Especialistas entrarão em extinção. O futuro pertence aos curiosos

Não se trata mais de dominar um único campo, mas de ser capaz de navegar por diferentes áreas, criando novas combinações

Crédito: Alona Horkova/ SvetaZi/ Getty Images

Stéphanie Fleury 3 minutos de leitura

Mike Bechtel, futurista chefe da Deloitte, não estava no palco principal, mas a fila para assisti-lo fazia voltas no festival South by Southwest. Muita gente querendo ouvir mais sobre “Amplitude é a nova profundidade: Por quê o futuro favorece os ‘learn-it-all’ em detrimento dos 'know-it-all’".

O nome da palestra instiga, afinal, já há alguns anos que tudo que envolve "futuros" ganha bastante atenção. Que o diga a CEO do Future Today Institute, Amy Webb – que, aliás, este ano não fez tanto sucesso com a audiência brasileira. Para alguns, sua palestra podia ter sido um e-mail.

Teria Webb ficado especialista demais?

Por décadas, fomos treinados a acreditar que o caminho para o sucesso profissional passava pela especialização extrema. Seja na medicina, na engenharia ou nos negócios, o mantra era claro: escolha um nicho, aprofunde-se nele e torne-se indispensável.

Mas, e se essa premissa estiver errada? E se, em um mundo onde a informação é abundante e a inteligência artificial está cada vez mais avançada, a verdadeira vantagem competitiva não for saber tudo sobre um tema, mas sim conectar os pontos entre diferentes disciplinas?

Essa foi a provocação central de uma das apresentações mais instigantes do evento. Em um ambiente de negócios em rápida transformação, os generalistas – aqueles que aprendem continuamente e fazem conexões inesperadas – têm mais chances de inovar e prosperar do que os especialistas.

GENERALISTAS CRIATIVOS x LEARN IT ALLS: A NOVA ELITE PROFISSIONAL

Bechtel propôs que o ideal não é ser um especialista profundo (“I”), mas um “T” (alguém com profundidade em uma área e conhecimento amplo em outras) ou, melhor ainda, um “X” (que conecta múltiplas disciplinas e perspectivas).

E ele não está sozinho nessa visão de “aprendedor serial”. Ian Beacraft – outro futurista aclamado no evento – chama esses profissionais de “generalistas criativos”.

Em essência, ambos apontam que a era da especialização extrema está dando lugar à adaptabilidade e à interdisciplinaridade. Mas, enquanto Bechtel foca no aprendizado contínuo e na curiosidade como diferencial competitivo, Beacraft coloca a IA como ferramenta essencial para expandir as capacidades dos profissionais, permitindo que os generalistas atuem com mais profundidade e eficiência.

apresentação de Mike Bechtel no SXSW 2025
Crédito: Reprodução/ Redes sociais

A especialização extrema, antes vista como um diferencial, pode se tornar uma armadilha, levando à chamada cognitive entrenchment (entrincheiramento gognitivo), um pensamento rígido e limitado à própria área de especialização.

Se a especialização não é mais um caminho seguro, o que fazer? Dentre algumas estratégias para desenvolver uma mentalidade de learn-it-all, a que se destaca é a curiosidade.

Bechtel sugere que pratiquemos o que ele chama de “curiosidade radical". Não basta ser um aprendiz casual. É preciso ser intelectualmente promíscuo, explorar novos temas sem medo de parecer iniciante e conectar ideias de diferentes domínios, segundo ele.

O FUTURO FAVORECE OS CONECTORES

Bechtel encerrou com uma provocação poderosa: “o futuro pertence aos dot connectors, não aos dot perfecters”. Ou seja, não se trata mais de dominar um único campo, mas de ser capaz de navegar por diferentes áreas, criando novas combinações e inovações inesperadas. De ser um generalista criativo.

E falando em conectar os pontos: é interessante ver como o aprendizado da palestrante que abriu o evento – a autora Kasley Killam – sobre o pilar da saúde social pode também ser aplicado nos conceitos e visões de Mike Bechtel e Ian Beacraft.

Imagina se, ao exercitarmos nosso músculo social, escolhermos intencionalmente criar relações com pessoas fora da nossa área de atuação? A amplitude e o generalismo que eles sugerem pode começar por aí.

Você está pronto para aprender algo novo ou conhecer gente nova hoje?


SOBRE A AUTORA

Stéphanie Fleury é empreendedora e aprendedora serial. saiba mais