5 tendências em games para 2024

Jogos mais imersivos, crescimento do uso de IA e até a importância de considerar ESG são alguns dos focos do mundo dos games para o ano que vem

Crédito: Freepik

Rafael Farias Teixeira 7 minutos de leitura

Os gamers são um público vasto, cheio de características particulares e comunidades diversas com suas próprias dinâmicas. "Os gamers são de todas as gerações. O universo gamer se tornou mainstream, com muitos nichos e conectado com todas as indústrias", disse Paulo Aguiar, sócio e CCO da 3C Gaming, durante do Innovation Festival 2023. 

E 2024 reserva tendências crescentes, que incluem uso de inteligência artificial, mais imersividade e até uma discussão renovada sobre o papel do ESG. No meio disso tudo, marcas não-endêmicas precisam se apoiar em dados para tomar as melhores decisões sobre como se inserirem nesse espaço.

A Fast Company Brasil conversou com especialistas e analisou pesquisas recentes para listar cinco tendências relevantes para os games em 2024. 

1. Jogos mais imersivos com ajuda de novos periféricos

A imersão está especificamente ligada à criação de experiências multissensoriais além do que o jogo normalmente é capaz de fazer. O ano de 2024 será cheio de lançamentos para melhorar a capacidade de todos os jogadores de mergulhar totalmente nos seus jogos, independentemente do gênero ou preferência de plataforma.

Isso inclui o uso e desenvolvimento de dispositivos para realidade virtual (RV). Segundo Tom Morris, gerente da plataforma de análise de consumo GWI, a tecnologia tem muito potencial em jogos.

Crédito: Apple

"Uma análise do nosso conjunto de dados Consumer Tech revela que, entre os consumidores que possuem um dispositivo de realidade virtual, 60% afirmam que os jogos são a principal razão pela qual o utilizam."

Quando analisamos, porém, como o cenário de periféricos pode continuar a evoluir, é necessário analisar alguns gargalos. "Supondo que a Lei de Moore continuará a aumentar o poder de processamento, alguns limites artificiais que impusemos à nossa tecnologia serão atenuados", explica Ken Loyd, vice-presidente de vendas e marketing para as Américas da fabricante de produtos eletrônicos Razer.

Crédito: Razer

"Atualmente, todos os nossos mouses e teclados mais recentes utilizam sensores ópticos, onde apenas a velocidade da luz é o teto para a rapidez com que o hardware pode receber o sinal." 

Outro grande avanço, segundo ele, será nas tecnologias de fornecimento de energia e carregamento, com grandes melhorias na potência e na portabilidade em uma vasta gama de produtos.

2024 pode ser um ano inovador para RV com a chegada do Vision Pro, da Apple, previsto para ser mais caro do que qualquer dispositivo do gênero no mercado. "Ainda é uma aposta, mas, assim como fez com o smartphone, a Apple pode mudar completamente a forma como as pessoas percebem a realidade virtual", afirma Morris.

2. Crescimento no uso de IA

 A inteligência artificial terá um papel importante ao melhorar a rotina dos usuários, oferecendo recomendações e soluções para o uso de softwares e games.

Além disso, a IA generativa vai ampliar o nível de personalização que os gamers poderão aplicar aos seus jogos. "Isso equivale a uma aparência, sensação e experiência personalizadas para a configuração de jogo que eles podem criar e alterar em poucos instantes", diz Loyd.

Isso afetará também o conteúdo gerado pelo usuário (user-generated content, ou UGC), que é parte fundamental de diferentes jogos e plataformas como Roblox, Fortnite e Minecraft. "O conteúdo gerado pelo usuário e a IA são uma combinação perfeita – até certo ponto", explica Morris.

"É claro que há discussões importantes sobre como os desenvolvedores e as marcas podem usar a IA de forma ética, sem impactar os empregos – sem mencionar a qualidade e a reação a um jogo feito inteiramente com IA. Usada corretamente, entretanto, a IA poderia tornar a criação de conteúdo no jogo (como mods) mais acessível para todos."

Segundo Morris, à medida que as ferramentas de IA melhoram, mais aspirantes a criadores podem mergulhar na criação de conteúdo. "Remover parte do conhecimento técnico ou tarefas mais mundanas do processo poderia até inspirar o público mais jovem a embarcar em carreiras nos jogos."

3. Serviços de assinatura e games nas nuvens

Em teoria, comprar um jogo online era para ser uma experiência agradável e sem fricção. Você pode navegar por milhares de títulos e comprar um jogo instantaneamente, sem precisar sair de casa. Mas, na prática, comprar um jogo online tem seus problemas.

