Cannes Lions 2025: o subsolo onde a criatividade respira com mais verdade
O subsolo do Palais des Festivals é onde a criatividade acontece sem maquiagem

Há algo quase ritualístico em descer as escadas do Palais des Festivals durante o Festival de Criatividade de Cannes. Enquanto muitos se concentram nos painéis estrelados, nas premiações e nos encontros que ocupam a Croisette, meu olhar sempre se volta para um lugar específico: o subsolo. É ali, entre corredores discretos e paredes cobertas de ideias, que o festival revela sua essência mais genuína.
O subsolo do Palais é onde a criatividade acontece sem maquiagem. Onde os cases premiados se desdobram em detalhes e deixam transparecer as decisões – técnicas e sensíveis – que sustentam grandes campanhas. Não é exagero dizer que ali se constrói um museu vivo da publicidade. E, como em todo museu, o que mais toca são as histórias por trás das obras.
Em 2025, esse espaço me pareceu ainda mais pulsante. Talvez pela tensão criativa que se impõe em um mundo moldado por dados, IA generativa e automatizações. Ou talvez pela constatação de que, apesar de tudo isso, o que realmente se conecta continua sendo o toque humano – a escuta, a empatia, o olhar atento.
Vi campanhas que provocaram sorrisos, outras que desconcertaram. Algumas me inspiraram a pensar diferente, outras me fizeram lembrar por que comunicação importa. Em um setor como o financeiro, no qual a complexidade muitas vezes é regra, encontrar soluções simples – e profundamente humanas – reforça o papel da comunicação como ponte entre o técnico e o simbólico.
O subsolo também ensina sobre o valor da síntese. Em um mundo saturado de estímulos, as ideias mais potentes são, muitas vezes, as mais diretas. Uma imagem precisa, uma frase que não escapa, um gesto bem colocado – quando bem pensados, dizem mais do que mil apresentações. E são justamente esses silêncios eloquentes que me mobilizam.

Outro ponto que me marcou foi a diversidade real daquele espaço. Em poucos passos, atravessamos continentes. Do Japão à Colômbia, da Nigéria à Suécia. Não é apenas sobre estética ou linguagem – é sobre como cada cultura escolhe contar sua história, provocar reflexão, gerar valor. E sobre como isso também nos ensina, enquanto marcas, a escutar mais antes de tentar dizer algo.
Ao final de cada dia, saía dali com mais perguntas do que respostas – o que, para mim, é sinal de um bom encontro criativo. Cannes é espetáculo, sim. Mas é no subsolo que ele se torna experiência. É ali que a criatividade respira com mais verdade. E é dali que saio lembrando que comunicar, no fim, é sempre um gesto de cuidado.
Até o próximo Cannes – e até o próximo mergulho criativo no subsolo do Palais.