O papel das práticas ESG na gestão dos riscos climáticos

As lideranças não podem ignorar o intrincado nexo entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a estabilidade socioeconômica

Crédito: SvetaZi/ iStock

Carlos Braga 2 minutos de leitura

As mudanças climáticas figuram em terceiro lugar entre os 10 principais riscos aos negócios no mundo, segundo o Relatório de Riscos Globais 2024 do Fórum Econômico Mundial de Davos. No Brasil, subiram da oitava posição em 2023 para o primeiro lugar, segundo pesquisa da Allianz Risk Barometer de 2024, realizada com 3.069 especialistas de 24 setores econômicos em 92 países.

O Brasil teve, em 2023, o maior número de acidentes climáticos da sua história. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ocorreram 1.161 eventos climáticos em todo o país, atingindo mais de 14 milhões de pessoas, com prejuízos econômicos superiores a R$ 25 bilhões.

O mercado financeiro ainda busca quantificar os impactos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul, na qual 179 pessoas perderam a vida por conta da catástrofe. Estimativas preliminares apontam para uma redução de 0,3% do PIB em 2024, como resultado das enchentes que afetaram 90% dos municípios do estado.  

A gestão de riscos climáticos tornou-se uma prioridade para as empresas, que precisam se preparar para lidar com eventos extremos, regulamentações mais rígidas e pressão dos stakeholders por práticas mais sustentáveis.

Enchente na zona rural do Rio Grande do Sul (Crédito: Maurício Tonetto/ Palácio Piratini)

Enquanto isso, no mercado financeiro, os reguladores incorporam cenários climáticos nos seus testes de estresse, bem como os investidores demandam que as empresas divulguem seus riscos de forma quantitativa.

Para lidar com este cenário desafiador, as práticas ESG têm se tornado cada vez mais relevantes na gestão de riscos climáticos. 

De forma prática, o que é o ESG?  Trata-se de uma estrutura de gerenciamento de risco e investimento que busca avaliar os desafios e oportunidades que os fatores ambientais, sociais e de governança representam para o valor de uma empresa.

Entre as melhores práticas ESG para a gestão dos riscos climáticos destacamos:

  • Revisão dos pontos de exposição direta a tais impactos, como a localização das suas instalações operacionais, infraestrutura crítica e cadeias de suprimentos primárias.
  • Análise das estratégias de gerenciamento de risco existentes e dos planos de contingência para eventos diversos como enchentes, incêndios, secas e afins.
  • Identificação das áreas do negócio que podem ser mais suscetíveis a riscos ambientais. 
  • Avaliação da robustez e da adaptabilidade da rede de suprimentos da empresa diante dos desafios ambientais.
  • Mensuração da prontidão e agilidade da empresa em responder a eventos imprevistos
  • Projetar cenários dos mais otimistas aos mais desafiadores, incluindo variáveis ​​como padrões climáticos em evolução, dinâmica regulatória e demandas das partes interessadas (stakeholders), oferecendo uma visão multidimensional de trajetórias potenciais.

Gerenciar com sucesso esses aspectos é crucial para manter a reputação, alinhar-se às expectativas do consumidor e atrair investimentos.

No mundo empresarial em rápida transformação, as lideranças não podem ignorar o intrincado nexo entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a estabilidade socioeconômica.

A aplicação das melhores práticas ESG representa um desafio e uma oportunidade ao impulsionar a inovação e novas oportunidades de mercado, consolidando a confiança dos stakeholders na resiliência do negócio.

É um chamado para não apenas sobreviver, mas prosperar, garantindo que os negócios sejam lucrativos e sustentáveis ​​para seus investidores e para a sociedade.


SOBRE O AUTOR

Carlos Braga é professor associado e coordenador do Centro de Referência em Inovação e ESG da Fundação Dom Cabral, conselheiro sênior ... saiba mais