"Em primeiro lugar, o download do jogo pode levar horas", explica Josh Howarth, da plataforma de análise de tendências Exploding Topics. "Em segundo lugar, seu hardware pode não estar à altura, o que pode levar a problemas de desempenho. Ou você pode simplesmente não ter espaço suficiente em seu PC ou console para um novo jogo."

Por isso o interesse por jogos nas nuvens e plataformas de assinatura de games tem crescido tanto. Segundo a Exploding Topics, o interesse em "jogos em nuvem" cresceu 1.900% nos últimos cinco anos.

A inteligência artificial terá um papel importante ao melhorar a rotina dos usuários, oferecendo recomendações e soluções para o uso de softwares e games.

Com o cloud gaming em vez de comprar e baixar um jogo, ele é transmitido em tempo real. Dessa forma, os jogadores podem usar o melhor e mais recente hardware sem precisar investir no equipamento.

Além disso, não há necessidade de baixar nada. Você pode começar a jogar imediatamente. Para os publishers, também é uma forma de monetizar jogos antigos – incluindo os de gerações anteriores de console – anos após seu lançamento.

Já os serviços de assinatura de games cresceram para oferecer diferentes plataformas, mas todas permitem que os jogadores acessem o modo multijogador online, baixem jogos ou aprimorem sua experiência com conteúdo exclusivo, por uma taxa mensal.

Este está rapidamente se tornando o futuro dos jogos. Segundo dados da GWI, o número de jogadores que usam qualquer um dos serviços rastreados pela plataforma cresceu 34% desde o quarto trimestre de 2020.

4. Interesse por diferentes formas de desenvolver e publicar games

Em 2024, mais estúdios vão explorar o self-publishing ou parcerias locais. "Existe uma vontade dos desenvolvedores brasileiros de tentar o self-publishing como forma de aprendizado e de conseguir colocar o jogo no ar sem a necessidade de envolver uma empresa maior", afirma Carolina Caravana, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames).

"Várias publicadoras mudaram seu foco nos últimos anos e têm se arriscado menos. Ao mesmo tempo, novas empresas na área de publicação estão surgindo na tentativa de ser uma opção viável no mercado", complementa.

Com o cloud gaming em vez de comprar e baixar um jogo, ele é transmitido em tempo real.

Segundo a vice-presidente da Abragames, muitas desenvolvedoras estão migrando de engines (motores de jogos) ou tentando novas formas de desenvolvimento para serem mais resilientes ao mercado.

"Além de investimentos da Epic Games no Brasil, mostrando um certo interesse pela região, outras empresas de engines têm vindo aos eventos, ficando mais próximas de estúdios e focando em comunicação e documentação", conta Carolina.

Além disso, ela prevê um aumento nos jogos desenvolvidos no aplicativo Unreal Editor for Fortnite (UEFN), fazendo frente ao Roblox. O próprio Roblox, que combina criação e distribuição de jogos em uma única plataforma, também crescerá em 2024.

Crédito: Roblox Corporation

Segundo a Exploding Topics, aspirantes a desenvolvedores de jogos usarão ainda mais a plataforma Roblox para obter feedback rapidamente e iterar nos seus jogos sua grande base de usuários, ampliando o universo de games indies (independentes).

Por fim, com a contenção de custos de grandes e médias produções de jogos ao redor do mundo, abre-se uma janela de oportunidade para terceirização de parte do processo de se fazer um game, mercado em que o Brasil está bem posicionado.

5. Recuperação de games antigos

Assim como Hollywood, a indústria de jogos está começando a perceber que remakes e reboots vendem bem e, por serem mais familiares ao público do que uma franquia completamente nova, são menos propensos a fracassar.

Os números não mentem: além de Final Fantasy 7 e Crash Bandicoot, os remakes de Resident Evil 2 e 3 venderam bem. Segundo a Exploding Topics, veremos desenvolvedores trabalhando em dobro para criar novas versões de jogos clássicos.

A GWI também acredita que remakes e remasterizações, apesar de não serem novidades, serão uma tendência em 2024. Segundo dados da empresa, entre os consumidores em 12 mercados que sentem nostalgia da mídia, mais de um terço diz que os video- games desencadeiam isso. 

"Não se trata apenas de atualizar jogos para um público mais novo. Sony, Microsoft e Nintendo oferecem serviços de assinatura paga para os jogadores acessarem títulos mais antigos como estavam", afirma Morris. "Isso não apenas ajuda a manter vivas as franquias antigas, mas também testa o que os jogadores procuram nos títulos mais recentes."


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais