Quem quer (ou pode) parar Elon Musk? 

Em meio a críticas e controvérsias, o bilionário continua a expandir seu império; prestes a se afastar do governo americano, o próximo movimento de Musk deve mirar os palanques internacionais, analisam os jornalistas Kate Corgan e Ryan Mac

Elon Musk e seus planos para os palanques globais
Santiago Avila Caro via Unsplash, Indrajitsingh por Pixabay

Camila de Lira 4 minutos de leitura

Nem a queda de ações da Tesla, a redução de audiência do X ou danos à imagem parecem impactar o bilionário de acordo com os autores do livro Limite de Caracteres

Em meio a críticas e controvérsias, Elon Musk continua a expandir seu império. Após anunciar planos para levantar US$ 20 bilhões para sua empresa de inteligência artificial, a xAI​, ele sinaliza que sua influência na política global está longe de diminuir. Para os autores do livro Limite de Caracteres: Como Elon Musk Destruiu o Twitter, Kate Corgan e Ryan Mac, o empresário segue um roteiro próprio, onde os obstáculos são apenas parte do espetáculo.

O bilionário já está num cenário com pouca responsabilização, comentam os jornalistas. Ambos se apresentaram durante a terceira edição do Web Summit Rio, nesta segunda-feira (28) e falaram em entrevista para a Fast Company Brasil

“Elon Musk se tornou `too big to fail. Não há responsabilidade real para ele hoje em dia, nenhuma lei que o coloque em seu lugar", afirmou Mac. Para ele, nem mesmo as perdas de valor da Tesla ou do X de fato “machucam” o executivo sul-africano. 

Embora Musk tenha iniciado sua trajetória política como uma figura de apoio, ele foi indicado para um cargo num departamento “extra” no segundo governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Nessa jogada, acumulou tanto poder que “as próprias instituições responsáveis por fiscalizá-lo perderam parte de sua capacidade de ação”, explica Kate.

ENQUANTO ISSO, NO PLANETA FORA DO X

“Uma das poucas formas reais de responsabilizar Musk e fazer com que ele preste contas tem vindo de fora dos Estados Unidos. Investigações da União Europeia e do Supremo Tribunal Federal do Brasil estão, pelo menos, levantando questões sobre o X”, continua a jornalista. 

Prestes a se afastar do governo dos Estados Unidos (por exigência da lei), o próximo movimento de Musk devem ser os palanques internacionais. 

No X, o executivo elogia abertamente o presidente argentino, Javier Millei e mostra apoio a demonstrações da direita brasileira e da Irlanda. Ele também apoiou o novo primeiro-ministro conservador neozelandês, Christopher Luxon. No começo de 2025, o executivo se apresentou em convenções do partido alemão ultradireita, o Alternativa para a Alemanha (AfD). A AfD tem conexões com grupos neonazistas.  

“Ele descobriu que a política permite causar grande impacto rapidamente. Isso é extremamente atraente para ele", afirma Kate. 

IMPREVISÍVEL? MAIS OU MENOS

Apesar da imagem de imprevisibilidade que o cerca, Elon Musk segue um padrão bastante reconhecível — e, para quem observa de perto, até previsível. Kate Conger e Ryan Mac, que acompanham o executivo há quase 10 anos, apontam que o bilionário aplica sempre o mesmo "manual" em suas ações: movimentos rápidos, cortes agressivos, centralização de decisões e imposição de sua visão pessoal. "Ele realmente só tem um playbook", resume Ryan Mac. 

Conger acrescenta que, mesmo na política, Musk repete o modelo de atuação que usou no comando da Tesla, da SpaceX e do Twitter: "É sempre a mesma dinâmica. Ele toma o controle, provoca mudanças radicais e depois, quando a estrutura já carrega sua marca, ele se afasta."

O que muda, segundo os jornalistas, é o ambiente onde Musk atua. No Twitter, ele era o dono absoluto. No governo, enfrenta tribunais, outros membros do gabinete e normas que limitam seu alcance. Ainda assim, a busca por impacto imediato e o desprezo pelos processos tradicionais continuam a guiar seus movimentos.

Mac lembra ainda que existe uma forma quase óbvia de “antecipar” as ações do bilionário: pelo X. “O feed do Elon Musk no X costuma ser um barômetro para o que ele pensa". Segundo o jornalista, Musk raramente esconde suas intenções. Seus impulsos, seus interesses e até suas mudanças de humor são expostos em tempo real, o que, paradoxalmente, torna o bilionário tão previsível quanto instável.

SINAIS DO VALE DO SILÍCIO

As repetições de Musk são reflexo do poder cultural do Vale do Silício no mindset político mundial.  “Musk incorpora alguns dos valores do Vale do Silício, como a ideia de agir rápido e quebrar coisas, mas leva isso a extremos que poucos ousariam", diz Ryan Mac. 

Além disso, mostra outra faceta complexa de encarar: a tecno-oligarquia. A trajetória de Musk ilustra, segundo Kate Conger, um fenômeno mais amplo: a dificuldade das democracias contemporâneas em lidar com o poder concentrado nas mãos de bilionários.

"Meu mau humor não deveria ditar o rumo da democracia", afirmou a jornalista, reforçando a ideia de que a influência pessoal e as mudanças de humor de figuras como Musk podem ter efeitos desproporcionais sobre sociedades inteiras.

Mesmo com críticas, investigações e resistências pontuais, Elon Musk continua a se mover rápido demais para ser contido. Sua influência, impulsionada por capital, tecnologia e política, escapa das estruturas tradicionais de controle.

Talvez a pergunta mais urgente não seja apenas quem pode pará-lo, mas se as instituições atuais estão preparadas para lidar com figuras como ele.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais