Innovation Festival 2023 é palco para o lançamento da primeira IA não binária
Convidados discutiram a importância de quebrar preconceitos, paradigmas e inovar por meio da diversidade
No seu segundo dia, o Innovation Festival 2023 retomou as discussões, desta vez abordando temas como inovação, reinvenção, startups e empreendedorismo negro, cultura gamer e reflexões sobre o futuro. O evento foi realizado nesta quarta e quinta-feira (dias 29 e 30 de novembro), no Cubo Itaú, em São Paulo.
O dia começou com Pri Bertucci, fundadore e CEO da Diversity Bbox, colocando em pauta a linguagem não binária em uma realidade tomada por guerras, crise climática, polarização política, desigualdade crescente e inteligência artificial. “Há um sistema de crenças que não está sendo questionado. Um sistema que apagou as histórias de pessoas trans binárias e não binárias”, afirmou.
No evento, Pri divulgou o lançamento de RIE, primeira inteligência artificial não binária e inclusiva. Pri interagiu com a ferramenta, perguntando o que ile pensava do futuro. RIE respondeu que, por ter um lado geek, ile acredita que viveremos em um futuro cheio de inovação e novas tecnologias, mas também de diversidade e inclusão.
Para Pri, mudar a maneira como falamos é um trampolim para transformar a maneira como pensamos e a linguagem, uma das raízes que pode impactar o nosso pensamento. Existem hoje três milhões de pessoas trans no Brasil. E mais: do total da população adulta brasileira, ao menos 0,69% seria composta por homens e mulheres trans e 1,19% por pessoas não binárias.
O painel contou com a participação de Klaus Aníbal, gerente sênior de conteúdo da Uber para a América Latina. “O principal desafio da empresa foi colocar todos no mesmo nível de conhecimento. Há um certo medo de perguntar, então é preciso criar um espaço para o letramento”, contou. A Uber foi a primeira patrocinadora da primeira Marcha do Orgulho Trans do Brasil.
Mas não é fácil. “A empresa precisa sustentar a postura a favor da linguagem não binária, porque os haters sempre vão existir”, lembrou
STARTUPS NEGRAS
A manhã também contou com uma apresentação dinâmica das startups que recebem investimento do BlackRocks, hub de inovação que promove o protagonismo negro no setor, fundado por Maitê Lourenço. “Ainda temos estigmas de que essas empresas são de apenas alguns mercados ou que empreendedores negros só o fazem por necessidade”, disse.
No Brasil, um em cada quatro profissionais de startups se declara preto ou pardo e 76% dos stakeholders afirmam que nunca ou raramente viram pitchs de empreendedores negros.
Camila Viegas, CEO na Viverde Casa, Pavel Lelis, fundador da Diamond Log, e Ailton Cardozo, CEO da Zentek, falaram sobre seus negócios e como estão impulsionando o cenário de inovação.
A Viverde Casa promove impacto socio-ambiental positivo por meio de capacitação profissional e intermediação de mão de obra no setor de construção civil. A Diamond Log é um provedora de soluções em transportes rodoviários de carga.
Já a Zentek é uma insurtech focada em estreitar a relação entre clientes e marca por meio da tecnologia, assistências e seguros inteligentes. No evento, Cardozo anunciou com exclusividade que a Zentek tinha acabado de receber um aporte do Google.
SEMANA DE QUATRO DIAS
O redesenho do trabalho foi o tema abordado por Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, Andrea Janér, fundadora e CEO da Oxygen, e Genesson Honorato, especialista em RH, psicólogo, professor e consultor. O trio procurou mostrou algumas estratégias para modular as culturas corporativas de modo a melhorar o foco e o bem-estar dos profissionais, sem comprometer a performance.
“Felicidades não vem de um ambiente de trabalho colorido, é ter um trabalho que faz sentido. Ninguém quer viver para trabalhar”, apontou Renata, responsável por trazer o projeto da semana de quatro semanas para o Brasil.
A Oxygen é uma das empresas que faz parte da iniciativa. “Queriam saber quem são os malucos que aderiram e, para nós, foi natural”, contou Andrea. “Estávamos inconformados com a possibilidade de voltar à realidade pré-pandemia.”
Honorato abordou o vício das pessoas em tecnologia, influenciado pelo uso intenso no ambiente de trabalho. “Eu digo que é uma pauta mais importante do que a climática. Por que nossa atenção está tão focada nos nossos dispositivos que nem prestamos atenção ao que está acontecendo com o planeta”, brincou.
Segundo o especialista, viramos multitarefas, multitelas e multicansados. E ferramentas, apps, sites e empresas de tecnologia usam métodos para capturar nossa atenção e nos tornar “viciados”.
NOVA MATURIDADE
A “nova maturidade” está redesenhando as fronteiras do mercado de trabalho e de consumo. Como a diversidade etária nas equipes pode ser um catalisador de inovação e colaboração intergeracional?
Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, e Layla Vallias, fundadora da Data8, conversaram sobre o papel da tecnologia e como as pessoas 50+ estão se adaptando e contribuindo em um mundo cada vez mais digitalizado.
“É preciso se adaptar para um público e um time que estão envelhecendo”, disse Litvak. “Além disso, estamos presenciando um momento no qual quatro gerações estão presentes na mesma equipe. Como fazer com que eles trabalhem de forma integrada?”
Na era da longevidade, a dupla conversou sobre estereótipos e sobre como abrir caminho para uma sociedade mais inclusiva e preparada para os desafios e oportunidades em um contexto de envelhecimento populacional.
“É preciso criar um diálogo geracional –que sempre começa com conhecimento e participação das lideranças – para conseguir resultados positivos dessa diversidade geracional”, explica Litvak.
Layla contou que, quando começou a empreender no mercado da “economia prateada”, em 2015, o tema só era tratado com o viés de cuidado e saúde. “Muitos profissionais 50+ se sentem cartas fora do trabalho, não se sentem ouvidos”, disse.