SXSW discute o potencial da computação quântica

Charina Chou, COO do Google Quantum AI, explica alguns dos benefícios da tecnologia: de combate ao câncer até a comprovação do multiverso

Crédito: MF3d/ Getty Images

Rafael Farias Teixeira 5 minutos de leitura

Charina Chou, COO do Google Quantum AI, participou do festival South by Southwest 2025 para conversar com o jornalista Reed Albergotti sobre o potencial e as possibilidades da computação quântica. Logo no começo do bate-papo, a cientista explicou a mensagem que ela gostaria que as pessoas tirassem do painel. 

“A capacidade de usar um computador quântico – que, fundamentalmente, aproveita a mecânica quântica – será uma virada de jogo", disse. “Computadores quânticos são capazes de resolver problemas que são impossíveis para IA ou supercomputadores. Nós deveríamos mergulhar no porquê, como e que tipo de problemas.”

O benefício de juntar as duas tecnologias seria ainda maior. Chou contou que o nome da equipe responsável pela construção de um computador quântico é Google Quantum AI por que a empresa acredita que, se for possível combinar tecnologia quântica e inteligência artificial, os benefícios serão muito maiores. 

Mas o que é a computação quântica? A executiva explicou que a natureza em si é mecânica quântica: elétrons, átomos, moléculas, todos interagindo. Isso dá origem a todas as propriedades que vemos no mundo.

Na computação quântica estamos falando de um bit quântico, um qubit, que opera de acordo com os princípios da mecânica quântica. Então, em vez de precisar estar em apenas zero ou um, o bit quântico pode estar em elementos de zero e um ao mesmo tempo. 

Usar a computação quântica vai ajudar a resolver problemas complexos. Para chegar nisso, você precisa ter vários bits quânticos juntos agindo em conjunto, algo chamado de entrelaçamento. É a ideia de que você pode obter vários qubits conversando entre si, e, ao fazer isso, obter elementos de todos os diferentes estados acessíveis.

COMBATER O CÂNCER, CRIAR PROTEÍNAS E ATÉ COMPROVAR O MULTIVERSO

Quais problemas complexos poderiam ser resolvidos por meio da computação quântica? Chou mencionou os vários tipos incuráveis de câncer. Um computador quântico poderia chegar ao cerne do que realmente está acontecendo, não apenas estimando o que vai acontecer ou aprendendo com dados passados, mas calculando o estado atual e as mudanças nas moléculas em suas células, além de descobrir que medicamentos podem fazer alguma diferença.

A especialista também mencionou outra aplicação, do Google DeepMind, chamada AlphaFold, que ganhou o Prêmio Nobel em 2024. Ela prevê como a proteína vai se dobrar, como ela opera na célula, como interage com outras proteínas e com medicamentos. Essa aplicação teve que treinar com cerca de 100 mil proteínas que estavam em um banco de dados para a IA aprender e prever seu comportamento.

No meio da discussão, Chou falou sobre um conceito muito comum para os fãs de quadrinhos e filmes da Marvel: o multiverso, a ideia de vários universos existindo ao mesmo tempo, em paralelo. 

Chip quântico Willow, do Google (Crédito: Divulgação)

Segundo ela, ao longo da história, a física e a filosofia estiveram intimamente ligadas, porque a física pode nos dizer o que, mas não necessariamente nos diz o porquê. Com isso, é possível ver a maneira como os átomos se comportam, não necessariamente o motivo pelo qual o fazem.

“Você não está vendo a combinação de zero e um. Na verdade, está vendo as múltiplas combinações em todos esses universos paralelos ao mesmo tempo", apontou. 

Ela dá como exemplo o chip quântico Willow, do Google. Ele pode executar algo que levaria algo como 10 septilhões de anos (10 seguido de 24 zeros), o que potencialmente seria alguma evidência de que todas essas computações estão acontecendo em outros universos.

A CORRIDA PARA O COMPUTADOR QUÂNTICO

Há vários caminhos que levam à construção de um computador quântico, envolvendo os seus diferentes componentes. Muitas vezes, o que chama mais atenção do público é a parte do hardware, como o chip ou a estrutura para refrigerar os qubits.

Mas há também o software que controla o chip e diz a ele quais cálculos executar, eainda os algoritmos que realmente identificam quais são os aplicativos úteis. “Quando olhamos para diferentes abordagens, diferentes empresas, diferentes grupos estão tentando atuar em diferentes partes desse espaço", disse a COO do Google Quantum AI.

O que seria necessário para ter um computador quântico capaz de resolver os problemas complexos que esperamos? Para Chou, vamos precisar de pelo menos 100 mil, um milhão ou mais de qubits. E isso inclui não apenas o chip, mas todo o maquinário ao redor. 

Nessa corrida para o computador quântico ideal, não bastam os esforços da comunidade científica: os investimentos públicos são fundamentais, principalmente se considerarmos os benefícios para as próprias nações.

O primeiro será a possibilidade de compreender a complexidade da natureza, beneficiando esforços e inovações em diferentes indústrias, como a criação de melhores baterias, células solares, reações químicas e uso mais eficiente de energia em geral. “Algumas pessoas dirão que a crise climática que estamos enfrentando é a razão para buscar a computação quântica", disse Chou.

A segunda razão que a cientista apontou é a segurança: um computador quântico poderoso o suficiente poderia resolver a fatoração de grandes números. Isso significa que ele poderia quebrar a criptografia que protege a maioria das comunicações seguras hoje, o que seria uma questão de segurança nacional.

Chou espera que o Google tenha uma aplicação prática usando computadores quânticos nos próximos cinco anos, como conseguir resolver a estrutura de uma molécula, algo impossível de ser feito por qualquer outro meio.


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais