Em um evento de mercado, dialogar se faz difícil

O Web Summit Rio nos mostra que falar é fácil. Ouvir, aprender e conectar... Não tanto.

Crédito: Fast Company Brasil

Juliana de Faria 2 minutos de leitura

Ninguém consegue inovar sozinho. Então, depois de anos pandêmicos e isolamento social, é imensa a expectativa ao redor do encontro presencial de dezenas de milhares de pessoas em um mesmo encontro para falar de futuro. Por isso, foi melancólico perceber que a experiência da primeira edição do Web Summit no Rio teve o mesmo dissabor de passar horas a fio dando scroll sem fim na timeline de qualquer rede social.

Estamos falando de um evento da indústria. Lá, pessoas físicas e jurídicas que estão na linha de frente da implementação de inovações contam suas interpretações dos hypes e promessas da tecnologia, bem como histórias de suas lutas bem-sucedidas sobre um status quo que, na maior parte das vezes, elas mesmas criaram.

As palestras são curtíssimas, com algo entre 10 e 30 minutos. Se assemelham a pitches de elevador e, aos mais dados à cultura pop, a programas de speed dating entre empresas e agências. Existe um sem fim de opções de conteúdos, mas grande parte foi desenvolvida em cima do que essas organizações estão fazendo. Em alguns casos, algumas até deixam escapar o que não estão fazendo – para o bem e para o mal. 

Os momentos de reflexão estão voltados às jornadas individuais e pontuais. É um espaço das convicções e das vitórias. Afinal, só o êxito cabe, com maestria, nas limitações – seja a do tamanho da legenda de um post à do cronômetro no palco. Não diria que não há espaço para a dúvida, o questionamento, o coletivo e o político. Mas, certamente, não há tempo. Afinal, qualquer tipo de enfrentamento de senso comum exige conexão. E conexão exige esforço.

Que os avanços tecnológicos nos livrem sim de qualquer trabalheira desnecessária, mas não dessa dedicação e afinco que temos ou deveríamos ter para compreender, aprender e sonhar uns com os outros. 

Quer um exemplo prático? Mais de 20 mil pessoas estão reunidas para falar de inovação no mesmo país e na mesma semana em que políticos e grupos sociais disputam contra gigantes do Vale do Silício uma maneira de combater notícias falsas na internet. E vamos encerrar a semana com uma contribuição morna, quase fria, para esse debate.  

Falar tem sido fácil, dialogar… Bem mais difícil. 


SOBRE A AUTORA

Juliana de Faria é jornalista, escritora e pós graduada em neurociência e comportamento. Está à frente do Estúdio Jules, consultoria c... saiba mais