Cedendo à pressão, Google também reduz seus programas de DEI
Ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump pressiona empresas que têm contratos com o governo a desistir de suas políticas de DEI

O Google está eliminando algumas de suas metas de contratação voltadas para diversidade, juntando-se a uma lista crescente de empresas dos EUA que abandonaram ou reduziram suas políticas de DEI (diversidade, equidade e inclusão).
A decisão, comunicada em um e-mail enviado aos funcionários do Google nesta quarta-feira (dia 5), ocorreu após uma ordem executiva emitida pelo presidente Donald Trump, visando pressionar contratantes do governo a eliminar suas iniciativas de DEI.
Assim como outras grandes empresas de tecnologia, o Google vende alguns de seus serviços para o governo federal dos EUA, incluindo a divisão de computação em nuvem, que tem crescido rapidamente e desempenha um papel fundamental na expansão da empresa no setor de inteligência artificial.
A controladora do Google, a holding Alphabet, também sinalizou essa mudança em seu relatório anual 10-K, apresentado esta semana à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). No documento, o Google removeu uma linha que constava em relatórios anteriores e que dizia: “estamos comprometidos em tornar diversidade, equidade e inclusão parte de tudo o que fazemos e em construir uma força de trabalho representativa dos usuários que atendemos.”
O Google é a unidade que gera a maior parte da receita anual (de US$ 350 bilhões) da Alphabet e emprega quase toda a força de trabalho global da empresa, que soma 183 mil funcionários.
“Estamos comprometidos em criar um ambiente de trabalho onde todos os nossos funcionários possam ter sucesso e igualdade de oportunidades, e, no último ano, revisamos nossos programas voltados para esse objetivo”, afirmou o Google em um comunicado.
“Atualizamos a linguagem do nosso 10-K para refletir isso e, como contratante federal, nossas equipes também estão avaliando mudanças necessárias em decorrência de recentes decisões judiciais e ordens executivas sobre esse tema”, diz ainda o comunicado.
A mudança na linguagem ocorre pouco mais de duas semanas após o CEO do Google, Sundar Pichai, e outros líderes da indústria de tecnologia – incluindo Elon Musk (Tesla), Jeff Bezos (fundador da Amazon), Tim Cook (Apple) e Mark Zuckerberg (Meta) – marcarem presença na cerimônia de posse de Trump.

A Meta eliminou seu programa de DEI no mês passado, pouco antes da posse do novo presidente, enquanto a Amazon interrompeu algumas de suas iniciativas de diversidade em dezembro, após a eleição presidencial.
Muitas empresas dos EUA fora do setor de tecnologia também recuaram em suas políticas de DEI, entre elas Walt Disney Co., McDonald's, Ford, Walmart, Target, Lowe’s e John Deere.
AGÊNCIAS FEDERAIS TAMBÉM ABANDONAM POLÍTICAS DE DEI
A recente ordem executiva de Trump ameaça impor sanções financeiras a organizações contratadas pelo governo federal consideradas responsáveis por programas de DEI “ilegais”.
Caso sejam identificadas violações, as empresas podem enfrentar penalidades severas com base na Lei de Reclamações Falsas de 1863, que prevê multas equivalentes a três vezes os danos causados ao governo.
A ordem também instrui todas as agências federais a identificar até nove investigações envolvendo empresas de capital aberto, grandes organizações sem fins lucrativos e outras instituições com políticas de DEI que possam ser consideradas “discriminação ou preferência ilegal”.
A mudança ocorre pouco mais de duas semanas após os principais líderes das big techs marcarem presença na posse de Trump.
O desafio para as empresas é determinar quais políticas de DEI a administração Trump pode classificar como “ilegais”. A ordem busca “eliminar todas as preferências, mandatos, políticas e programas discriminatórios e ilegais” no governo federal e exige que as agências federais combatam “preferências, mandatos, políticas e programas de DEI ilegais no setor privado”.
Tanto no setor público quanto no privado, as iniciativas de diversidade englobam diversas práticas, incluindo treinamentos contra discriminação, estudos de equidade salarial e esforços para aumentar a contratação de mulheres e grupos sub-representados.
Com sede em Mountain View, na Califórnia, o Google tem tentado aumentar a contratação de pessoas de grupos sub-representados há mais de uma década. Esses esforços se intensificaram a partir de 2020, após o assassinato de George Floyd por um policial em Minneapolis, o que gerou uma forte demanda por justiça social.

Pouco depois da morte de Floyd, Pichai estabeleceu a meta de aumentar em 30% a presença de grupos sub-representados nos cargos de liderança do Google até 2025. Desde então, a empresa fez alguns avanços, mas a composição de sua liderança não teve grandes alterações.
A presença de pessoas negras nos cargos de liderança do Google aumentou de 2,6% em 2020 para 5,1% no ano passado, segundo o relatório anual de diversidade da empresa. Para hispânicos, o percentual subiu de 3,7% para 4,3%. Já a participação de mulheres em cargos de liderança cresceu de 26,7% em 2020 para 32,8% em 2024.
Esses números são semelhantes aos da força de trabalho geral do Google, onde funcionários negros representam apenas 5,7% e latinos 7,5%. Segundo o relatório, dois terços da força de trabalho global da empresa são compostos por homens.
Com informações de Alexandra Olson