Amy Webb propõe a “re-percepção”

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 3 minutos de leitura

“Re-perception” – a capacidade de enxergar algo em um cenário ou a partir de uma informação existente, percebendo algo que os outros não alcançam – é, segundo a futurista Amy Webb, CEO do The Future Today Institute, a grande habilidade essencial para a criatividade, a inovação, o empreendedorismo, a boa gestão. 

Questionar o funcionamento de sistemas existentes, olhar com maior curiosidade e menos ceticismo para tendências emergentes, avistar novos riscos e possibilidades onde ninguém mais viu: uma percepção renovada, um olhar fresco. 

“Re-perception” é o tema de seu novo relatório de tendências (o 15º de sua carreira) apresentado no SXSW 2022, com nada menos que 668 páginas e 574 tendências em tecnologia e ciência. 

Segundo Amy, a re-percepção se faz necessária porque a humanidade convive com catástrofes iminentes e informações que parece não compreender. Por exemplo, a emergência climática e a perspectiva de um aquecimento global da ordem de 2 graus centígrados. 

Se não re-percebermos este dado, não o ressignificarmos e não fizermos algo a respeito, as consequências serão graves. Os relatórios de Amy servem exatamente para ajudar as pessoas a reajustar seu olhar para informações e dados que estão disponíveis. 

A inteligência artificial, por exemplo, é uma área de enormes possibilidades catastróficas. No cenário mais provável desenhado por Amy no não tão distante 2027 (daqui a apenas cinco anos!), o mundo estará dominado pela desinformação (não será possível distinguir imagens e informações falsas de reais) e será impossível ser uma pessoa anônima (nossos dados circularão de maneira desordenada). 

A MORTE DO MARKETING DIGITAL

No cenário de web3 dominado pelo metaverso desenhado por Amy para 2032, há 70% de chances de estarmos confusos entre nossos muitos avatares no metaverso. O marketing digital terá morrido, porque será impossível direcionar publicidade em um mundo no qual as pessoas possuem uma multiplicidade de avatares – e, possivelmente, nem elas saibam mais quem são de verdade.

“Algumas perguntas precisam ser feitas hoje para evitar o pior, como por exemplo: quem manda no metaverso? O que é considerado assédio no metaverso? Como lidar com as diferenças culturais entre as pessoas?”, questionou.

BIOTECNOLOGIA DO BEM E DO MAL

A terceira previsão diz respeito ao uso da biologia sintética, aquela que hoje desenvolve “super frangos” geneticamente modificados e carne criada em laboratório. Amy prevê que, em dez anos, estaremos falando de biologia sintética como falamos de inteligência artificial hoje. 

Sistemas biológicos, como o DNA, já podem ser programados como computadores. As fronteiras entre computadores e biologia desaparecerão. 

Nesta área, ela traçou dois cenários possíveis, um positivo e outro negativo, com 50% de probabilidade de se tornarem realidade. No otimista, a morte se torna um pouco mais opcional, sabemos como e de onde vem nosso alimento e comemos carne de todos os tipos desenvolvidas em laboratório. 

NÃO PRECISAMOS ESTAR PREPARADOS PARA TUDO. MAS PRECISAMOS ESTAR PREPARADOS PARA QUALQUER COISA.

O cenário negativo, no entanto, mostra que perdemos a mão e falhamos em perceber que 2022 é um ano crucial para a sobrevivência da humanidade. Em 2032, a seca domina boa parte do planeta, nosso DNA “vazou” e é usado por hackers como moeda para sequestros e toda sorte de ameaças. Pode-se criar vírus em laboratório com objetivos, muitas vezes, de atingir uma única pessoa. São só dez anos à frente.

PERDAS E GANHOS

As três tendências apresentadas são aquelas em que temos mais a ganhar, se agirmos, e mais a perder, se não fizermos nada. Amy diz que é preciso levar em conta alguns aspectos quando falamos de inteligência artificial, metaverso e biotech:

  • estamos em um período de aceleração;
  • vieses ainda existem e precisam ser corrigidos;
  • descentralização vai beneficiar alguns, mas não todos;
  • não temos proteção ou planos nacionais; 
  • é preciso redefinir aquilo que é real. 

“Não precisamos estar preparados para tudo. Mas precisamos estar preparados para qualquer coisa”, concluiu. 

Em tempo: faça o dowload dos estudos em https://futuretodayinstitute.com/trends/


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais