Redefinir o futuro sem resolver o presente?

Crédito: microgen/ Getty Images

Alice Salvo Sosnowski 2 minutos de leitura

O Web Summit é um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo, que reúne startups, investidores, empreendedores, grandes corporações e líderes para debater tendências e “conectar as pessoas e ideias que estão redefinindo o futuro da tecnologia", diz o site oficial.

O evento acontece em cidades como Lisboa, Toronto, Doha, Tóquio e Rio de Janeiro, colocando o Brasil no mapa global da inovação.

Este ano, os temas mais destacados são IA generativa e creator economy,  sustentabilidade e tecnologia climática, fintech e inclusão financeira, mídias sociais e regulamentação de plataformas, diversidade e inclusão na tecnologia, segundo a organização.

À primeira vista, o evento é de encher os olhos. Mais de 30 mil participantes, 1,4 mil startups e 657 investidores de 26 países. Segundo a agência InvestRio, são mais de US$ 200 milhões em acordos assinados, evidenciando números que colocam o Brasil na crista da onda da inovação.

Mas um olhar mais atento foge das informações grandiosas trazidas pela IA e foca nos desafios locais, que vivenciamos na realidade brasileira.

Como falar das inovações das fintechs em um país no qual grande parte da população está criando Pix e contas digitais para fazer apostas online? Não vi discussões sobre essa combinação explosiva da bancarização com as bets, assim como outro tema urgente: o poder das mídias sociais sem a devida regulamentação ou educação digital da população.

Os painéis que acompanhei confirmam a preferência nacional pelas mídias digitais. No entanto, seguimos também líderes no quesito ansiedade e dependência digital.

nos falta olhar para dentro e fazer a lição de casa, um arroz com feijão básico.

Isso sem falar nas lacunas nas pautas de diversidade, inclusão e educação. Nesse abismo social que vivemos no Brasil, o Web Summit deixa a desejar nas discussões e, principalmente, em soluções para resolver nossos desafios mais urgentes.

Em todas as falas dos especialistas que ouvi, a criatividade brasileira é destacada como matéria-prima principal dessa nova economia digital. Mas parece que nos falta olhar para dentro e fazer a lição de casa, um arroz com feijão básico. Falar de inovação e inclusão com a mesma intensidade, investir na tecnologia com educação digital ou fomentar o empreendedorismo com igualdade de oportunidades para todos.

Senão, redefinir o futuro se torna apenas uma retórica bonita para não resolver os desafios do presente.


SOBRE A AUTORA

Alice Salvo Sosnowski é jornalista especializada em empreendedorismo e soft skills, mentora e consultora de negócios. saiba mais