Qual a pegadinha sobre a “carne carbono neutro”?
Tecnologia vem permitindo a redução das emissões na criação de animais, mas falta atualizar a regulamentação do setor
A produção de carne é mais um item que compõe o desafio de sustentabilidade na produção de alimentos. A agricultura é o maior emissor de carbono nos EUA. O setor deve investir na mitigação do problema, reduzindo a pegada de carbono em suas operações e fazendas até que chegue ao consumidor final.
Um dos maiores problemas apontados no painel do SXSW 2023 que discutiu como a indústria da carne pode ser carbono neutra é a legislação. A iniciativa privada tem conseguido evoluir rapidamente com novas práticas que conseguem reduzir (e até zerar) a pegada de carbono na produção. Mas a legislação não consegue acompanhar a velocidade das inovações no setor.
A criação pode ser parte da solução e não do problema. Segundo Ann Radil, head de redução de carbono da Neutral (primeira empresa de alimentos carbono neutros dos EUA), é factível administrar terras e criar animais em operações que sequestram carbono. Existem diversas soluções disponíveis no mercado para reduzir o impacto ambiental a baixo custo.
Por exemplo, alimentação entérica dos animais sem os cuidados devidos para evitar ou reduzir a geração de metano tem perda de 20% da energia no processo de digestão. A redução pode ser obtida com o uso de bioinsumos na alimentação, como as algas marinhas, explica Alexia Akbay, CEO da empresa de biotecnologia Symbrosia, que utiliza algas marinhas para reduzir as emissões de metano.
As parcerias entre as empresas de proteína animal – incluindo carne e leite – ajudam a reduzir as muitas barreiras para que elas se tornem neutras em carbono.
O mercado dispõe de recursos tecnológicos que permitem mensurar o metano na criação de animais e ajustar a alimentação e os suplementos necessários.
O maior problema ainda está no processo de formalização dos resultados de mensuração de criações extensivas. Isso dificulta determinar com precisão que um determinado produto que chega ao mercado é realmente carbono neutro, o que seria positivo para a conscientização do consumidor final.
“Na próxima década, será prática comum encontrar carnes e lácteos carbono neutro nos mercados”, afirma Ann Radil.
Os produtores buscarão o que for melhor para suas terras e para as criações, acredita Cory Carman, fundadora da Carman Ranch, ao destacar que todo o negócio evolui muito rápido e positivamente.
Presidente da iniciativa We Don’t Have Time, Sweta Chakraborty acredita que ainda há muitos desafios a serem vencidos para se chegar à “carne carbono neutro“ em larga escala. O produto precisa ser mais comercial, dependendo, para tanto, de melhor comunicação sobre o que está sendo realizado e sobre o que vem por aí. Hoje, apenas 1% da carne vendida nos EUA é carbono zero.
A abordagem junto ao mercado deve ser mais holística e o setor deve criar um caminho seguro e sustentável, defendem as participantes do painel. O monitoramento e a verificação sobre as práticas devem sempre ser terceirizados para que sejam confiáveis. Um processo custoso, mas necessário para checagem dos resultados: dados e evidências devem ser verificáveis.
Os cientistas podem aproximar a sociedade ao esclarecer com informações relevantes e confiáveis sobre os benefícios da carne produzida de maneira sustentável.
Vale destacar que a presença de mulheres em um ambiente como o de criação de animais – muito dominado por homens – tem crescido muito. As inovações estão abrindo espaço para elas: são empreendedoras, estudiosas, profissionais abrindo novas frentes na atividade de produção de proteína animal. Assim como em outros casos, é hora do crescimento da participação feminina no setor.