Bruno Playhard e o passado, presente e futuro da Loud

Crédito: Fast Company Brasil

Jeancarlos Mota 10 minutos de leitura

Empresário, youtuber e, principalmente, gamer. Bruno Oliveira Bittencourt, mais conhecido como Bruno PlayHard, é um jovem de 27 anos e reconhecido, dentre tantos feitos, por fundar a equipe de esportes eletrônicos Loud, em 2019. No mesmo ano, apareceu na 30 Under 30 da Forbes Brasil. Bruno é considerado um pioneiro dos jogos mobile no Brasil: começou a se destacar com conteúdos de Clash of Titans, depois Clash Royale e hoje é um dos principais nomes do Free Fire.

Ao chamá-lo de jovem, PH logo diz que não está mais tão jovem assim. “Estava agora mesmo com o Turzinho, menino de 15 anos, embaixador do BK (Burger King), gigante nas redes sociais”, comenta. O empresário conta que quando começou a produzir conteúdo para a internet, “quando tudo era mato”,  já trabalhava com redes sociais e sua ideia de gerar conteúdo com jogos era hobbie. 

Bruno revela que a ideia da Loud – um projeto separado do seu canal – veio em 2018. Pode-se dizer que hoje a Loud não é mais um time de esports e sim um conglomerado de ideias e iniciativas, times de esports (sim, no plural), iniciativas de agência de influenciadores digitais e, claro, produção de conteúdo. E como tudo isso surgiu?

“Quando eu produzia conteúdo, acabava fazendo campanhas e promovendo muitos produtos e conheci muita gente. Além disso, sempre organizei bem minha parte comercial”, explica PlayHard. “Sempre gostei de ir além de apenas produzir conteúdo, de também ter relacionamento com publishers, marcas, e uma das pessoas que conheci  é meu sócio na Loud”, conta, referindo-se a Jean Ortega, sócio e co-fundador da Loud.

Enquanto em geral são os jogos que buscam os influenciadores, PH conta que ele mesmo procurou o jogo Vainglory, na empresa onde Jean era responsável pelo marketing, no Vale do Silício. Logo começaram a fazer ações conjuntas. Três vídeos depois, a afinidade era óbvia e, três anos e várias campanhas depois, PH foi  aos EUA, para a E3 (em Los Angeles), e encontrou Jean pessoalmente.

“Lá, conversando, veio a ideia: havia oportunidade para fazer conteúdo no Brasil relacionado a esports, e ele tinha a percepção do que acontecia nos Estados Unidos. Foi quando pensamos em fazer um projeto, montar uma equipe juntos”, conta PH.

Jean saiu da VGPRO.gg, e junto com PH e um amigo em comum, o canadense Matthew Ho,  fundaram a Loud. 

Bruno Oliveira Bittencourt, o PlayHard (Crédito: Arquivo pessoal/ Reprodução) 

A ideia deles era fazer um projeto inspirado em esports, em um modelo diferente, focado em conteúdo e storytelling, que fosse além de apenas competir e ganhar campeonatos. Um hub de conteúdo, que foi encontrando seu equilíbrioao longo dos anos. 

“Lá no início focamos tanto em conteúdo, que descobrimos que não tínhamos como ganhar nada [nos torneios]”, conta PH. “Então começamos a equilibrar: algumas pessoas totalmente focadas em jogos e torneios, outras em conteúdo. Começamos a segmentar, melhorar nosso desempenho, trazer novos talentos, anunciar novos influenciadores, [participação em] novos jogos, e então, ao percebermos onde estava o interesse de nossa audiência, pudemos capitalizá-la de alguma forma”. 

PH revela que, principalmente no início da operação, o Free Fire estava “estourado”: trazia muita repercussão, e quem saísse na frente focando no game, teria retorno. “Fizemos o primeiro projeto que envolvia contar essas histórias – de como era a vida do jogador profissional de Free Fire, como ele assinava seu primeiro contrato, o primeiro campeonato presencial, morar numa casa com outros atletas. Isso ajudou muito a impulsionar tudo no início”, relata.

E não era simples lidar com os atletas e influenciadores no dia a dia, e explicar para os  pais desses jovens que eles teriam que morar em uma Gaming House.

