Este engenheiro pediu demissão do Google para trabalhar no combate às mudanças climáticas

Crédito: Sourav Debnath/ Unsplash/ Fast Company

Adele Peters 4 minutos de leitura

Há três anos, enquanto trabalhava como engenheiro de software no Google, Eugene Kirpichov assistiu “Uma Verdade Inconveniente”, durante um voo. Na volta, decidiu assistir a sequência. Depois disso, não conseguia parar de pensar na crise climática. “Toda vez que encontrava algum especialista [em clima], eu perguntava: 'É de fato tão grave assim?'”, conta. "E sempre respondiam: 'Sim, é muito grave'."

Quanto mais estudava e pesquisava sobre o problema, mais era tomado por ansiedade e desespero. Até que veio a pandemia agravando tudo. Mas trabalhar como voluntário em um projeto para construir um respirador de baixo custo mudou a maneira como ele se sentia em relação à Covid-19. Kirpichov resolveu deixar o medo de lado e focar em encontrar uma solução.

Ele então percebeu que poderia encarar as mudanças climáticas da mesma forma. Apesar de ter um ótimo emprego no Google, onde já estava há sete anos e meio, decidiu sair e buscar um trabalho onde pudesse focar em soluções climáticas. Cassandra Xia, amiga e colega de trabalho, decidiu fazer o mesmo, pois também se convenceu de que era a coisa certa a se fazer.

“A escala, a urgência e a gravidade das mudanças climáticas são tão alarmantes que não consigo mais fingir que está tudo bem trabalhar com qualquer outra coisa, não importa o quão interessante ou lucrativo, até que o problema seja resolvido”, escreveu Kirpichov em um e-mail para os colegas. “Estaria mentindo se não dissesse que acho que outros, que têm o privilégio de poder fazer o mesmo, deveriam seguir o exemplo.” Quando ele compartilhou o e-mail no LinkedIn, o volume de comentários e respostas foi enorme.

Muitos, como Xia e Kirpichov, não sabiam exatamente que direção tomar ao trocar de emprego. Em julho de 2020, ambos decidiram criar um workspace no Slack, para que outros pudessem se juntar a eles. “Dois anos depois, temos a maior comunidade climática do mundo.” Kirpichov agora passa todo o seu tempo administrando o workspace que criaram.

A comunidade, chamada Work On Climate, conta com mais de 8,5 mil membros. Muitos deles são formados em áreas como tecnologia ou design, mas, mesmo amando seu trabalho, estavam prontos para dar um passo além. É o reflexo de um sentimento coletivo: quase um terço da população norte-americana considera a mudança climática sua “principal preocupação”. Na Geração Z, esse número salta para 37%.

NETWORKING E EMPREENDEDORISMO

Muitos dos membros da comunidade são empreendedores e buscam cofundadores em potencial ou funcionários. Richard Wurden, que trabalhou como engenheiro na Tesla, conheceu o ex-fundador da empresa de software Kenny Lee no Slack no ano passado. Eles agora comandam uma startup chamada Aigen, que constrói robôs pequenos e leves, movidos a energia solar, para capinar campos agrícolas sem fazer uso de produtos químicos. A startup levantou US$ 4 milhões em financiamento em janeiro.

quase um terço da população norte-americana considera a mudança climática sua “principal preocupação”.

“Desde o início, estávamos completamente comprometidos em fazer da comunidade um ambiente para ações concretas e que motivasse a todos”, explica Kirpichov. “Não queríamos que se transformasse em um lugar para trocar links ou assinar petições. Queríamos estar 100% focados em ajudar as pessoas a encontrar novos empregos relacionados ao combate às mudanças climáticas e a dar o próximo passo.”

Segundo ele, há uma noção errada de que trabalhar com o clima significa ser ativista ou cientista. O enorme e constante volume de empregos postados no Slack ilustra que o leque é bem diverso: engenheiros desenvolvendo equipamentos de captura de carbono para navios de carga; cientistas de dados modelando o armazenamento de carbono em árvores; engenheiros de software trabalhando na previsão de incêndios florestais ou energia limpa; analistas de empresas de veículos elétricos ou de fundos de capital de risco de tecnologia climática. Alguém que trabalha em um emprego tradicional de tecnologia ou em outro setor pode não saber que tudo isso existe.

MAIS EMPREGOS

Há uma camada extra de complexidade quando se avalia um possível emprego relacionado ao clima, pois os candidatos

“Desde o início, estávamos comprometidos em fazer da comunidade um ambiente para ações concretas."

tentam entender o quanto o empregador é realmente capaz de reduzir as emissões. “As pessoas estão avaliando o impacto de forma bem mais detalhada. Mas será que isso realmente fará alguma diferença na situação geral?” questiona Joshua Stehr, designer de serviços que se ofereceu para entrevistar membros da Work On Climate para ajudar o grupo a aprender como dar mais suporte aos participantes.

A comunidade sem fins lucrativos agora está angariando fundos para poder contratar funcionários. Enquanto sua cofundadora Xia começou a trabalhar em uma empresa de financiamento de carbono, Kirpichov planeja continuar trabalhando na comunidade. Segundo ele, o objetivo não é apenas ajudar as pessoas a encontrar empregos relacionados ao combate às mudanças climáticas, mas também ajudar a torná-los algo mais comum.

Trabalhar nisso ajudou a aliviar a ansiedade. “Passo 100% do meu tempo pensando nos próximos passos dentro da comunidade. Mudou minha visão de que capitalismo e salvar o planeta são incompatíveis. As pessoas estão se empenhando em massa para direcionar toda sua habilidade, poder, conexões e conhecimento da indústria para combater a crise climática dentro do que o capitalismo pode fazer. E estão fazendo um ótimo trabalho”.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais