Hugo Rodrigues: “O brasileiro precisa criar não só para encantar, mas para sobreviver”

Hugo Rodrigues, chairman do McCann Worldgroup
Crédito: Divulgação/ Fast Company Brasil

Redação Fast Company Brasil 2 minutos de leitura

Reconhecido como o principal evento da publicidade mundial, o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions acontece de 16 a 20 de junho, reunindo as mentes mais brilhantes e influentes desse mercado.

Este ano em sua 72ª edição, o festival vai homenagear o Brasil, primeiro país a receber o título de País Criativo do Ano. A premiação, inédita, reconhece o impacto de um país no universo da criatividade, valorizando seus talentos e sua cultura local.

Como parte da homenagem, o festival terá uma programação especial dedicada ao Brasil, incluindo ativações pela cidade, eventos e exibições.

A Fast Company Brasil convidou alguns dos principais nomes do mercado publicitário nacional para falar sobre o papel da força criativa do Brasil no mundo.

Nesta entrevista, conversamos com o chairman do McCann Worldgroup para a WMcCann, Hugo Rodrigues, que destaca a importância e o legado de Washington Olivetto, que também será homenageado.

Fast Company Brasil – A que você atribui a vocação brasileira para a criatividade?

Hugo Rodrigues – A palavra “criatividade” carrega uma subjetividade profunda. O que emociona uma pessoa pode não ter o menor impacto para outra, por exemplo. O que eu considero revolucionário, talvez para outro soe como trivial.

E é justamente aí que reside a beleza do processo criativo: não há régua única, não há um único caminho. Criar é, muitas vezes, navegar no inédito, e o inédito, por essência, provoca estranhamento.

No Brasil, essa criatividade ganha contornos muito próprios, moldados pela resiliência. Somos um país onde os desafios são diários – escassez, desigualdade, instabilidade.

E é nesse terreno desafiador que a criatividade floresce com força. Ela nasce da urgência de se reinventar, de encontrar soluções improváveis, de transformar a dificuldade em oportunidade.

O brasileiro, muitas vezes, precisa criar não só para encantar, mas para sobreviver. Essa combinação – entre a luta diária e a capacidade de enxergar beleza no caos – é que faz da criatividade brasileira algo tão potente e, muitas vezes, inesperado.

Fast Company Brasil – Na sua opinião, quais campanhas ou ações ajudam a ilustrar essa vocação?

Hugo Rodrigues – Aproveitando a homenagem deste ano a Washington Olivetto, acho que ele simboliza, como poucos, a influência criativa brasileira. O clássico “Meu Primeiro Sutiã” é um exemplo brilhante: um tema delicado, cotidiano, tratado com uma sensibilidade rara e, ao mesmo tempo, com coragem.

Não foi apenas uma nova abordagem criativa, foi uma peça que moldou percepções, transformando um detalhe da vida real em narrativa emocional e deixando um impacto profundo na cultura popular do país.

Do lado das campanhas das quais tive o privilégio de participar, destaco duas que também traduzem bem essa capacidade de influência da criatividade brasileira.

“The Cliché”, da Heineken, desconstruiu com elegância e humor um estereótipo comum, mostrando que é possível desafiar expectativas de forma inteligente.

“Papai Noel Negro”, da Coca-Cola, enfrentou uma tensão social diretamente, abrindo espaço para conversas urgentes sobre representatividade em uma das datas mais simbólicas para os brasileiros.

Ambas demonstram que, no Brasil, a criatividade não é apenas ferramenta de venda – ela tem o poder de provocar, emocionar e, sobretudo, influenciar debates sociais e culturais. E, agora fazendo propaganda, ambas levaram Leão de Ouro em Cannes.


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