A busca de sentido para a tecnologia e a criatividade no SXSW 2023

Crédito: Fast Company Brasil

Cesar Paz 2 minutos de leitura

O festival South by Southwest deste ano acontece em um momento “pós” pandemia, em que tangibilizamos e massificamos, por meio do ChatGPT, um novo paradigma tecnológico, a Inteligência Artificial (AI). Ao mesmo tempo, reconhecemos, de alguma forma, o “fracasso” do paradigma anterior, a Internet.

Isso remete à segunda metade dos anos 90, quando empreendedores idealistas (eu me incluo nessa turma) achavam que além de ganhar algum dinheiro resolveriam todos os problemas da humanidade, criando novos negócios e soluções.
Marmota feelings? Talvez.

Ezio Manzine nunca veio palestrar no SXSW, mas poderia. Ou melhor, deveria. Manzine é um professor italiano de design do Politécnico de Milão e autor, entre outras obras, do livro “When Everyone is a Designer: Design for Social Innovation”, publicado em 2015, que explora o papel do design na inovação, com foco na dimensão e no impacto social.

O design proposto por Manzine não é forma, não é estética. Ele é fundamentalmente comportamento: um jeito de pensar e agir pautado pelo pensamento criativo para a solução de problemas complexos (dimensão física) sempre com produção de sentido (dimensão social).

Não sei se pensadores e futuristas recorrentes do SXSW que acompanho há anos, como Amy Webb, Kevin Kelly, John Maeda ou gratas novidades do festival em 2023, como o Douglas Rushkoff, tenham lido Manzine. Mas afirmo que, talvez por linhas tortas, esses pensadores se alinham com o pensamento dele.

Todos trazem a visão crítica do paradigma anterior, o da Internet. Eles também entendem a janela de oportunidade que a AI proporciona para co-criarmos algo que projeta um mundo melhor para todos. Existe uma evolução do pensamento, buscando produzir sentido para a tecnologia e para a criatividade. Surpreende ver a Amy Webb assumir o fracasso da Internet livre do Ocidente e chamar a atenção de todos para colaborar em uma visão de futuro. Entusiasma assistir a palestra do Rushkoff, decretando o fim de um ciclo pautado pelo modelo mental dos bilionários, chamada por ele de “Internet Wired” ou a “Internet Nasdaq”.

Enxergar pensadores ocupando o palco do maior festival de inovação, e transformação, buscando co-criar um futuro com um olhar social é respirar aliviado. Difícil dizer agora se seremos capazes de não fracassar outra vez, mas demos uma passo para além de acompanhar tendências e projetar cenários. Ainda bem. Precisa existir sentido nessa tal tecnologia e na criatividade.


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