Jane Fonda faz chamada para ação contra a mudança climática – e resgata espírito do festival

Aos 86 anos, ativista falou com indignação e paixão, responsabilizou empresários e políticos e fez apelo para pessoas votarem com a causa climática no coração

Crédito: Amy Blackburn/ SXSW

Camila de Lira e Mariana Castro 3 minutos de leitura

Jane Fonda esbanjou energia no South By Southwest (SXSW). Na reta final do evento, a ativista e atriz de 86 anos resgatou o espírito do festival: provocador, progressista e sem papas na língua.

Ela participou do painel Hollywood and Activism: Insights from Jane Fonda, David Fenton, and Sweta Chakraborty, em que fez um apelo urgente para ações contra as mudanças climáticas.

"Não busque esperança. Haja! E a esperança virá ", disse, citando Greta Thumberg, ativista de 21 anos.

A atriz falou com indignação, paixão e entusiasmo. Deu nome aos bois ao responsabilizar empresários e políticos, e – em ano eleitoral nos Estados Unidos – chamou a atenção da plateia sobre a importância de votar com a causa do clima no coração.

"Exxon-Mobil, Chevron, Shell… Esses filhos da p*ta sabiam desde os anos 70 que os produtos que colocavam no mundo iam causar o aquecimento global. E não fizeram nada para impedir", disse enfaticamente.

Jane Fonda (Crédito: Daniel Leal)

Ao lado de David Fenton e Sweta Chakraborty, Jane contou sobre o seu ativismo. No lugar de usar a fama para se posicionar contra a indústria de óleo e gás, a atriz procurou pelo Greenpeace, onde criou o Fire Drill Fridays, além de ter se conectado com a organização We Don`t Have Time, de Greta Thumberg. "Se você quer ir rápido, vá sozinho. Mas se quer ir longe, vá junto com os outros", afirmou.

Desde 2019, a ativista foi presa pelo menos cinco vezes por conta dos protestos da Fire Drill Fridays. A atriz criou um fundo para apoiar candidatos que lutam contra o caos climático. Ela reforçou que somos a primeira geração a experimentar os efeitos da crise climática e a última que pode fazer algo a respeito. 

Destacou ainda que empresários do petróleo estão preocupados apenas em obter lucros, passando por cima dos cuidados com o planeta. "Isso tudo deixa vocês nervosos? Espero que sim. Espero que vocês fiquem tão bravos que façam algo! É hora de se preparar para a batalha, ir para as ruas, protestar", conclamou.

Sweta Chakraborty, David Fenton e Jane Fonda (Crédito: SXSW)

A atriz fez um apelo às mulheres da plateia, pedindo que não durmam ou namorem com executivos do setor de petróleo. Ressaltou também a importância de trazer artistas e a criatividade para a luta climática, para que o tema esteja em filmes, músicas e na arte. Tudo para que as pessoas possam entender o que está acontecendo. Ela citou um hino climático da cantora e filantropa norte-americana Dolly Parton.

David Fenton trouxe o exemplo do diretor Adam McKay, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por "A Grande Aposta". Ele dirigiu o longa da Netflix "Não olhe para cima" e criou uma produtora chamada Yellow Dot Studios, voltada exclusivamente para a produção de filmes e comerciais que tratam sobre o caos climático.

A ativista reforçou que somos a primeira geração a experimentar os efeitos da crise climática e a última que pode fazer algo a respeito.

Em sua fala, ele citou o "terrível surto de dengue" pelo qual o Brasil está passando e relacionou a proliferação dos mosquitos na América Latina ao aumento da temperatura.

Fenton citou ainda os efeitos do aquecimento global na saúde das pessoas, mas terminou com uma mensagem otimista: "devemos ter em mente que podemos ter um mundo muito melhor à nossa frente".

Ele trabalha há 50 anos com a causa ambiental e é autor de The Activist's Media Handbook: Lessons from Fifty Years as a Progressive Agitator (Manual de Mídia do Ativista: Lições de 50 anos como um Agitador Progressista, em tradução livre).

LUTA CONTRA A DEPRESSÃO

Durante sua apresentação, Jane Fonda expôs um momento pessoal delicado, de vulnerabilidade.

"Há cinco anos, eu estava caindo no buraco do desespero. Era muito difícil viver. Eram notícias de pássaros morrendo no México e no Arizona. Na Califórnia, os incêndios não paravam. O céu de Los Angeles estava laranja escuro. Era apocalíptico. E não sabia o que fazer", contou.

Ela saiu do buraco e venceu a batalha contra a depressão abraçando a causa ambiental, agindo, protestando, cobrando políticos e empresários.

Para a atriz, uma das coisas mais importantes que aprendeu ao se tornar ativista é que se não houvesse racismo, não haveria crise climática. Se não houvesse patriarcado, não haveria mudança climática.

"Faz parte de uma mentalidade que coloca os homens brancos no topo. Tudo é transacional e hierárquico."


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é repórter e Mariana Castro, editora-executiva da Fast Company Brasil. saiba mais