Fomentar o empreendedorismo negro também é estratégia de inclusão

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Nina Silva 3 minutos de leitura

Quando falamos em alavancagem de pessoas negras, geralmente vamos para um caminho um pouco mais conhecido pelas organizações: recrutamento e seleção, retenção, criação de pertencimento e segurança psicológica e desenvolvimento de carreira.

Isso tudo é de extrema importância, mas precisamos entender também que a empregabilidade não é a única ferramenta de impulsionamento de pessoas negras. Existe outro ponto ainda pouco explorado pelas empresas: o fomento ao empreendedorismo negro.

Empreender é uma das formas que muitas pessoas negras encontram para conquistar a emancipação econômica. Dados do Sebrae de 2023 mostram que 52% dos empreendedores do país são pessoas negras. São cerca de 15,2 milhões de pessoas.

Outro estudo, desta vez do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), aponta que 49,7% das pessoas negras com negócios em estágios iniciais no Brasil começaram a empreender por necessidade.

Mas, ao mesmo tempo em que constatamos a potência do empreendedorismo negro no Brasi, também sabemos que as pessoas por trás desses negócios enfrentam maiores dificuldades na gestão.

Empreendedores negros têm rendas 32% inferiores a de empreendedores brancos, segundo dados do Sebrae de 2022. As mulheres negras têm o menor faturamento, seguidas por homens negros, mulheres brancas e, por fim, homens brancos.

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E os problemas não param por aí. Eles também aparecem no acesso ao crédito e ao investimento. Embora empreendedores negros recorram a mais empréstimos do que os brancos, eles são os que menos têm uma resposta positiva das instituições financeiras.

Enquanto 57% dos negócios geridos por pessoas brancas conseguem empréstimos, esse número cai para 44% quando falamos de pessoas negras, de acordo com dados do Sebrae.

Ok, entendemos esses dados. Mas o que, exatamente, as organizações podem fazer, de fato? É aqui que entra a importância de os princípios de diversidade, equidade e inclusão (DEI) fazerem parte toda a cadeia de valor das empresas.

Neste caso, estamos falando em ir além de considerar a diversidade apenas entre as pessoas, colaboradoras e lideranças, mas também nos fornecedores e prestadores de serviços.

DIVERSIDADE NA CADEIA DE VALOR

No Mover (Movimento pela Equidade Racial), acompanhei as relações entre as empresas e a inclusão da diversidade na aquisição de serviços. O que observamos é que, todos os anos, organizações de diferentes portes e segmentos dispõem trilhões de reais no fluxo de contratação em suas cadeias de valor.

Esse dinheiro pode (e deve) ser usado para impactar negócios liderados por afroempreendedores. Afinal, não só a população brasileira é composta por 56% de pessoas negras como nós movimentamos cerca de R$1,9 trilhão ao ano, segundo o Instituto Locomotiva (em números relativos a 2020).

Quando falamos de equidade racial, não há inclusão sem emancipação e não há políticas antirracistas que não passem pelo consumo de produtos e serviços criados pelo empreendedorismo negro.

estamos falando em ir além da diversidade entre pessoas, colaboradores e lideranças, mas também nos fornecedores e prestadores de serviços.

A incorporação de políticas de diversidade na cadeia de valor é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, além de fortalecer a responsabilidade social corporativa e o desenvolvimento sustentável.

Para isso ocorrer, é preciso uma postura intencional por parte das organizações, a começar pela revisão dos processos internos.

Em que lugares e de que maneira as grandes corporações estão buscando produtos e serviços? Quais burocracias contratuais e processuais, que dificultam a contratação de empreendimentos negros, podem ser simplificadas? Existe a possibilidade de flexibilizar as políticas de pagamento para ele chegar mais rápido aos fornecedores?

Há políticas definidas que garantam a contratação de empreendedores negros? Profissionais negros estão em cargos responsáveis por realizar essa contratação? Os squads estão letrados racialmente e integrados às políticas da empresa?

No fim, será preciso rever como as organizações fazem negócios, assumindo essa responsabilidade e incorporando o compromisso em fomentar o empreendedorismo negro como parte dos valores e objetivos da empresa.


SOBRE A AUTORA

Nina Silva é CEO do Movimento Black Money e do D' Black Bank. Especialista em inovação e finanças com mais de 20 anos de experiência n... saiba mais