Kate Ancketill, CEO do GDR Creative Intelligence, diz que o varejo precisa de um “reset” total

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“OK, Boomer: não estamos nem aí para o seu ‘omnichannel’”. A frase estampou o primeiro slide exibido na apresentação de Kate Ancketill, CEO e fundadora do GDR Creative Intelligence, sobre o futuro do varejo. A palestra Retail trends 2022: Innovative concepts, alternative commerce and the metaverse” talvez tenha sido a mais comentada da NRF 2022 neste primeiro dia de evento, em Nova York. Kate trouxe as tendências com foco na Geração Z, que em 2030 representará, junto com a geração Alpha, 50% da população mundial. Essas gerações vivem o mundo omnichannel desde que nasceram e em menos de 10 anos terão maior poder de compra do que millenials e boomers juntos. 

“Enquanto vocês têm andado ocupados pensando no seu omnichannel, a geração [Z] é app first desde sempre, vive e gasta o equivalente ao PIB da Islândia no TikTok e já abraçou realidade aumentada e realidade virtual faz tempo”, observou Kate em um auditório lotado, onde dezenas de pessoas se acotovelavam pelos cantos, muitas sentadas pelo chão para acompanhar suas previsões. 

“Enquanto vocês têm andado ocupados pensando no seu omnichannel, a geração [Z] é app first desde sempre, vive e gasta o equivalente ao PIB da Islândia no TikTok e já abraçou realidade aumentada e realidade virtual faz tempo.”

Enquanto varejistas estavam ocupados integrando seus canais, esta é uma geração que, quase que em sua totalidade, afirma que as mídias sociais são sua principal fonte de inspiração, já faz compras (30%) em ambientes de realidade aumentada e uma em cada quatro pessoas gastariam cerca de US$ 200 comprando itens puramente virtuais. 

Portanto, caberá às marcas abandonar o pensamento binário entre o que é online e offline e abraçar o mundo ‘não-linear’. Sai o omnichannel e entra em cena o mundo ‘omnifulfillment’, formado por lojas que funcionarão praticamente como centros de logística integrados, sem filas de pagamento, sem prateleiras ou corredores maçantes, do varejo automatizado, das dark stores, das ‘cloud kitchens’.

É uma geração que abraçou a não linearidade na hora de consumir, fugindo dos caminhos tradicionais: compram com assistentes virtuais, em apps como Pinterest e TikTok, em comunidades virtuais (group shopping), via live streaming, e gostam do mundo do aluguel, da segunda mão, dos empréstimos. Além de que, claro, está ligada no metaverso. 

O chamado meta-commerce pode ser, portanto, segundo Kate, a maior oportunidade da história de vendas e de marketing para as empresas. O universo descentralizado, onde mundos virtuais são compartilhados com terras, edifícios, avatares, etc. e tudo pode ser comercializado através de NFTs e que pode ser visualizado através de tecnologia VR já é uma realidade.

Segundo Andrew Ki, CEO e fundador da ADA,  jovens millenials e integrantes da Geração Z tem gasto mais dinheiro comprando itens virtuais e NFTs do que comprando roupas reais via e-commerce. 

A ADA é parte do grupo Unmatereality e trata-se de um marketplace de moda no metaverso para avatares. Usuários têm seus próprios showrooms e podem experimentar as roupas em versões virtuais e reais. Cada usuário gasta em média US$ 83 por mês. 

Entre os outros exemplos de metaverso citados por Kate estão os NFTs colecionáveis lançados pela Dolce & Gabanna, que leiloou sua primeira coleção de NFTs recentemente — cinco peças materiais e digitais, e quatro puramente digitais, pelo valor total de US$ 5,7 milhões. A cidade de Seoul, capital da Coreia do Sul, será a primeira cidade do mundo com uma versão integral no metaverso, que poderá ser usada tanto com objetivos turísticos como para oferecer serviços diversos para os moradores.

A Nike também já criou uma loja virtual no metaverso, onde promove a integração de movimentos reais ao mundo virtual por meio de um equipamento interconectado. Na ‘Nikeland’ avatares podem experimentar tênis clássicos e ainda é possível vivenciar tudo através de uma versão AR, de realidade aumentada, misturando o mundo físico ao digital.

COMO LIDAR COM TANTAS MUDANÇAS?

Kate deu algumas dicas sobre como os varejistas podem começar a implementar transformações em 2022: pensar em agilidade, em serviços que propiciem entregas mais rápidas, com menos inventário e mais serviços. A Zara, por exemplo, já permite que as pessoas que compram no aplicativo se conectem com os estoques de uma determinada loja, permitindo a retirada da mercadoria em 30 minutos após uma compra online.

Na realidade, a separação entre online e offline já caiu, na cabeça dos gen Z, segundo Kate, que anuncia a substituição do e-commerce pelo alt-commerce. E o que significa alt-commerce? O surgimento de canais não-tradicionais, misturados com o social commerce.

Os consumidores jovens preferem o alt-commerce:  62% dos consumidores que têm entre 13 a 39 anos preferem fazer compras diretamente de suas redes sociais, enquanto 31% preferem fazer compras online através de métodos não-tradicionais, em vez de usar ‘sites maçantes’. É um mundo focado em entretenimento, gamificação, socialização, colaboração e comunidade, que são os novos pilares do alt-commerce, um universo onde a compra final é apenas mais uma parte da ‘onda’. O case chinês Taobao é o melhor exemplo do fenômeno: a marca já é hoje o marketplace número 1 do mundo com US$ 538 bilhões de faturamento em 2020 por meio de um shopping ‘gamificado’.

O que podia parecer muito futurista já é uma realidade. São muitas mudanças e, pelo visto, estamos apenas começando.

Acompanhe a cobertura especial da Fast Company Brasil da NRF 2022. 


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