses emite a mesma poluição que 700 carros. E milhares desses veículos gigantes estão em uso ao redor do mundo.
Mas um novo retrofit (termo da engenharia para designar o processo de modernização equipamentos considerados ultrapassados) pode reduzir as emissões a zero. A startup de engenharia First Mode passou os últimos meses testando um protótipo com a gigante da mineração Anglo American, que agora planeja implantar a mesma tecnologia em centenas de outros veículos.
Embora não seja difícil construir um carro elétrico, o tamanho gigante do caminhão dificultou este redesenho. “É um desafio de energia do tamanho de um bairro”, diz o cofundador da First Mode Chris Voorhees.
“Os veículos consomem cerca de dois megawatts de potência – o equivalente a cerca de mil a 1,5 mil residências. Então, estamos tratando de um problema de energia em escala de utilidade, em um veículo off-road que opera em ambientes difíceis.”
Os caminhões precisam ser enormes para operar com eficiência, diz o CEO Julian Soles, que ingressou na empresa depois de trabalhar nas etapas iniciais do projeto como chefe de desenvolvimento de tecnologia, mineração e sustentabilidade da Anglo American.
São as minas que escolhem o tamanho dos veículos “com base na quantidade de material que precisam mover antes de chegar ao minério valioso”, ele explica. O uso de caminhões menores também causaria engarrafamentos e outros problemas logísticos.
O retrofit precisou se encaixar perfeitamente nas operações existentes, sem comprometer o desempenho.
O novo design substitui o motor a diesel por uma combinação de bateria e células de combustível de hidrogênio. Não é um substituto de um para um para o combustível diesel de alta densidade energética. “O diesel é usado porque é incrível – é um ótimo combustível, exceto pelo incômodo problema de destruir a Terra gradualmente”, ironiza Voorhees.
Antes, o caminhão era abastecido uma vez por dia. Agora, precisa ser abastecido três vezes em um turno de oito horas (o abastecimento leva cerca de 20 minutos, tempo semelhante ao do diesel). Mas, ajustando o processo de reabastecimento, o caminhão ainda pode transportar a mesma quantidade de material todos os dias, que é a métrica que mais importa para as mineradoras.
Os testes-piloto do primeiro caminhão adaptado começaram em maio de 2022 em uma mina da Anglo American na África do Sul e, no segundo semestre, o caminhão já estava em uso regular. Ao testá-lo em uma mina ativa, os engenheiros obtiveram feedback crítico e os trabalhadores ficaram mais à vontade com a nova tecnologia.
“A mineração é um negócio bastante conservador e avesso ao risco”, diz Voorhees. “Eles não gostam de mudar as coisas. É uma atividade que cresceu organicamente ao longo de centenas de anos. Essa mudança é como arrancar o sistema circulatório da mina e colocar algo novo no lugar.”
Quando a empresa começou a trabalhar no projeto, havia poucas opções para as mineradoras descarbonizarem. Mas essas empresas estão procurando outras respostas. A Anglo American pretende alcançar emissões líquidas zero até 2040.
Os caminhões são apenas uma parte do problema. Rochas de britagem e fundição também são fontes importantes de emissões. E, é claro, cavar buracos gigantes acarreta outros desafios ambientais. Mas mudar para o hidrogênio pode fazer uma diferença significativa.
A Anglo American sozinha usa quase um bilhão de litros de diesel por ano, a maior parte em caminhões gigantes. E a mineração terá que continuar a crescer para atender à demanda por baterias em veículos elétricos e energia renovável.