Nos EUA, mais uma grande empresa desiste da política de diversidade e inclusão
A gigante do varejo Walmart é a maior e mais recente companhia a ceder à pressão dos ativistas conservadores no mercado norte-americano
A rede Walmart, maior varejista do mundo, está revertendo suas políticas de diversidade, equidade e inclusão, somando-se a uma lista cada vez maior de grandes empresas que fizeram o mesmo após serem atacadas por ativistas conservadores.
As mudanças, confirmadas pelo Walmart, são abrangentes e vão desde a não renovação de um compromisso de cinco anos com um centro de equidade racial até se retirar de um importante índice de direitos gays. No que diz respeito a raça ou gênero, a empresa não dará tratamento prioritário a fornecedores pertencentes a grupos minoritários.
As ações do Walmart ressaltam a crescente pressão enfrentada pelo setor corporativo dos EUA, que continua a lidar com as consequências da decisão da Suprema Corte em junho de 2023. Na ocasião, instância máxima da justiça norte-americana acabou com a ação afirmativa nas admissões universitárias.
Encorajados por essa decisão, grupos conservadores entraram com ações judiciais sustentando argumentos semelhantes sobre as corporações, mirando iniciativas no ambiente de trabalho, como programas de diversidade e práticas de contratação que priorizam grupos historicamente marginalizados.
Em outra frente, o comentarista político conservador e ativista Robby Starbuck tem atacado as políticas corporativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), denunciando empresas na rede social X (ex-Twitter). Várias delas – como Ford, Harley-Davidson, Lowe’s e Tractor Supply – anunciaram que estão recuando em suas iniciativas nessa área.
O Walmart, que emprega 1,6 milhão de trabalhadores nos EUA, é a maior empresa até o momento a tomar esta atitude. "Essa é a maior vitória até agora para nosso movimento para acabar com o 'wokeness' na América corporativa", escreveu Starbuck no X.
O Walmart confirmou que vai monitorar melhor os itens de seu marketplace de terceiros para garantir que não apresentem produtos sexuais e transgêneros voltados para menores. Isso incluiria cintas de compressão destinadas a jovens que estão passando por uma mudança de gênero, segundo a empresa.
As ações do Walmart ressaltam a crescente pressão enfrentada pelo setor corporativo dos EUA.
A companhia também vai revisar as doações para eventos do Orgulho LGBTQ+ para garantir que não esteja apoiando financeiramente conteúdos sexualizados que possam ser inadequados para crianças. Por exemplo, a empresa quer garantir que um pavilhão voltado para famílias não esteja ao lado de um show de drag queens em um evento desse tipo.
Além disso, o Walmart não vai mais levar em conta raça e gênero como um diferencial decisivo para melhorar a diversidade ao fechar contratos com fornecedores. A empresa disse que não tinha cotas e não vai adotá-las no futuro. Também deixará de participar do índice anual de referência da Human Rights Campaign, que mede a inclusão para funcionários LGBTQ+.
"Estamos em uma jornada e sabemos que não somos perfeitos, mas cada decisão vem de um lugar de querer promover um sentimento de pertencimento, abrir portas para oportunidades para todos os nossos associados, clientes e fornecedores e ser um Walmart para todos", disse a empresa em um comunicado.
As mudanças ocorrem logo após a vitória eleitoral do ex-presidente Donald Trump, que criticou iniciativas de DEI e se cercou de conservadores que compartilham opiniões semelhantes, como seu ex-conselheiro Stephen Miller. Ele lidera um grupo chamado America First Legal, que tem contestado políticas corporativas de DEI.
Um porta-voz do Walmart disse que algumas dessas mudanças estão em andamento há algum tempo. Por exemplo, a empresa tem evitado o uso da palavra DEI em títulos de trabalho e comunicações e começou a usar "pertencimento". Também começou a fazer mudanças em seu programa de fornecedores após a decisão da Suprema Corte sobre ação afirmativa.