Startup usa poeira de rocha vulcânica para capturar carbono no campo
Lithos é pioneira em uma abordagem incomum para captura de carbono em mais de 405 hectares de terras agrícolas
Um trator vai espalhar 1.543 toneladas de pó de rocha pelos 57 hectares de terra de uma fazenda norte-americana que cultiva milho e feijão. O objetivo? Combater as mudanças climáticas. Nas próximas duas estações de cultivo, esse pó – basalto triturado – deve ajudar capturar 384 toneladas de carbono na fazenda e, ao mesmo tempo, contribuir para o crescimento das plantações.
Esta fazenda do centro-oeste dos Estados Unidos é uma das 14 que estão trabalhando em parceria com a Lithos, uma nova startup que criou uma abordagem incomum para a captura de carbono. Enquanto outras empresas desenvolvem tecnologias em larga escala para extrair CO2 do ar, a Lithos está acelerando um processo que já acontece na natureza.
Quando a chuva cai, a água se combina com o dióxido de carbono atmosférico, que a torna levemente ácida. Quando essa combinação atinge certos tipos de rochas, causa uma reação química que remove lentamente o CO2 da atmosfera. “Aceleramos esse fenômeno natural, fazendo com que a ordem de magnitude saltasse para cerca de 100 a mil vezes mais rápido”, diz a CEO da Lithos, Mary Yap.
Esmagar basalto, um tipo de rocha vulcânica comum, e espalhá-lo sobre o campo (um processo chamado intemperismo aprimorado) aumenta a área de superfície para a reação química. É um método que outros grupos também vêm testando há anos e sai muito mais barato do que construir novas tecnologias complexas. Mas precisa ser implantado de uma maneira específica para acontecer rapidamente.
“Não dá para simplesmente jogá-lo sobre a terra – a reação continuaria acontecendo muito lentamente”, diz Yap. “O que vemos nos dados publicados e também em nossos testes iniciais é que a maioria dos grupos leva de uma a cinco décadas para começar a capturar o carbono dessa rocha em um ritmo mais rápido do que o da natureza. Nós conseguimos reduzir para dois a três anos, no máximo.”
O que a Lithos faz é criar um plano cuidadoso de implantação em cada fazenda, com base nas condições específicas do solo, do clima e nas necessidades da cultura, entre outros fatores. Duas fazendas vizinhas podem, inclusive, exigir planos diferentes. O software da empresa, usando dados de uma década de pesquisa acadêmica, ajuda a determinar qual será o plano.
A startup, que agora está trabalhando em mais de 400 hectares de terras agrícolas, e que tem mais centenas a caminho, está medindo fisicamente as mudanças em cada fazenda para verificar quanto carbono é capturado. A Lithos vende créditos de carbono com base em seu trabalho e paga aos agricultores pelo serviço.
Conforme o carbono vai sendo capturado, é levado pelos rios até o oceano, onde animais como ostras o usam para formar conchas. Quando esses animais morrem, ele fica no fundo do oceano – basicamente, um sequestro permanente desse carbono. O método da Lithos é diferente de algumas outras técnicas utilizadas em fazendas que podem armazenar carbono no solo apenas temporariamente.
A Lithos é um dos primeiros fornecedores do Frontier Fund, um programa lançado por Stripe, Alphabet, Shopify, Meta e McKinsey para ajudar a impulsionar a indústria nascente de “remoção de carbono”. Como não há escassez de demanda por créditos de carbono, Yap acredita que isso pode ajudar a empresa a crescer rapidamente. O único fator limitante será a rapidez com que os agricultores o adotarem.
Os agricultores já usam um tipo diferente de pó de rocha nos campos (calcário agrícola) para desacidificar o solo antes do plantio. Acertar a aplicação do basalto, diz Yap, pode substituir esse produto. Assim como o calcário agrícola, ele deve ser aplicado com cuidado, porque é perigoso respirar o pó de rocha. Mas, como é misturado ao solo, não deve entrar em suspensão no ar.
O basalto, que é cheio de nutrientes como cálcio e magnésio, também pode aumentar o rendimento das culturas em até 47%, já que é aplicado todos os anos. Esse lucro pode ser o principal motivo para os agricultores começarem a adotar a nova prática.
“Minha aposta é que, se oferecermos a eles algo que queiram, amem e precisem, eles vão optar por isso”, diz ela. “Assim, a captura de carbono aumentará, quase como um efeito colateral. Um de meus clientes agricultores disse: “não posso comer créditos de carbono'. De fato, no fim das contas, o que mais importa são as colheitas.”
Por isso é tão importante acertar na aplicação da técnica – tanto para trazer o maior benefício para as culturas e captura de carbono, quanto porque errar pode até gerar impacto negativo. “Se alguém aplicar demais, pode liberar CO2, que é o oposto do desejado”, diz ela.
Mas, se feito corretamente, em larga escala, o processo pode desempenhar um papel significativo na luta contra a mudança climática. Enquanto o mundo muda para a energia limpa e outras soluções que reduzem a poluição, a remoção de carbono pode ajudar a preencher parte da lacuna. Yap acredita que a empresa tem potencial para capturar um bilhão de toneladas métricas de CO2 ainda nesta década.