Agentes de IA tomam o centro do palco no Web Summit Rio
Com falas de OpenAI, Microsoft, IBM, STF e da startup vencedora do PITCH, evento escancarou a nova realidade: os agentes de IA chegaram, e estão por toda parte

Corredores lotados, pitches simultâneos, startups brasileiras chamando atenção de investidores internacionais. No meio desse movimento ininterrupto, um tema se destacou com força no Web Summit Rio 2025: os agentes de inteligência artificial.
Um agente autônomo de IA é, na verdade, um software de inteligência artificial que funciona sem muita supervisão humana. Ele entende a linguagem natural, define metas para si mesmo, planeja fluxos de trabalho, toma decisões, adapta-se a circunstâncias variáveis e, enquanto faz isso tudo, ainda aprende e se aprimora com as interações.
“Vivemos a era da IA agêntica”, disse Márcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina. “Esses sistemas pensam rápido, antecipam necessidades e já estão se movendo do mundo digital para o físico. Os robôs estão assumindo tarefas que os humanos podem fazer, mas que eles podem executar de forma mais precisa e escalável.”
A fala de Márcio resume bem o clima do Web Summit Rio. Em sua terceira edição, o evento reuniu 34,5 mil participantes, pouco mais do que os 34,3 mil vistos em 2024. No entanto, o número de startups subiu 31% em relação a 2024, chegando a 1.397 empresas, enquanto o número de investidores teve alta de 32%, totalizando 657.
Durante os três dias de programação intensa, foi possível ver negócios sendo fechados entre startups brasileiras e fundos internacionais, reuniões acontecendo no chão dos pavilhões entre uma palestra e outra e muita gente exibindo no peito o nome de suas soluções estampado em camisetas. Quase metade (45%) das empresas fundadas eram lideradas por mulheres.
Investidores de fundos como Kaszek Ventures, Andreessen Horowitz, Kleiner Perkins e Upload Ventures circularam pelos corredores em busca da próxima grande aposta.
TENDÊNCIAS EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A OpenAI aproveitou o primeiro dia do Web Summit Rio para anunciar a chegada de uma funcionalidade bastante aguardada: a integração do ChatGPT com o WhatsApp. A novidade permite que usuários da plataforma, por meio do ecossistema da Meta, façam perguntas diretamente ao assistente e recebam respostas com base em buscas em tempo real na internet.
Até então, as respostas oferecidas pelo ChatGPT no WhatsApp vinham apenas de dados pré-treinados pelo chatbot de IA, sem acesso atualizado à web.
Em sua terceira edição, o evento reuniu 34,5 mil participantes, 1.397 empresas e 657 investidores.
O anúncio foi feito por Nicolas Robinson Andrade, chefe de assuntos globais da OpenAI para a América Latina e Caribe. Em sua apresentação, ele destacou que a expectativa da empresa é de uma adoção cada vez maior de agentes de IA no cotidiano.
“Os custos da API devem cair drasticamente e devemos ver uma adoção de agentes de IA cada vez maior”, afirmou. A ideia é que essas ferramentas se tornem cada vez mais acessíveis, adaptáveis e integradas aos ambientes onde as pessoas já trabalham e se comunicam.
O FUTURO DO TRABALHO NO CENÁRIO DA IA
Os agentes autônomos também vão invadir o mercado de trabalho. De acordo com a presidente da Microsoft Brasil, Priscyla Laham, o líder do futuro terá que gerenciar pessoas e sistemas de IA. “O diretor do futuro vai ser líder de agentes de IA”, diz Priscyla.
E esse futuro não está nada longe. De acordo com o relatório Work Trend Index 2025, da Microsoft, os líderes esperam que suas equipes treinem (41%) e gerenciem (36%) agentes de IA dentro de cinco anos. No Brasil, 43% dos líderes esperam que suas equipes estejam treinando agentes e 39% esperam que estejam gerenciando agentes dentro de cinco anos.
Em sua apresentação no Web Summit Rio, a executiva falou brevemente sobre as adaptações pelas quais as empresas precisarão passar para abraçar a tecnologia autônoma.

Uma delas será relativa a segurança de dados e governança. Afinal, como habilitar o uso de informações por um… robô? Quais dados os agentes podem usar? Como analisar os trabalhadores automatizados? “Não serão conversas fáceis, mas são necessárias”, diz a executiva.
A vice-presidente e diretora global de impacto da IBM, Justina Nixon-Saintil, também tratou sobre o assunto em sua apresentação no palco central. Para ela, habilidades como fluência em IA e letramento em IA serão essenciais para líderes nos próximos anos. Não se trata de saber usar a tecnologia, mas de entender como comandá-la
“No momento, estamos trabalhando lado a lado com a IA. Mas, em pouco tempo, seremos gestores de agentes de IA. Será que temos o conhecimento de como esses sistemas funcionam e de como eles respondem para sermos bons líderes?", questiona Justina.
STARTUPS BRASILEIRAS
Para driblar estes desafios, as startups de IA se esforçam em criar agentes de IA “acessíveis”. É o caso da DigAí, que ganhou o PITCH, competição de startups oficial do Web Summit. A startup brasileira é uma plataforma de agentes de IA para empresas. Os robôs da DigAí respondem a conversas no WhatsApp.
Escolhida entre mais de 1,4 mil startups inscritas, a DigAí venceu a final contra outras duas brasileiras a Biolinker e a Elephan.AI. A Elephan.AI apresentou plataforma que atua como uma espécie de colega inteligente para equipes de vendas.

É uma versão menos automatizada de um agente. Durante chamadas com clientes, o sistema acompanha a conversa em tempo real e sugere falas, respostas e estratégias para manter o negócio no rumo certo.
Já a Biolinker usa inteligência artificial para criar proteínas sem a necessidade de células, uma tecnologia extremamente necessária para fabricação de vacinas e de medicamentos.
O NÓ DA REGULAMENTAÇÃO
Presente também no Web Summit Rio, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso levou para o palco a urgência de se discutir uma regulação para sistemas de inteligência artificial.
Em conversa com o chefe do ITS Rio, Ronaldo Lemos, Barroso destacou a velocidade da transformação digital e os desafios que isso impõe à legislação. “O telefone fixo levou 75 anos para chegar a 100 milhões de usuários. O celular, 16 anos. A internet, sete. O ChatGPT, dois meses”, lembrou.
Barroso explicou que a dificuldade da regulamentação é, exatamente, "lidar com um fenômeno que não temos clareza ao olhar para frente". A regulação não deve tentar prever todos os cenários, mas garantir princípios fundamentais, como transparência, supervisão humana e segurança jurídica.

O ministro também apresentou os sistemas de IA já utilizados no STF, como Victor, que identifica processos com precedentes similares, e Maria, que resume documentos extensos em relatórios objetivos. Segundo ele, a IA não substituirá os juízes, mas se tornará uma ferramenta indispensável para a eficácia da justiça. “Delegam-se atribuições, mas nunca responsabilidades”, afirmou.
Barroso defendeu que as questões mais simples possam, no futuro próximo, ter uma primeira instância decidida por IA, sempre com possibilidade de revisão humana. Mas afirmou ter medo da singularidade – que é o momento em que a IA poderá desenvolver autonomia e vontade própria.
A presença dos agentes de IA se mostrou tão difusa no evento que até criadores de conteúdo foram provocados a refletir sobre o tema. A influenciadora e empreendedora Bianca Andrade, a Boca Rosa, dividiu no palco como tem usado ferramentas de IA no seu dia a dia. "Não uso para a comunicação direta, nem para as estratégias. Isso ainda precisa ser feito por humanos."