Web Summit Rio: uso da IA no trabalho requer novas habilidades e governança 

Crédito: Fast Company Brasil

Aline Scherer 3 minutos de leitura

Apesar dos recentes anúncios sobre a intenção de pausar pesquisas sobre inteligência artificial, por falta de regulação e mecanismos que garantam alguma segurança, ela já está no mercado de trabalho. Tema onipresente no Web Summit Rio, a IA está extinguindo empregos, criando novas profissões e atuando em diferentes áreas da economia. 

Os primeiros postos de trabalho que estão sendo substituídos são operacionais e afetam as pessoas mais vulneráveis – um problema sobretudo em países com alta desigualdade social e racial, como o Brasil. “Uma das principais questões é como nos preparamos para trabalhar em conjunto com a IA”, disse Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups no painel “Novas fronteiras na guerra por talentos”.

As novas profissões ligadas ao desenvolvimento da própria tecnologia, sua moderação e suas implicações éticas requerem novas habilidades. A maioria dos desenvolvedores de IA nas big techs, por exemplo, tem justamente o perfil homogêneo que empresas mais comprometidas com inovação e diversidade buscam evitar.

Mas a adoção da IA nas empresas é um caminho sem volta. “A IA será provavelmente seu próximo colega, trabalhando com você”, disse Felipe. Emma Goldberg, jornalista do The New York Times e especialista em futuro do trabalho, provocou: “Eu me pergunto se nós vamos buscar café para a IA ou a IA vai buscar nosso café. Espero que sejam colegas legais”. 

Para além das habilidades técnicas do desenvolvimento da tecnologia, existe a necessidade de preparar as pessoas para saber dar os comandos certos para que a IA responda da melhor maneira. “A IA supostamente deveria trabalhar para nós”, disse Renata Horta, fundadora e diretora de novos negócios e parcerias da consultoria Troposlab.

Outro problema envolvendo esta tecnologia está ligado a ferramentas como o ChatGPT, que respondem a qualquer pergunta de forma personalizada com base em informações disponíveis na internet. Segundo especialistas que participaram do Web Summit Rio, esses softwares estão sendo levados muito a sério por profissionais e empresas – um risco aos negócios, já que há muita informação falsa e incorreta na Internet.

Decisões tomadas com base na IA ou pela IA podem gerar impacto negativo, além de prejuízos financeiros. “O software não pode ser preso, mas alguém deve ser preso ou responsabilizado”, disse Pedro Bramont, chefe de digital do Banco do Brasil, no painel “Como a IA está revolucionando a economia”. 

Habilidades em foco

Não só a adoção de inteligência artificial exigirá a aquisição de novas habilidades, como também a ascensão do trabalho remoto, consolidado por muitas empresas após a pandemia. As habilidades dos colaboradores são prioridade, uma vez que a localização das pessoas importa menos. “Isso significa que as pessoas também deveriam buscar trabalho globalmente”, disse Dan Westgarth, durante outro painel sobre o futuro do trabalho. Ele é chefe de operações, compliance e expansão da Deel, startup de recrutamento especializado em tecnologia, da qual o Brasil é o segundo maior mercado.

Para tirar o melhor proveito de times geridos à distância ou híbridos, as pessoas precisarão de ferramentas da neurociência para compreender questões ligadas às emoções e comportamentos – próprias, dos pares e liderados. Por exemplo, criar momentos de interação em todas as reuniões, e buscar formas de se manter engajado e produtivo – ou no flow, estado ótimo de desempenho. “Para não ter um burnout, as pessoas não devem estar pressionadas a trabalhar mais do que 10% acima da sua capacidade. Mas se elas trabalham 10% menos de sua capacidade, o risco é desengajamento”, pontuou Dan.

Na Deel, isso se traduz em dinâmicas como não precisar sempre ligar as câmeras em reuniões, especialmente às segundas-feiras. Assim, os colegas podem caminhar pela casa, olhar a vista da janela ou fazer alguma atividade pessoal paralelamente às reuniões, já que “ficar sentado o dia todo em frente a câmera é extremamente desmotivante”.

As mudanças nas dinâmicas de trabalho remoto e as preocupações sobre a IA devem continuar refletindo em novas regulamentações, salientou Dan: “A inteligência artificial deve operar em bases racionais e não emocionais”. As emoções ficam para os colegas humanos. 


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Repórter Especial Fast Company Brasil saiba mais