“No início foi bem difícil”, admite PlayHard. “Não era como League of Legends, que todo mundo já sabia como funcionava, há 10 anos com torneios, home offices. Estávamos pegando a galera que estava saindo de uma faculdade ou deixandoempregos tradicionais para ganhar a vida em um jogo de celular pouco conhecido. Tive casos de influenciadora que, quando liguei para a mãe para explicar que a filha moraria na GH e seria o próximo estouro da Loud ouvi, “Tá maluco? Você acha que vou largar minha filha em São Paulo? Quem é você? PlayHard? Você pode ser o que você for, eu não te conheço”, conta. O episódio ocorreu com a mãe da Carolina Voltan, hoje influenciadora da Loud com mais de 2.99 milhões de seguidores no YouTube, 7.4 milhões no Instagram, 6.4 milhões no Tiktok e quase 1 milhão em seu canal da Twitch. Na época, como a mãe dela não topou a mudança da filha, PH  convidou Bárbara Passos, a Loud Babi em seu lugar, hoje outra gigante na Loud, com seus 5.2 milhões de seguidores no YouTube, 9.3 milhões no Instagram, 5.8 milhões no Tiktok e que com 1.3 milhões de seguidores se tornou a maior streamer brasileira na Twitch.

Carolina ‘Voltan’, hoje uma das maiores influenciadoras da Loud, quase ficou de fora do projeto (Crédito: Arquivo pessoal/ Reprodução) 

“Depois de desenvolvermos um trabalho inicial com a Babi, ligamos novamente para a mãe da Voltan, que entendeu como tudo funcionava”, conta PH. E assim, aos  poucos, esse “novo mundo” foi sendo explicado para as pessoas – depois de muito trabalho de conscientização de  pais, marcas e audiência.

Bárbara ‘Loud Babi’ Passos, que se tornou a streamer brasileira com mais seguidores na Twitch (Crédito: Arquivo pessoal/ Reprodução)

PH conta que “foi um trabalho de tijolo por tijolo”.

“Demos sorte quando o projeto começou, pois já tínhamos uma imagem, eu já tinha patrocinadores atrelados ao meu nome. Consegui migrá-los para a Loud, e eles acreditaram na minha palavra. Então já começamos com Fusion e Discord – que no total estão conosco há quatro anos (PH + Loud somados). Cheguei a negociar com a Nimo TV, plataforma de lives, que acreditou na Loud e foi essencial para a solidificação da empresa, pois assinou com todos os nossos influenciadores e com a  Loud como organização”.

Depois disso, a Loud fechou com Itaú, Submarino e Burger King, dentre outras marcas. 

PH conta que o Itaú entrou no mercado com a Hero Base (organização de esports com Flakes Power) e com uma parceria com a Loud. “O Itaú sempre toma as decisões depois de conversar com a Loud,  para saber se está no caminho certo”, diz PH.

Depois de uma curta interrupção para tirar fotos com fãs,  PH contou que hoje a Loud conta com quatro mansões – três em um mesmo condomínio, e uma em um condomínio ao lado,  todas na região da Granja Viana e Cotia, em São Paulo. PH  precisou se mudar da capital paulista para a Granja para  ficar mais próximo de sua organização, que cresceu muito e rapidamente.

Milena ‘Loud Mii’ Esquierdo, foi uma das primeiras influenciadoras da Loud de jogos além do Free Fire (Crédito: Arquivo pessoal/ Reprodução)

Para além do Free Fire, a Loud trouxe influenciadores de outros jogos, começando pela Mii, influenciadora de Fortnite. Milena Esquierdo, a ‘Loud Mii’, acumula 2.5 milhões de seguidores no YouTube, 5.9 milhões no Instagram, 6.7 milhões no TikTok e 737 mil na Twitch. No League of Legends, a primeira pessoa trazida para a Loud foi uma influenciadora que também era do Fortnite, a Thaiga – a mato-grossense Bianca ‘Loud Thaiga’ Lula, jáconhecida na cena de LoL antes de chegar à Loud e que tem quase 1.7 milhões de seguidores no Youtube, 5.4 milhões no Instagram, 8.4 milhões no Tiktok e mais de meio milhão na Twitch.

“Trazíamos a influenciadora, ela construía essa ponte com o público com nossos vídeos e nossos conteúdos e ajudava a mostrar nossa cena competitiva ao público, onde temos jogadores profissionais individuais e, no caso do League,  aplicamos nosso time no sistema de franquias do CBLoL. E deu certo. Vimos isso como uma oportunidade de estar presentes em mais áreas que o público jovem acompanha, sem contar que o público que joga Free Fire não é necessariamente o que joga League of Legends. São sempre públicos diferentes, o que foi importante para nos posicionarmos  junto a esses diferentes públicos. Não queríamos ser apenas um time de Free Fire. Usamos nossa fórmula de sucesso no Free Fire em outros mercados e deu certo”, conta PH.  

