Mais uma grande empresa dos EUA anuncia suspensão de seu programa de DEI

O que a recente decisão da fabricante de bebidas Brown-Forman diz sobre o futuro das políticas de diversidade e inclusão nas empresas

Crédito: markOfshell/ iStock

John deBary 4 minutos de leitura

No final de agosto, o ativista conservador Robby Starbuck anunciou nas redes sociais que a Brown-Forman, o conglomerado de bebidas destiladas que inclui marcas como o uísque Jack Daniel's e a tequila Herradura, estaria encerrando suas metas de DEI e retirando a empresa do Índice de Igualdade Corporativa da Human Rights Campaign.

Na postagem, Starbuck assume o crédito por ter influenciado a medida, sugerindo que a Brown-Forman tomou essa decisão preventivamente para evitar reações negativas e exposição relacionadas a questões de DEI (diversidade, equidade e inclusão).

Não está claro o que estava sob ameaça de ser revelado, já que as empresas de capital aberto tendem a compartilhar suas metas de DEI em seus sites e relatórios anuais, e o Índice de Igualdade Corporativa da HRC é amplamente divulgado.

A medida foi anunciada em meio a uma onda de reações contrárias às políticas de DEI nos EUA. A questão é se ação da Brown-Forman sinaliza o medo das empresas norte-americanas de boicotes da extrema direita ou se há algo mais por trás dessa decisão.

“Estamos passando por um momento crucial em nossa sociedade, no qual todos estão em estado de alerta”, diz a consultora Samara Davis. Ela contextualiza a decisão da Brown-Foreman tendo como pano de fundo a recente decisão da Suprema Corte dos EUA que derrubou a ação afirmativa nas admissões em faculdades, bem como o processo contra o Fearless Fund, uma empresa de capital de risco que investe em empresas de propriedade de mulheres negras.

Segundo informações, várias empresas estão repensando e reformulando suas políticas de DEI, temendo contestações legais. Mas, no caso da Brown-Foreman, Davis acredita que a medida tem mais a ver com imagem do que de fato com qualquer mudança significativa na forma como a empresa opera. “Eles praticam a DEI há mais tempo do que qualquer outra marca de destilados e nunca fizeram disso um grande problema.”

Um representante da Brown-Forman confirmou à Fast Company a “evolução” das estratégias de DEI da empresa. Entretanto, em uma recente conferência com investidores para divulgação de resultados, a empresa não mencionou a mudança. No que diz respeito aos concorrentes da Brown-Forman, eles parecem continuar comprometidos com suas metas, embora talvez seja cedo demais para confirmar. 

as políticas de DEI são uma forma de garantir que as empresas tenham as melhores políticas em relação aos seus funcionários.

Talvez uma característica (ou um problema) da linguagem DEI seja o fato de que ela pode ser muito vaga. O Índice de Igualdade Corporativa da HRC, entretanto, é um indicador mais concreto do comportamento corporativo. Ele avalia as empresas com base em seu compromisso com a promoção de locais de trabalho inclusivos para pessoas LGBTQ+.

Recentemente, a Brown-Forman, a Ford, a Lowes e a Harley Davidson se retiraram do índice, e o ativista Starbuck parece ter ameaçado boicotar as empresas incluídas na lista. A Molson Coors anunciou planos para cortar seus programas de treinamento em DEI.

O vice-presidente de programas e defesa corporativa da HRC, Eric Bloem, afirma que “os ataques à DEI não são novidade” e que eles são uma resposta ao “imenso” sucesso dessas iniciativas. Para ele, a decisão da Brown-Forman é “muito decepcionante, vindo de uma empresa que tornou seu ambiente acolhedor para funcionários LGBTQ+ e outros."

QUEDA NAS VENDAS

Dave Karraker, presidente da Raptor Communications, uma consultoria de relações públicas para bebidas alcoólicas, também se mostrou preocupado com o processo de recrutamento. Ele considera as políticas de DEI uma forma de garantir que as empresas tenham as melhores políticas em relação aos funcionários e classifica a medida da Brown-Forman como uma reação precipitada que cria um precedente perigoso.

Embora a retenção de funcionários seja crucial para o sucesso de uma empresa, a mudança da Brown-Forman pode ter mais a ver com as vendas do que com qualquer outra coisa. A companhia registrou uma queda de 8% nas vendas no trimestre encerrado em abril.

A medida foi anunciada em meio a uma onda de reações contrárias às políticas de DEI nos EUA.

Davis especula que essa medida pode representar um setor avesso a riscos e que busca evitar possíveis boicotes, como o que sofreu a cerveja  Bud Light (depois de uma parceria com uma influenciadora transgênero).

Karraker também acredita que a empresa pode ter calculado que um possível boicote de grupos anti-DEI pode sair mais custoso do que um boicote em resposta à reversão dessas metas.

Resta saber quais de seus concorrentes sofrerão pressão semelhante para reduzir seus esforços de DEI. Considerando o cenário político altamente polarizado, isso pode ser um sinal de que, embora as empresas queiram fazer a coisa certa para seus funcionários, o risco de fazer declarações públicas pode não valer a pena.


SOBRE O AUTOR

John deBary é jornalista, escritor e consultor no setor de hospitalidade. saiba mais