Todo mundo quer mudança, ninguém quer mudar

Por que salas de assuntos urgentes vivem vazias enquanto as de 2050 vivem cheias no SXSW?

Crédito: Fast Company Brasil

Cleber Paradela 2 minutos de leitura

O título desse artigo parafraseia o escritor e dramaturgo russo Liev Tolstói e reflete um sabido comportamento da humanidade (e muito do brasileiro) em procrastinar ou colocar para baixo do tapete os seus problemas e viver em uma bolha confortável e quentinha. Mas como iremos chegar em 2050 sem encararmos de frente esses problemas? Com ChatGPT?

Longe de mim querer ser um negacionista da tecnologia. Pelo contrário. A tecnologia vem ao lado de parte da minha vida e é o assunto que mais estudo e me aprofundo para compartilhar nas aulas de Futurismo e Tecnologias Exponenciais na ESPM e Miami Ad School. Mas a cegueira das “trends”, “hypes” e “reports” é perigosa e só nos faz andar para trás.

Mas vamos ao SXSW. O evento nos últimos 10 anos se tornou um paraíso para os brasileiros da economia criativa, especialmente de agências e anunciantes. Um momento para desopilar a pressão por criatividade e soluções que temos todos os dias, para ser um momento de parar pra pensar, conhecer gente nova e abrir a cabeça. E o mais rico em um evento como esse é poder assistir a uma palestra não só de uma futurista como Amy Webb (disputadíssima pelos brasileiros) mas poder se permitir ouvir quem está falando sobre tecnologias e iniciativas que podem acabar com a fome, exemplos positivos sobre comunidades e países inteiros que criaram novos modelos para reduzir impacto nas mudanças climáticas, histórias inspiradoras de movimentos e pessoas que estão conseguindo encarar de frente o combate aos discursos de ódio, racismo e todos os grupos minorizados.

Mas são justamente essas as salas mais vazias do festival inteiro. Não precisa pegar fila ou correr. Só chegar e puxar uma cadeira. Mas a verdade inconveniente é que não vamos conseguir olhar para os próximos 50 anos sem discutirmos como adultos os últimos 200 anos. Enquanto tivermos trabalho análogo à escravidão em vinícolas em 2023, como poderemos olhar para inteligência artificial generativa de 2030? A solução é parar de olhar para isso? Não! Mas não dedicar 100% do seu tempo no futuro negando o passado e sim olharmos para as travas que não deixarão um país andar para o futuro que a gente tanto almeja.

Por trabalhar com energia limpa e por ser novo nessa indústria, resolvi tirar 2 dias inteiros para assistir conteúdos e me relacionar com pessoas desse mercado de outras regiões mais avançadas como Alemanha e Califórnia nos EUA. Não estou falando de um assunto nicho. Estou falando sobre uma das principais metas da ONU até 2030. O evento categorizou Mudanças Climáticas como uma trilha de conhecimento do evento, ou seja, deixou de ser uma “matéria optativa” e passou a ser quase uma “matéria obrigatória” para olhar para o futuro.

As salas dessa “track” estavam todas com menos de 20% da lotação. Não adianta estar no relatório de tendência que vai circular na agência, sem estar na prioridade e agenda real das pessoas. O desafio das mudanças climáticas é realmente muito grande pois passa distante da prioridade não só das grandes corporações e governos mas até das agendas dos inovadores, comunicadores e que acreditam que o futuro pode ser realmente melhor e abundante.


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