Bianca Lula, a ‘Loud Thaiga’ já era uma figura forte dos cenários de LoL e Fortnite antes de aceitar ir para a Loud (Crédito: Arquivo pessoal/ Reprodução)

PH diz que, apesar de todo o crescimento, ainda há muito a fazer.   Hoje a Loud tem mulheres no centro de campanhas e conteúdos,tem criadores de conteúdo negros que fazem parte da organização e participam de projetos importantes e necessários – como o Fundo Vozes Negras do YouTube, iniciativa mundial lançada pelo YouTube em 2020 para incentivar a representatividade de criadores de conteúdo e artistas negros na plataforma, através de recursos destinados aos canais, que deve destinar em torno de US$ 100 milhões para produção de vídeos.

“Meninos e meninas querem se sentir representados e queremos fazer parte disso. Quando o cenário de LoL começou, não tínhamos meninas que recebiam PCs gamers de marcas ou dos pais para produzir conteúdo e melhorar sua habilidade do jogo, era um mercado centrado em meninos. Então, quando tentamos forçar essas barreiras, como quando a Liz jogou no CBLoL Academy (segunda divisão do League of Legends profissional no Brasil), fomos um dos poucos times com uma mulher no campeonato. É importante alimentar esse tipo de iniciativa.  No Free Fire  temos diversas classes sociais representadas e também o maior público feminino – por ser mobile, uma plataforma mais acessível, onde muitos podem treinar suas habilidades no jogo“, diz PH. 

PlayHard diz que pretende manter os projetos beneficentes voltados para as comunidades que foram importantes para o crescimento da Loud com o Free Fire no início – projetos como o Taça das Favelas, em conjunto com o Itaú. Outro projeto leva para dentro das comunidades carentes 15 chips de celular com internet – abrindo caminho para informação, estudo e, claro,  acesso aos jogos para quem quer treinar.

“A Loud também se mobilizou para arrecadar mais de 100 mil reais em cestas básicas para famílias carentes no final do ano. São coisas que fazemos internamente, sem divulgação, porque é certo. Nosso sócio, o Jean, veio da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, é um cara que não estudou, teve uma chance de se mudar para os EUA cedo, aproveitou o ensino médio gratuito por lá, se virou para aprender inglês e não fez faculdade”, conta.

A mansão de cinco andares do time de  Free Fire da Loud (Crédito: Loud / Divulgação) 

Para o futuro, PlayHard pretende criar uma plataforma própria de tecnologia para seguir gerando valor para os fãs e trazer para seu próprio ecossistema o público que hoje navega na Twitch, no YouTube, no TikTok.

“Como construir algo que tenha a cara desse público, e que ainda não foi feito? Alguns dos projetos em que estamos trabalhando incluem um marketplace de NFTs, com  tecnologia de Blockchain, algo que acreditamos que pode mudar nos próximos anos, além do nosso ‘metaverso’  no Cidade Alta, servidor de GTA. Um exemplo de NFT que criamos foram os carros de GTA, onde a pessoa compra o carro e pode revender depois se quiser, lucrar com isso ou até gerar conteúdo com esse asset digital. Queremos gerar ativos, tanto gratuitos quanto pagos, que vão gerar valor dentro do nosso ecossistema. Pode ser um ‘Passe VIP’ do Submarino, onde ele terá benefícios exclusivos de membro, pode ser um token digital, que o cara vai conseguir na BGS 2022 (Brazil Game Show, maior evento de Games da América Latina) para poder curtir o evento com a genteÉ aí que está um pouco do futuro”, revela.

PlayHard avisa que isso não muda as atuais iniciativas da Loud, como melhorar ainda mais os times de esports e brigar por títulos, entrar em mais esports, anunciar mais influenciadores, focar em lives como as do Coringa (2.8 milhões de seguidores) e do Gabepeixe na Twitch (mais de meio milhões de seguidores).

” Tem muita coisa vindo em 2022”, avisa PH. 

Nós estaremos de olho. Well played, PlayHard.


SOBRE O AUTOR

Jeancarlos Mota é co-publisher de games da Fast Company Brasil, editor-chefe do IGN Brasil e apaixonado por games e esportes. saiba mais