Por que pagar um salário digno beneficia a sociedade como um todo
É muito difícil conseguir enxergar uma saída para a atual crise inflacionária. Os preços continuam a subir e há temores de que, se nada mudar, muitas famílias enfrentarão sérias dificuldades financeiras.
Os efeitos serão devastadores. A pobreza causa mortes prematuras, má nutrição, doenças e provoca exaustão. Diante desse cenário sombrio, precisamos urgentemente de lideranças capazes de promover mudanças positivas. Essas lideranças não se restringem a governos, mas também empresas, que podem desempenhar um papel fundamental.
Uma das coisas mais importantes que qualquer empresa pode fazer para reduzir a pobreza é remunerar seus funcionários com um salário digno. Nosso novo relatório revela em detalhes como isso beneficiaria não apenas os trabalhadores, mas também empregadores e a sociedade como um todo.
Um salário mínimo digno ajudaria a quebrar o ciclo de pobreza, garantindo que trabalhadores recebam o suficiente para cobrir as necessidades básicas da casa, bem como emergências ocasionais ou despesas inesperadas.
Os especialistas entrevistados relataram que uma iniciativa desse tipo pode reduzir os níveis de estresse e as jornadas de trabalho excessivas, que, às vezes, são necessárias para fazer frente às despesas. Isso, por sua vez, significa menos faltas por doença e maior bem-estar geral dos funcionários.
BOM PARA TODO MUNDO
Do ponto de vista empresarial, um salário razoável resultaria em menor rotatividade, reduzindo os custos de processos seletivos, contratação e treinamento. Há grandes benefícios na produtividade e até mesmo sinais de que o aumento de salário pode estar ligado a uma maior receita.
Diante de um cenário sombrio, precisamos urgentemente de lideranças capazes de promover mudanças positivas.
Também descobrimos que, conforme os compromissos com remuneração digna se tornam mais comuns, os benefícios são vistos em toda a sociedade. Aumentos salariais contribuem com a economia local, enquanto a redução da desigualdade pode gerar maior coesão social.
Em suma, o relatório (produzido em parceria com o Business Fights Poverty, o Cambridge Institute for Sustainability Leadership e o Shift) aponta evidências concretas de que salários dignos trazem vários benefícios, tanto individuais quanto coletivos.
Isso pode fazer com que empresas passem a ver os salários não apenas como um custo líquido, mas também como investimento. Afinal, o sucesso de uma empresa também depende dos funcionários.
O impacto mais amplo na sociedade é bastante evidente. Descobrimos que salários dignos têm o potencial não só de ajudar a combater a pobreza, mas também de atender a muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Um desses objetivos inclui “trabalho decente para todos”; renda justa é um componente central para alcançá-lo. Combater a pobreza pode melhorar o acesso à habitação, alimentação e contribuir para a saúde da população.
No Reino Unido, por exemplo, Ikea, Everton Football Club e Nationwide Building Society são apenas três dos mais de 10 mil empregadores que se comprometeram a pagar o que a Living Wage Foundation descreve como um “salário digno real”. Na prática, isso significa pagar aos trabalhadores um mínimo de £ 9,90 (cerca de US$ 12,33) por hora (em Londres, especificamente, o valor é de £ 11,05, ou U$ 13,82). Campanhas como essa estão ganhando força em outros países, como Nova Zelândia e Canadá.
O PAPEL DO CONSUMIDOR
Algumas empresas estão dando um passo além, estendendo esse compromisso a seus fornecedores. Em 2021, a Unilever
As empresas deveriam ver os salários não apenas como um custo líquido, mas também como investimento.
anunciou planos de lutar por um salário mínimo digno para os funcionários de empresas que fornecem bens e serviços à multinacional em áreas como logística e empacotamento. Para conseguir isso, estabeleceu parcerias com os fornecedores. O fruto de extensa análise de pesquisas anteriores e de inúmeras entrevistas sugere que outras empresas deveriam se juntar a ela.
“Dada a escala do aumento da pobreza, investimentos em salários dignos são urgentes. Precisamos que mais empresas desempenhem seu papel. A decisão de oferecer uma remuneração digna resulta em melhor desempenho, resiliência e estabilidade para as organizações”, apontou Annabel Beales, coautora do relatório.
Para tanto, investidores e CEOs devem passar a ver o pagamento de salários dignos como uma decisão comercial sensata e governos devem aumentar os salários do funcionalismo público para garantir remuneração justa.
Consumidores também podem contribuir, adotando um comportamento de consumo mais consciente e apoiando as empresas que se comprometem com o bem-estar dos funcionários. Sejam pequenas, médias ou grandes, elas desempenham um papel importante no combate à pobreza – e isso pode resultar em aumento de receita.