Entramos em um superciclo tecnológico, afirma Amy Webb no SXSW 2024

Segundo a futurista, ele será impulsionado por inteligência artificial, biotecnologia e um ecossistema de dispositivos conectados

Amy Webb no SXSW
Crédito: Fast Company Brasil

Redação Fast Company Brasil 3 minutos de leitura

Em 2024, entramos em um superciclo tecnológico. Esse é o principal tema a 17ª edição do Relatório de Tendências Tecnológicas do Future Today Institute (FTI), lançado pela futurista Amy Webb, durante o SXSW. "Estamos num momento que não pode ser definido apenas por tendências", disse durante a abertura da sua apresentação.

Em economia, um “superciclo” é um período prolongado de expansão da demanda, elevando os preços das matérias-primas e ativos a níveis sem precedentes. Isso pode se estender ao longo de anos e é impulsionado por mudanças estruturais substanciais e sustentadas na economia. 

Web explica que um superciclo tecnológico é uma onda de inovação tão potente e difundida que promete remodelar a própria estrutura da nossa existência. "Desde as complexidades das cadeias de abastecimento globais até às minúcias dos hábitos diários, desde os corredores do poder na política global até às normas tácitas que regem nossas interações sociais", afirmou na abertura do seu relatório. 

"O último superciclo de tecnologia que aconteceu foi a revolução industrial. Mas, diferente da revolução industrial, são três tecnologias de uso geral que estão nesse superciclo”, explicou. São elas: inteligência artificial, biotecnologia e um ecossistema florescente de dispositivos interligados para pessoas, animais de estimação e objetos.

SUPERCICLO E 900 TENDÊNCIAS

A análise do FTI mostra que todas as tecnologias – AR/VR/XR, veículos autónomos, satélites em órbita, entre outros – ligam-se de alguma forma ao superciclo. Dispositivos como Apple Vision Pro e o Quest, da Meta, serão cada vez mais populares. Webb fala sobre a "disputa" pela face das pessoas.

A computação espacial pode criar cenários complexos de conexão entre vida real e vida digital. E nesse sentido, podem agravar as diferenças sociais. No cenário pintado por Amy Webb, os devices como o Apple Vision podem ser usados para criar "cupons de atenção", ou seja, descontos a partir do olhar das pessoas. Num ambiente onde o digital e o espacial se unem, a personalização de preços pode alterar as gôndolas e exigir que pessoas com menos dinheiro fiquem ali, interagindo com publicidade para reduzir o valor total das compras.

Isso porque o computador no rosto "coleta dados o dia todo". "Ele também serve como interface para a vida cotidiana e efetivamente constrói um grande modelo de ação. Isso pode representar uma mudança fundamental na forma como usamos a tecnologia", comenta. "Para líderes empresariais, investidores e decisores políticos, compreender este superciclo tecnológico é fundamental."

"As ramificações são nítidas e inegáveis. À medida que este superciclo tecnológico se desenrola, haverá vencedores e vencidos, aqueles que tomarão as rédeas desta mudança histórica e aqueles que serão engolidos inteiros", diz Amy.

Eis a outra megatendência que cria o "superciclo tecnológico": a biotecnologia. Amy falou até mesmo sobre um novo tipo de IA, a Organoid Intelligence - ou inteligência artificial de organoides. Basicamente, a tecnologia que usa células vivas como o meio computacional. Pode parecer um cenário de futuro longo, mas, na verdade, está já acontecendo. Amy deu exemplo de duas empresas, uma delas é o GNoME, da Deepmind, que cria proteínas novas a partir de testes com IA.

As células, explica a futurista, são capazes de mais conexões do que chips e silício. "Há algumas semanas foi anunciado um sistema de biocomputação feito de células cerebrais humanas vivas que aprendeu a reconhecer uma voz humana entre 240 vozes de pessoas, usando clipes de áudio e alguma outra tecnologia de IA", conta.

O desafio aí está em como garantir que essas ondas de novidades não caiam na armadilha de ser comandada por poucos "messias tecnológicos", que tentarão vender como salvar o mundo alterado por tecnologias que suas empresas mesmas comandam. Ao fim do seu painel, Amy termina com uma mensagem. "O tecno-otimismo que os messias da tecnologia querem 'pregar' não vai nos salvar. E não precisamos ser salvos por um messias tecnológico. Precisamos de um plano melhor de futuro", disse.

Nesta 17ª edição do relatório, o FTI conectou o superciclo a mais de 900 tendências, em uma pesquisa apresentada em 16 relatórios específicos de tecnologia e do setor que revelam a situação atual e listas de influenciadores a serem observados, juntamente com exemplos detalhados e recomendações para ajudar os executivos e suas equipes a desenvolver seu posicionamento estratégico. 

É possível baixar o relatório completo pelo site do FTI.


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