Abragames traça o mapa da indústria brasileira de jogos em momento histórico
País é o maior mercado consumidor de games da América Latina e vem se destacando na indústria de desenvolvimento de jogos eletrônicos.
Que a indústria de jogos é uma crescente constante você já deve saber. No entanto, tem ideia do crescimento da indústria nacional de jogos? O Brasil, como em tantos outros segmentos, tem empresas de jogos de qualidade global.
Onde estão essas empresas e profissionais? Quanto o mercado movimenta? Para responder a essas perguntas, a Fast Company Brasil conversou com a Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos) que nos contou tudo sobre sua pesquisa do mercado nacional de jogos e o momento histórico da indústria brasileira de desenvolvimento de games.
De acordo com a Newzoo, somos o maior mercado consumidor de games da América Latina e o 12º do mundo. O Brasil também vem se destacando cada vez mais na indústria de desenvolvimento de jogos eletrônicos. Nos primeiros meses de 2022, grandes resultados foram obtidos durante a GDC (Game Developers Conference), quando os estúdios nacionais geraram US$ 23 milhões em contratos.
Outro momento marcante para nossa história no mercado de games foi registrado no relatório da XDS (External Development Summit), que colocou o Brasil, pelo segundo ano consecutivo, como o principal mercado emergente em iniciativas de desenvolvimento externo (XD).
Entre outras várias iniciativas, a Abragames participa há anos dos principais eventos internacionais do setor, como Gamescom, GDC, XDS e BIG Festival, organizando as comitivas Brazil Games – projeto setorial de exportação realizado pela associação em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil) – e apoiando os desenvolvedores brasileiros.
"É extremamente gratificante acompanhar tantos cases de sucesso nos últimos meses. Certamente vivemos o auge na nossa indústria”, afirma Eliana Russi, diretora internacional da Abragames.
RADIOGRAFIA/ FOTOGRAFIA
O presidente da Abragames, Rodrigo Terra, criou um mapeamento de mercado que serve como uma radiografia da indústria de desenvolvimento de games. A ideia da pesquisa foi ir além dos levantamentos anteriores, que tinham um formato de censo. Desta vez, temos uma fotografia da indústria de games, que mostra o crescimento das empresas nacionais do setor.
Na contramão do cenário anterior, quando as empresas de games e devs nacionais faziam a maior parte de seus trabalhos para ou no exterior, o mapeamento mostra o trabalho feito no mercado brasileiro. O estudo mostra quem são essas empresas, quais ferramentas usam, como contratam, onde estão, se há intenção de expansão, entre outros tópicos. “A ideia é traçar uma radiografia de tudo o que acontece com as empresas de desenvolvimentos de jogos”, conta Rodrigo Terra.
A Abragames também quer que esse seja um trabalho contínuo, anual, diferente de quando ainda era no formato de censo e não havia periodicidade. A meta é transformar esse trabalho em fonte de informações para o público, profissionais da área, estudantes e, principalmente, para a formação de políticas públicas, empresas privadas e marcas.
Esse raio-x do universo de desenvolvimento nacional também pode ser uma fonte de informações para marcas não endêmicas. Afinal, é inegável o crescimento de marcas que se interessam no público gamer nacional. Basta ver movimentações como da Magalu, que adquiriu sites como Jovem Nerd e Canaltech, além de uma loja endêmica do mercado gamer, como a KaBuM!. Isso mostra que algumas marcas estão indo além, passando de parceiras a players efetivos do mercado gamer.
A Pesquisa Nacional da Indústria de Games chama atenção ao mostrar a distribuição geográfica dos estúdios. Por mais que tenhamos um ambiente de produção cada vez mais digitalizado e a presença de estúdios em todos as regiões do país, o Sudeste ainda concentra mais da metade dos desenvolvedores (57%), seguido do Sul (21%), Nordeste (14%), Centro-Oeste (6%) e Norte (3%).
O levantamento também mostra que, das 12.441 pessoas que trabalham no setor, 29,8% são mulheres. Nas pesquisas de 2018 e 2014, elas representavam apenas 20% e 15% da força de trabalho, respectivamente.
O Brasil conta com mais de 4 mil cursos de graduação em jogos digitais ou design de games cadastrados no Ministério da Educação. Apenas 0,27% são oferecidos pelo setor público. Mais de 40% estão na região Sudeste e a estimativa é de que, a cada ano, se formem 3.965 estudantes.
A pesquisa completa está disponível no site da comitiva Brazil Games e Abragames.
SELO BRASILIRO DE QUALIDADE
Em março de 2022, a Oktagon Games – estúdio paranaense especializado em games mobile – abriu a série de grandes negócios com o anúncio da aquisição pela Fortis Games, empresa que pertence ao grupo de resorts e cassinos Las Vegas Sands.
Em abril foi a vez da Room 8 Group, grupo internacional que detém algumas das principais empresas de serviços para jogos no mundo, anunciar a possível compra da PUGA Studios, de Recife, que é referência em projetos de desenvolvimento externo e atua no segmento desde 2017.
Outro grande exemplo desse movimento é a Aquiris Game Studio, de Porto Alegre, criadora do aclamado game brasileiro Horizon Chase. Também em abril, o estúdio recebeu um investimento inédito da Epic Games, criadora do fenômeno global Fortnite, um dos jogos de maior sucesso da atualidade.
“Acredito que esse investimento, assim como outros que foram recentemente anunciados, vão ajudar a atrair a atenção de novos investidores para a qualidade dos nossos estúdios e dos jogos que vêm sendo desenvolvidos tanto no Brasil quanto nos demais países da América Latina”, disse Sandro Manfredini, diretor de negócios da Aquiris.
Por fim, a Rogue Snail, de Minas Gerais, foi mais um estúdio que fechou um grande negócio com uma desenvolvedora estrangeira. Desta vez, com a norte-americana Gearbox Software.
A parceria resultará no lançamento internacional do principal game do estúdio brasileiro, o Relic Hunters Legend – mesmo jogo que chamou atenção da gigante dos streams, Netflix, para seu catálogo de games para assinantes.
“Acreditamos que isso traz um holofote grande para o Brasil e para os estúdios talentosos que temos por aqui. É muito gratificante ver que empresas internacionais estão olhando para nossa indústria de desenvolvimento de jogos com mais atenção e confiança na qualidade dos serviços”, diz Mark Venturelli, CEO da Rogue Snail.
Para Carolina Caravana, vice-presidente da Abragames, destacar esses cases de sucesso é uma forma de incentivar outros estúdios a buscar parcerias externas e se consolidar no mercado global.
“Trabalhamos para que o Brasil possa ser visto pela indústria como um polo de desenvolvimento. Essa é a nossa missão como associação: abrir cada vez mais portas e gerar oportunidades de aproximação entre os estúdios daqui e de qualquer outro mercado”.