Startup usa poeira de rocha vulcânica para capturar carbono no campo

Lithos é pioneira em uma abordagem incomum para captura de carbono em mais de 405 hectares de terras agrícolas

Crédito: Lithos/ Divulgação

Adele Peters 4 minutos de leitura

Um trator vai espalhar 1.543 toneladas de pó de rocha pelos 57 hectares de terra de uma fazenda norte-americana que cultiva milho e feijão. O objetivo? Combater as mudanças climáticas. Nas próximas duas estações de cultivo, esse pó – basalto triturado – deve ajudar capturar 384 toneladas de carbono na fazenda e, ao mesmo tempo, contribuir para o crescimento das plantações. 

Esta fazenda do centro-oeste dos Estados Unidos é uma das 14 que estão trabalhando em parceria com a Lithos, uma nova startup que criou uma abordagem incomum para a captura de carbono. Enquanto outras empresas desenvolvem tecnologias em larga escala para extrair CO2 do ar, a Lithos está acelerando um processo que já acontece na natureza.

Quando a chuva cai, a água se combina com o dióxido de carbono atmosférico, que a torna levemente ácida. Quando essa combinação atinge certos tipos de rochas, causa uma reação química que remove lentamente o CO2 da atmosfera. “Aceleramos esse fenômeno natural, fazendo com que a ordem de magnitude saltasse para cerca de 100 a mil vezes mais rápido”, diz a CEO da Lithos, Mary Yap.

Esmagar basalto, um tipo de rocha vulcânica comum, e espalhá-lo sobre o campo (um processo chamado intemperismo aprimorado) aumenta a área de superfície para a reação química. É um método que outros grupos também vêm testando há anos e sai muito mais barato do que construir novas tecnologias complexas. Mas precisa ser implantado de uma maneira específica para acontecer rapidamente.

“Não dá para simplesmente jogá-lo sobre a terra – a reação continuaria acontecendo muito lentamente”, diz Yap. “O que vemos nos dados publicados e também em nossos testes iniciais é que a maioria dos grupos leva de uma a cinco décadas para começar a capturar o carbono dessa rocha em um ritmo mais rápido do que o da natureza. Nós conseguimos reduzir para dois a três anos, no máximo.”

Crédito: Lithos/ Divulgação

O que a Lithos faz é criar um plano cuidadoso de implantação em cada fazenda, com base nas condições específicas do solo, do clima e nas necessidades da cultura, entre outros fatores. Duas fazendas vizinhas podem, inclusive, exigir planos diferentes. O software da empresa, usando dados de uma década de pesquisa acadêmica, ajuda a determinar qual será o plano.

A startup, que agora está trabalhando em mais de 400 hectares de terras agrícolas, e que tem mais centenas a caminho, está medindo fisicamente as mudanças em cada fazenda para verificar quanto carbono é capturado. A Lithos vende créditos de carbono com base em seu trabalho e paga aos agricultores pelo serviço.

Crédito: Lithos/ Divulgação

Conforme o carbono vai sendo capturado, é levado pelos rios até o oceano, onde animais como ostras o usam para formar conchas. Quando esses animais morrem, ele fica no fundo do oceano – basicamente, um sequestro permanente desse carbono. O método da Lithos é diferente de algumas outras técnicas utilizadas em fazendas que podem armazenar carbono no solo apenas temporariamente.

A Lithos é um dos primeiros fornecedores do Frontier Fund, um programa lançado por Stripe, Alphabet, Shopify, Meta e McKinsey para ajudar a impulsionar a indústria nascente de “remoção de carbono”. Como não há escassez de demanda por créditos de carbono, Yap acredita que isso pode ajudar a empresa a crescer rapidamente. O único fator limitante será a rapidez com que os agricultores o adotarem.

Crédito: Lithos/ Divulgação

Os agricultores já usam um tipo diferente de pó de rocha nos campos (calcário agrícola) para desacidificar o solo antes do plantio. Acertar a aplicação do basalto, diz Yap, pode substituir esse produto. Assim como o calcário agrícola, ele deve ser aplicado com cuidado, porque é perigoso respirar o pó de rocha. Mas, como é misturado ao solo, não deve entrar em suspensão no ar.

O basalto, que é cheio de nutrientes como cálcio e magnésio, também pode aumentar o rendimento das culturas em até 47%, já que é aplicado todos os anos. Esse lucro pode ser o principal motivo para os agricultores começarem a adotar a nova prática.

“Minha aposta é que, se oferecermos a eles algo que queiram, amem e precisem, eles vão optar por isso”, diz ela. “Assim, a captura de carbono aumentará, quase como um efeito colateral. Um de meus clientes agricultores disse: “não posso comer créditos de carbono'. De fato, no fim das contas, o que mais importa são as colheitas.”

Crédito: Lithos/ Divulgação

Por isso é tão importante acertar na aplicação da técnica – tanto para trazer o maior benefício para as culturas e captura de carbono, quanto porque errar pode até gerar impacto negativo. “Se alguém aplicar demais, pode liberar CO2, que é o oposto do desejado”, diz ela.

Mas, se feito corretamente, em larga escala, o processo pode desempenhar um papel significativo na luta contra a mudança climática. Enquanto o mundo muda para a energia limpa e outras soluções que reduzem a poluição, a remoção de carbono pode ajudar a preencher parte da lacuna. Yap acredita que a empresa tem potencial para capturar um bilhão de toneladas métricas de CO2 ainda nesta década.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais