Canvas focado em ESG quer regenerar lucrando e lucrar regenerando

Baseado no Business Model Canvas, novo framework desafia quadrantes tradicionais pela ótica ESG

Crédito: Kosamtu/ iStock

Rafael Farias Teixeira 4 minutos de leitura

O Business Model Canvas (BMC), criado por Alex Osterwalder, é uma das ferramentas criativas mais usadas no ambiente de negócios. "Ferramentas criativas e frameworks são uma maneira de fazer nosso pensamento ir por novos caminhos e recrutar diferentes repertórios, a partir de uma nova ideia, um novo ponto de vista", explica Erlana Castro, especialista em estratégia criativa ESG, professora convidada da Fundação Dom Cabral e idealizadora da rede criativa #ESGpraJÁ.

"É sobre (re)perceber as questões que estão em pauta e, a partir daí, explorar possibilidades que pareciam fora do radar", diz Erlana, que lançou recentemente o Business Model (RE)Generation Canvas.

Em lugar de criar um framework novo, Erlana e seu time "hackearam" o modelo de Osterwalder para que as comunidades de startups, scaleups, inovação, estratégia, marketing e criatividade incorporem rapidamente novas provocações relacionadas a ESG. O grupo, que conta com 30 pessoas, computou cerca de 210 horas de estudo e atividade de cocriação – sem contar mais horas investidas nos textos finais, edição, revisão e layout.

Segundo ela, a intenção com esse material é avançar a discussão original do BMC, provocando novas análises estratégicas e sínteses criativas, aplicadas ao âmbito ESG. Por ter uma  licença de propriedade intelectual Creative Commons, as pessoas podem distribuir, alterar ou mesmo reinterpretar o (RE)Generation Canvas, desde que a fonte original seja citada.

PROVOCAÇÕES CRIATIVAS

"Nós gostamos de distinguir que não produzimos conteúdo, produzimos conhecimento", diz Erlana. Conhecimento de alto nível, útil, amplo, profundo, aplicável imediatamente, desenvolvido por uma comunidade de prática experiente e com muita casuística. "Além disso, mantemos o canal aberto para continuar evoluindo a ferramenta a partir do feedback dos novos usuários", complementa.

Para usar o framework basta baixar o pdf, convidar seu time ou seus parceiros de estratégia, criatividade, inovação para fazer uma leitura sistemática e uma primeira discussão aplicada ao seu negócio, quadrante por quadrante, seguindo o fluxo proposto –  contexto, conceito, provocações criativas e questões para (re)elaboração.

Erlana recomenda anotar todas as oportunidades e ameaças que não estavam aparentes e que surgiram a partir das novas questões do canvas.

"Separe tempo de qualidade para isso. Se o seu negócio ou projeto foi modelado no canvas, a dinâmica que sugerimos é pegar seu canvas original e desafiar cada um dos seus quadrantes com os novos conceitos e as novas questões que propomos", diz.

O Business Model (RE)Generation não 'passa pano' e traz perguntas inescapáveis do momento para fazer provocações criativas profundas.

“O desconforto trouxe cada um de nós aqui, na fila do ESG”, começa o playbook. Para Erlana, se o céu não estivesse caindo e o futuro não estivesse tão ameaçado, o capital não estaria tão mobilizado para o ESG.

"O Business Model (RE)Generation não 'passa pano' e traz perguntas inescapáveis do momento para fazer provocações criativas profundas. Vai te convidar a refletir no que nunca esteve sobre a mesa e vai te introduzir na nova equação criativa ESG: regenerar lucrando e lucrar regenerando. Essa é a big idea do ESG", diz.

ESG PARA 2024 E ALÉM

Para Erlana o ESG será o tema estratégico mais importante em 2024, seguido de inteligência artificial generativa. Dentro de ESG, a especialista acredita que o foco irá se deslocar da gestão de risco para a criação de valor: o ESG to Value.

"É aqui que entra o Business Model (RE)Generation Canvas: no (re)design da estratégia criativa, ou seja, tirando o ESG do lado do custo e passando para o lado da receita", afirma. Para ela, o setor econômico conhecido como green business lidera as oportunidades de negócio, com a transição energética acelerando incrivelmente em 2024.

Em paralelo a essa grande revisão estratégica dos negócios, haverá um foco na gestão da mudança e na transformação das empresas, com reskilling, certificações, indicadores de performance ESG, comunicação, linguagem, cultura, processos, estrutura, governança. "A estrada é longa e temos de ser bem mais velozes do que fomos até aqui", diz.

Erlana também acredita que, em 2024, as eleições presidenciais nos EUA serão um tema importante e vão dialogar diretamente com o ESG, dando bastante exposição à narrativa anti-woke. "Para toda tendência há sempre uma contra tendência. Mas a direção é clara e a governança da discussão ESG é global, não é local", afirma."

Especificamente no Brasil, 2024 será basicamente o ano que vem antes de 2025. "A COP30, em Belém, vai pautar muito o ambiente de negócios brasileiro em 2024. Mas também aqui temos de acelerar, porque a ficha está caindo meio tarde", finaliza.


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais