Na era da co-inteligência e incerteza, estratégia depende do caminho
Na era da co-inteligência, onde a incerteza é parte do processo, o modelo para desenvolver estratégia de negócios também muda

Atravessamos a linha entre o que conhecíamos e o que estamos prestes a conseguir imaginar. Definitivamente.
A neurociência demonstra que só conseguimos imaginar com base em repertório conhecido. Então, o impacto de adentrarmos uma era onde possibilidades do que é possível não estão tão claras e, ao mesmo tempo, novas possibilidades são descobertas todos os dias, nos coloca em um lugar novo.
“Vivemos dias que são como décadas”, disse a futurista Amy Webb. Felizmente, no dia 1 do SXSW 2025, assisti Maggie Jackson (autora de "Uncertain: The Wisdom and Wonder of Being Unsure") falar durante uma hora sobre a importância de convivermos com a incerteza.
Ela trouxe também neurociência para explicar que nosso maior neurônio, chamado Pyramidal, é quem detecta quando estamos em estado de incerteza. Imediatamente, o cérebro se torna mais atento e se abre para informação.
Jackson estudou como uma pessoa se torna expert: basicamente, graças a um modelo de rotina, aprendendo continuamente sobre como fazer melhor coisas que aprendeu no passado – o que ela chamou de "routine expertise".
Depois, comparou isso com um modelo de "adaptative expertise": diante do novo, ele faz perguntas para entender o contexto, aprofunda e amplia visão para melhor compreensão e "escuta" as histórias por trás dos problemas.
É com base nisso que Jackson diz que "a concordância é importante, mas concordância muito rapidamente torna times menos criativos, menos precisos e menos produtivos." A discordância vem com a incerteza, e incerteza proporciona mais curiosidade, mais interesse e torna um grupo mais auto responsável.
Na era da co-inteligência – sobre a qual ainda não conhecemos tudo e, provavelmente, nunca teremos uma visão completa – os enablers são definitivamente diferentes dos da era da transformação digital.

Do ponto de vista da tecnologia, uma nova arquitetura vai surgir: das atuais arquiteturas centradas em aplicativos da era digital, vamos migrar para uma arquitetura multiagentes, estruturas modulares que orientam o desenvolvimento de agentes e ferramentas comuns de IA reutilizáveis.
Do ponto de vista humano e de modelo de trabalho, o salto também é cada vez mais evidente. Mike Bechtel (futurista chefe da Deloitte), Ian Beacraft ( CEO da Signal ) e Rishad Tobaccowala (autor de "Rethinking Work") trouxeram a mesma perspectiva para esse tema: na nova era, o custo do conhecimento chega a quase zero.
O valor não está mais em armazenar informações ou mesmo na capacidade analítica e especializada. Nosso valor estará na interdisciplinaridade, na criatividade e na capacidade de enxergar as correlações estratégicas, cruzando cenários e gerando inovações pela fusão entre diferentes áreas de conhecimento.
Bendito neurônio Pyramidal que nos mantém aptos a ativar atenção e enxergar os pontos que não são tão óbvios.
CO-INTELIGÊNCIA E ESTRATÉGIA
Na era da co-inteligência, onde a incerteza é parte do processo, o modelo para desenvolver estratégia de negócios também muda.
Líderes devem estar menos orientados a buscar profundidade. Em vez disso, o ideal é focar em mais amplitude nos momentos de construção de visão, identificação de oportunidades adjacentes ao core business onde tecnologia cria real vantagem competitiva para crescimento e diversificação de valor em novos modelos de negócios.
E, junto a isso, construir um movimento que estimule a ação, o aprendizado emergente e a captura de oportunidades que antes pareciam não razoáveis. Um movimento baseado em uma cadência mais dinâmica de tomada de decisões estratégicas, conectando e reconectando os pontos que são identificados com as intenções de negócio e as inflexões de tech que vão continuar a acontecer ferozmente, conseguindo difundir ao longo do caminho que recursos testar, investir e escalar.
nosso valor estará na interdiscipli- naridade, na criatividade e na capacidade de enxergar as correlações estratégicas.
Estratégia passa a ser ação muito mais do que um momento ou uma entrega. “Estrategiar” como uma ação contínua, uma “adaptative expertise”, retroalimentada com inteligência analítica abundante, privilegiando rapidez e resultados concretos sendo capturados, versus o modelo antigo onde esforço e energia eram mais concentradas em compreender e dominar complexidades de cenários incertos para só então definir ação.
Proporcionando assim um modelo adaptativo e conduzindo times, mesmo na alta liderança, a construir com espaço de discordância, tendo tempo para refletir juntos, testar e entender impactos e oportunidades nem sempre óbvias das tecnologias emergentes postas em ação.
Na era da co-inteligência, estratégia depende do caminho porque é de forma dinâmica que vamos aprender a conectar os pontos novos que vão ficando claros todos os dias – que, sim, parecem décadas.