Brasil vai liderar a virada ESG do mundo. Mas precisa ser agora

Fundador do Pacto Global da ONU explica que mercado precisa apertar o acelerador para o pensamento sustentável

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Camila de Lira 3 minutos de leitura

O Brasil tem papel fundamental para acelerar a discussão sobre sustentabilidade no mundo em um momento crucial para a existência do planeta. Empresas e líderes brasileiros já se conscientizaram que, se não fizerem nada, a crise climática vai ganhar a corrida da transformação radical.  

“O Brasil está bem posicionado para ser líder de sustentabilidade no mundo. Mas, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, diz Georg Kell, fundador do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). O executivo é um dos principais nomes quando o assunto é sustentabilidade e setor privado.

Criado em 2000, o Pacto Global é uma iniciativa para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade sócio-ambientais. Atualmente, o acordo tem mais de 21 mil participantes, dois mil deles no Brasil.

Georg Kell, fundador do Pacto Global da ONU (Crédito: Divulgação)

Local da maior biodiversidade do planeta, o país também responde pela maior parte do território da floresta amazônica. As proporções geográficas e populacionais engrossam a potência brasileira.

Tudo isso passa a ser um vetor negativo quando se pensa nos riscos da crise climática. “O Brasil está na linha de frente das ameaças climáticas, seja de secas ou de enchentes”, diz o executivo.

Qualquer negócio criado por aqui precisa ter o impacto sócio-ambiental como parte da estratégia, caso contrário, estão trabalhando em favor dos fatores de risco. Usando o linguajar que o mercado entende: estão atuando para deixar os custos ainda mais altos. 

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O Brasil também é visto como pioneiro o assunto é sustentabilidade. Foi em terras brasileiras que Kell – e boa parte da comunidade internacional – se motivou a falar sobre o tema nas empresas, a partir da Eco-92.

“A Eco-92 foi a 'mãe' da sustentabilidade na comunidade internacional. Todos os acordos intergovernamentais e pactos com empresas surgiram dalí.”

Quando criou o pacto, nos anos 2000, o executivo olhou para ações que estavam acontecido no Brasil como inspiração. Principalmente no Instituto Ethos, que foi fundado em 1998 a partir do conceito de responsabilidade social empresarial. Para Kell, não há razão para o Brasil não tomar a frente do debate do movimento ESG novamente.

CRIATIVIDADE DESTRUTIVA

Kell acompanhou o ESG desde antes mesmo de existir a sigla. Ele lembra que, por muitos anos, as conversas sobre ações sustentáveis giravam em torno de poucas áreas nas empresas. Quase nunca envolvendo os CEOs.

“Essa é a principal mudança, porque agora a conversa está nos conselhos de administração, está nas diretorias e com os CEOs. Não é mais uma ação para aparecer bem na foto. Sustentabilidade, hoje, é uma questão estratégica porque abarca riscos e oportunidades reais”, analisa Kell.

Apesar dos passos importantes, das COPs e de todos os acordos e pactos que surgiram, o planeta vive seu ano mais quente até agora. e com os índices de emissão de gases de efeito estufa superando recordes ano a ano.

Para Kell, isso tudo cria pressões para que setores diferentes da sociedade passem a agir, desde reguladores até empresários, passando pelos consumidores.

Sem meias palavras, mas ainda otimista, Kell indica que a crise climática vai forçar a transformação não só das companhias, mas de toda a sociedade. “A natureza vai forçar a nossa mudança, a gente querendo ou não”, comenta.

A escolha é se o mercado vai se transformar pela visão estratégica ou pelo pânico. Kell quer acreditar na primeira opção, mas não descarta a última para alguns setores. Segundo ele, segmentos como o de combustíveis fósseis correm o risco de se tornarem obsoletos no futuro. 

O que não significa que as companhias precisam se resignar e deixar o tempo agir, mas mudar nesse momento. Kell chama esse processo de “destruição criativa”: uma remodelagem dos negócios dentro do pensamento sustentável. Um objetivo que não é um ponto fixo, mas uma jornada.

“Ser um negócio sustentável é uma jornada que muda com o tempo, não existe um ponto final”, afirma.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais