A importância do Sul Global no ecossistema de inovação

Secretário de Cultura e Turismo de Salvador critica falta de investimento na cultura afro-brasileira; CEO da Box destaca mudança em percepção de valor

Crédito: Fast Company Brasil

Mariana Castro 3 minutos de leitura

Quer estar conectado com futuro, inovação e tecnologia? Invista na cultura afro-brasileira – e foque no impacto. Esse foi o recado de Pedro Tourinho, secretário de Cultura e Turismo de Salvador. Ele falou no painel “A essência do Sul Global: Ascendendo como referência em inovação, cultura e tecnologia”, durante o Web Summit Rio 2024.

“Se você quiser investir em impacto, se quiser investir em inovação, invista na cultura afro-brasileira. Essa é a mensagem. Essa é a melhor maneira, a mais verdadeira, de estar conectado com o futuro”, afirmou o secretário. Ao seu lado estavam a CEO da Box 1824 e colunista da Fast Company Brasil, Paula Englert, e Vanessa Sanches, co-fundadora da plataforma Bantumen.

Tourinho criticou empresas que estão o tempo todo atrás da ideia mais inovadora, mas não investem na cultura e na criatividade brasileira. Para ele, enquanto diretores de marketing, CEOs e COOs de São Paulo estão comparando seu estande com o do concorrente, deixam de olhar para movimentos artísticos e culturais do país.

“Uma coisa muito importante a dizer em um evento como este é que devemos falar menos sobre inovação e mais sobre impacto. Vejo todas essas empresas doando muito dinheiro em busca da ideia mais inovadora, mas não vejo esse dinheiro sendo usado para estimular a criatividade. O impacto da identidade é a criatividade. E é daí que vem a inovação. Portanto, quando falamos de Sul Global, precisamos falar sobre identidade e seu impacto”, defendeu Tourinho.

Paula Englert (esq.), Pedro Tourinho e Vanessa Sanches (Crédito: Thaís Coelho/ Fast Company Brasil)

UMA NOVA PERCEPÇÃO DE VALOR

Para Paula, estamos passando por uma mudança na percepção de valor. Pessoas do Brasil e da América Latina são, atualmente, mais orgulhosas e valorizam o que é local, seu idioma e sua cultura. Já no que se refere às empresas, ser apenas globalizado não é algo que naturalmente agrega valor ao nosso negócio, mas sim estar conectado com o que é local.

Então, como se pode traduzir a abordagem de quebra de paradigmas ao olhar países do Sul Global? “É preciso criar um senso comum e traduzir isso dentro da comunidade, criar impacto e algo que seja valioso para a sociedade na qual está inserido”, disse Paula.

Essa percepção de valor é o que vem pautando o movimento para tornar Salvador a Capital Afro. Tourinho conta que, hoje, todos os investimentos feitos em cultura e turismo na cidade baiana são voltados primeiramente para a comunidade negra. “Quando decidimos chamar Salvador de capital afro não poderia ser só um slogan. Temos que colocar dinheiro nisso, temos que falar sobre prosperidade”.

Salvador Capital Afro (Crédito: Matheus Leite/ Divulgação)

Ele explica que o objetivo desse movimento é investir em negócios, artistas e empreendedores afro, para torná-los não apenas sustentáveis, mas lucrativos.  “Nós nos concentramos nisso e acho que o setor privado precisa fazer o mesmo, ele tem tanta responsabilidade quanto o setor público”.

Para a valorização da perspectiva de inovação a partir do Sul Global a aposta de Paula está na relevância. “É preciso saber como você se posiciona no mundo. É preciso saber quais são as coisas que você deseja impactar e, então, criar sua proposta de valor que se destacará dentro desse enorme mercado em que vivemos, no qual tudo é  commodity.”

Para não virar commodity, é preciso conhecer seus valores, sua ética. “A verdade é um atributo muito poderoso, que conecta e emociona mais do que qualquer coisa. Achem de dentro para fora essa relevância. Sejam como vocês são, e não como as pessoas gostariam que vocês fossem.”


SOBRE A AUTORA

Mariana Castro é editora executiva da Fast Company Brasil. saiba mais